As belas e esperadas disputas política pós-ditatura travadas por quadros destacados de sólidos partidos políticos é uma vaga lembrança para o brasileiro. FHC, Covas, Brizola, Ulysses e Lula fizeram da disputa política um recesso de debates qualificados, onde o eleitor tinha consciência de que sua escolha derivava para um Brasil sonhado. Hoje não há sequer esperança de um debate televisivo em que dois contendores irão se digladiar debruçados em propostas de governo. Há uma clara propensão da direita em desviar o debate para as mais repudiáveis ofensas pessoais, sem que o eleitor tenha o seu sagrado direito de conhecer as propostas dos candidatos respeitado, porquanto há uma enxurrada de ofensas, construída com sangue nos olhos, meticulosamente, pelos gabinetes do ódio.
Segundo o pesquisador da Universidade Federal da Bahia, Albino Rubim, em primoroso artigo intitulado “Ódio e Política no Brasil Atual”, O núcleo central da fabricação do ódio foi a grande mídia, que de modo quase unânime, buscou inocular o veneno cotidiano na população brasileira. A revista Veja, que em outros momentos primou pelo jornalismo de qualidade, se transformou em um panfleto semanal regado à sangue. Sua emblemática capa com a cabeça de Lula banhada em sangue sintetiza o “jornalismo de campanha”, na expressão utilizada por Emiliano José, que tomou conta e corrompeu a revista. A Rede Globo, por meio de sua potente audiência, junto com o SBT, a Record, a Band, o Estado de São Paulo, a Folha de São Paulo, O Globo, a revista Época, a Isto é, a rádio Jovem Pan e muitos outros órgãos da dita grande imprensa, participaram ativamente da campanha de produção do ódio à esquerda e, em especial, aos petistas e suas lideranças.”
O eleitor brasileiro consciente tem o desafio de nessa eleição se comprometer com os valores democráticos e repudiar o ódio como instrumento de persuasão política. Porque – como diz Albino Rubim – “O ódio contaminou e polarizou a sociedade brasileira como nunca. A convivência com a diversidade política até ali muitas vezes possível no seio das famílias entrou colapso. O nível de radicalização tornou inviável a convivência. O ódio dilacerou a civilidade e os episódios de brutalidade e violência, física e simbólica, embriagaram o ambiente político, degradando ainda mais a débil democracia brasileira, já intensamente fragilizada desde o golpe de 2016.” O discurso do ódio, lamentavelmente, invadiu as famílias, as escolas, as igrejas e as empresas, deixando um cenário sombrio, restando a esperança que o nosso amado Deus, na concepção descrita por Spinoza, nos salve dessa tragédia pela resistência. Senão, como dizia Camus, “o inferno é um favor especial reservado àqueles que pediram por ele insistentemente”.