No caso do projeto de lei que limita em 17% a alíquota do ICMS cobrado sobre combustíveis, energia e transporte coletivo, o presidente acordou, por intermédio de suas lideranças, que compensaria os estados, mas, na hora H, vetou os dispositivos que tratavam da matéria. Os parlamentares que tudo fizeram em tempo recorde, ancorados na cláusula de compensação das perdas, se sentiram lesados e tachados de otários pelo presidente fanfarrão. O jogo político é dinâmico e surpreendente, o presidente brincou com todos os parlamentares, aliados e desafetos, numa demonstração inequívoca de que não honra a faixa de presidente. Uma pena!
Os valores éticos, diz-se comumente, são as bengalas que guiam o comportamento humano, de suma importância para manter o sadio convívio social. Quando um presidente se desborda do valor ético de honrar a palavra sua governança está ameaçada e entra em deriva, porque isso impacta todo o contexto da famosa governabilidade. Nenhum governante triunfa com blefes engendrados dentro das instituições, sobretudo nos modelos democráticos onde há sempre a possibilidade de sindicância dos atos dos dirigentes. É essa a lição orientadora que salta da obra monumental de Maquiavel, O Príncipe, no que diz respeito ao valor ético da palavra do monarca de acordo com a situação enfrentada.
O presidente Bolsonaro, mais de uma vez, já disse que não tem vocação para ser dirigente de um país. Seu dia a dia, todavia, revela não só um despreparado para o exercício do poder, mas um homem desprovido de qualquer valor ético sublime que possa trazer alvissaras para os governados, podendo conduzir o país para um fim trágico, colocando em risco a almejada democracia, obra do sacrifício histórico do povo brasileiro. Há de se reconhecer, contudo, que o presidente traga com refinado gesto a lição de Maquiavel que diz que “a soberania se conquista através da astúcia e da traição e conserva-se através da mentira e do homicídio”. Que Deus nos socorra!