A competitiva e cruel indústria da moda é frequentemente explorada em filmes. Entretanto, me atrevo a dizer que nenhum fez isso de maneira tão mordaz quanto o clássico ‘’O Diabo Veste Prada’’. Meryl Streep, na pele da feroz Miranda Priestly, é um retrato cheio de nuances de uma mulher que sente que precisa se impor a todo momento para ser respeitada. Enquanto Andy (Anne Hathaway) precisa se submeter a uma carreira degradante e exaustiva que, segundo a própria Miranda, ‘’Muitas garotas se matariam para ter’’.
Mesmo 15 anos após o seu lançamento, o filme mantém-se um clássico consagrado, não só por sua abordagem cirúrgica dos bastidores abusivos e exploratórios de revistas de moda e afins, como também pela complexidade de suas personagens, cada qual repleta de camadas emocionais que, mesmo hoje, tornam difícil dizer quem é o mocinho e o vilão da história.
Miranda é uma chefe abusiva, mas carregada de dramas pessoais. Andy é determinada, mas vai perdendo a própria essência ao passo que sua carreira evolui. Nate (Adrian Grenier) até tenta ser um bom namorado, mas sente extremamente incomodado com o sucesso de Andy. Olhando de maneira anacrônica, por cima, as respostas podem parecer muito fáceis, mas e através da perspectiva da época? O que o filme realmente quis mostrar ao público em meados de 2006?
Bom, a excelência dos clássicos se dá justamente pelo fato de eles serem atemporais, e grandes filmes só sobrevivem à primazia do tempo através da qualidade do que propõem, e nada disso teria tanta graça se a arte não fosse subjetiva, aberta a diversas interpretações. Nesse caso, ‘’O Diabo Veste Prada’’ é o tipo de filme para ser visto e revisto, com interpretações novas de tempos em tempos.
Uma Beleza Fantástica (Amazon Prime Video)
Provando que a simplicidade, quando bem trabalhada, pode ser encantadora. Com um ar fantástico, cenografia repleta de cores e personagens vívidas, a direção impecável de Simon Aboud concebe ‘’Uma Beleza Fantástica’’. Um conto de fadas contemporâneo sobre literatura, amizade, amor, transformação e a vida em si.
A narrativa segue Bella Brown (Jessica Brown Findlay), uma jovem órfã, solitária, amante de livros e cheia de manias, que sonha em escrever livros infantis. Vizinha de porta do ranzinza Alfie Stephenson (Tom Wilkinson), os dois, a princípio, não têm nada em comum, mas através do amor pelos livros e eventualidades da vida, uma amizade singular nasce entre eles.
A construção e desenvolvimento das personagens é completa e cheia de amadurecimento, e mesmo com o tom fantasioso da história, não deixa de ser crível. O roteiro é simples, mas extremamente assertivo, transbordando, a cada fala, a essência das personagens e da narrativa em si. Minimalista, porém não medíocre, Simon Aboud cria as circunstâncias perfeitas para o nascimento de uma verdadeira amizade, a descoberta de um primeiro amor e o tão difícil e dolorido processo criativo da escrita, dentro de um contexto leve, que ao invés de pesar, aquece o coração.
Iventivo, cheio de magia e paixão pela vida, o filme é um deleite aos olhos e emoções, e se faz envolvente desde o começo até os últimos minutos, com o ar de respiro e fábula dos livros infantis que se lia quando criança.