De mão em mão, o senador Davi Alcolumbre (DEM-AP) entregava as chaves de 20 caminhões coletores de lixo a prefeitos de municípios do Amapá, na última quinta-feira (10). Em clima de festa e pré-campanha, posava para fotos e prometia um “novo rumo” para o Estado. Uma faixa estendida na tenda onde ocorria a cerimônia trazia, em letras garrafais, o nome do parlamentar ao lado do slogan da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf): “É emenda do Alcolumbre”.
A cena foi postada pelo senador em uma rede social. Em busca de um novo mandato, ele intensificou a agenda no Estado e tem usado um instrumento poderoso para estreitar ainda mais a relação com os políticos locais: o orçamento secreto.
Na rodada mais recente de benesses, Alcolumbre anunciou R$ 68 milhões para 12 prefeitos aliados. Do montante, R$ 8 milhões se materializaram nos 20 veículos já entregues, enquanto R$ 60 milhões estão reservados para a reforma de uma rodovia.
A verba para a compra de equipamentos e obras diversas é apadrinhada pelo parlamentar e destinada aos municípios por um aliado dele, Hilton Rogério Maia Cardoso, superintendente no Amapá da Codevasf – a unidade local foi inaugurada há dez dias.
Alcolumbre tentará um novo mandato de oito anos enquanto lida com o desgaste de ter protelado, no ano passado, a sabatina de André Mendonça, indicado por Bolsonaro e posteriormente aprovado pelo Senado para a vaga de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). Pastores ligados ao governo, como Silas Malafaia, afirmaram reiteradamente que farão campanha contra o parlamentar, que desagradou o segmento evangélico ao atrasar o processo de indicação à Corte – Mendonça tinha o apoio do grupo para o posto.
Além disso, ainda pesa contra Davi a investigação sobre a “rachadinha” que está na Procuradoria-Geral da República (PGR), nas mãos da procuradora Lindora Araújo. O caso está na fase de instrução que inclui diligências e tomada de depoimentos das pobres mulheres da periferia de Brasília recrutadas para que aceitassem ser contratadas para “trabalhar” por salários de até R$ 14 mil mensais, desde que devolvessem 90% do valor.
Na denúncia, as mulheres afirmam que o esquema envolveria seis funcionárias e pelo menos R$ 2 milhões movimentados. Davi Alcolumbre tratou de culpar Paulo Boudens, ex-chefe de gabinete do senador, mas apesar de acusá-lo o mantém como assessor.
As suspeitas envolvendo o esquema começaram depois que a revista Veja publicou, em novembro do ano passado, texto afirmando que ao menos 6 mulheres seriam funcionárias fantasmas do congressista. De acordo com o texto, elas teriam recebido salários sem trabalhar oficialmente.