Sempre gostei do proibido e me achei na canção do Roberto Carlos solando lindos acordes na minha guitarra quando este musicou em versos que tudo que eu gosto é ilegal, imoral ou engorda (rss).
Ainda adolescente fui ao êxtase (em todos os sentidos rss) quando li Eça de Queiroz, um dos maiores escritores da língua portuguesa (ao lado de Machado de Assis) na sua obra O Crime do Padre Amaro.
Nesse romance, um novo pároco chega à cidade e passa a frequentar a casa de Amélia nutrindo uma paixão que não pode ser consumada devido à batina. A solução encontrada foi o encontro às escondidas. Esse caso resulta numa gravidez inesperada, que é a causa da morte de Amélia. Após sua morte, Amaro vai embora da cidade, mas não abandona a batina. Ufa! O clero quis o pescoço do Eça.
Nem conto a vocês quando li A Carne, fenomenal obra de Julio Ribeiro, um dos mais polêmicos escritores brasileiros, abolicionista e anticlerical.
A Carne foi publicada em 1888 e é a sua obra-prima. Narra a ardente paixão entre a jovem Lenita e o engenheiro de meia-idade Manuel, filho do coronel Barbosa.
O escritor Júlio Ribeiro causou escândalo porque foi um romance que abordou temas até então ignorados ou proibidos na literatura, como divórcio, amor livre e o novo papel da mulher na sociedade.
Enfim, causou celeuma porque encarou a sexualidade humana, um tabu na época. Os jovens de então foram proibidos de ler a obra e conseguiam um exemplar apenas escondido. Ao mesmo tempo foi um enorme sucesso. A sociedade considerada hipócrita naqueles idos chocou-se por ele abordar temas como o desejo sexual, perversões, nudez e sexo.
Mais de um século depois, vou contar uma história que se repete ao longo do tempo: o amor proibido envolvendo dogmas eclesiásticos. Estou tranquilo em escrever porque a excomungação e as fogueiras são reminiscências históricas de uma época que o clero fazia parte do poder e apitava alguma coisa (rss).
Uma amiga minha me contou (não falo o nome nem que me eu vire churrasquinho) da sua tia, uma carola muito recatada, tão cheia de pudores que ninguém podia falar nada que fosse considerado ousado, pois ela se comportava avessa a tais comentários, ficando vermelha e às vezes contrariada. Levava a mão em forma de concha à boquinha e prendia respiração.
Era uma senhora acima de qualquer suspeita, muito carola, vivia todos os dias dentro da igreja, “full time”, se preocupando e se ocupando absolutamente de tudo que dissesse respeito à igreja…
Aportou pelas bandas daqui das terras de pindorama um padre italiano, cujos olhos azuis reluziam. A voz de veludo e os modos singelos, educados e corteses cativaram aquela jovem. Mas ela, fiel aos princípios, continha dentro de si todos os desejos e paixão que brotavam no fundo do coração quando via ou ouvia o padre.
E este, por sua feita, fazia valer os votos de castidade e celibato. Mas quando fitava aqueles olhos verdes, os cabelos longos negros como a asa da graúna (perdão aí, José de Alencar, pelo plágio de Iracema) da carola, seu coração parecia pular pela boca e a batina tufava misteriosamente pelo lado debaixo do equador.
Certa noite após a missa com a igreja vazia, a carola a título de ajudar levar os paramentos e outros objetos do culto para a sacristia, subiu ao altar. O Padre quando a viu, ficou paralisado. Os lábios com meio sorriso maroto o enfeitiçaram. A jovem moça então roçou com a ponta dos dedos de unhas longas e bem feitas a barba rala do padre, enquanto apalpava aquele volume que se fazia sob a batina. Ajoelhou-se como se fosse pagar uma prece e levantou a batina do padre, mas não foi necessariamente uma prece que ela rezou.
O padre, ainda virgem, simplesmente delirava com aquela boca quente e sedosa, com aquele carinho que ia e vinha, vinha e ia, ia e vinha…. um ir e vir infindável…
Ela também, inexperiente no amor, era a primeira vez que tinha um contato imediato de 1º grau com o sexo oposto. E ambos se entregaram, ali mesmo sob o altar, sofregamente, um devorando o outro insaciadamente, maculando as vestes brancas de ambos com o sangue da virgindade que jorrava um do outro.
Depois, envergonhados de si mesmos, cada um foi para o seu canto e ajoelhados ao lado da cama rogavam perdão pelo pecado da carne que se abateu sobre eles.
Mas o amor vence os dogmas, vence a religião, vence tudo e a todos. E o padre e a carola viveram intensamente aquele amor proibido, sempre às escondidas, na calada da noite… era amor para a eternidade…
Entretanto a carola, moça cobiçada pela boa educação, pela beleza e o corpo escultural, sentia-se na obrigação de dar satisfação à sociedade. Por isso, aceitou dar a mão a um jovem também de boa índole, coroinha da igreja desde menino, depois diácono fervoroso.
Casaram-se, tiveram filhos de olhos azuis e viviam aparentemente bem segundo os ditames sociais.
Até que um dia, depois de 12 anos de tal “religiosa dedicação” de ambos à igreja, o marido ao abrir uma bíblia descobriu varias cartas de amor ardente do padre para sua esposa. E ao vasculhar as coisas da mulher, encontrou os rabiscos dela em seu diário de declaração a esse amor correspondido…
Após pedir a separação, o marido corno expôs detalhes das aventuras proibidas e íntimas dessa relação, detalhes que até os dias de hoje são considerados pesados e capazes de ruborizar o Marquês de Sade na sua cova.
Tal situação à época causou uma proporção tão grande de vergonha para a cidade, que o padre foi expulso da paróquia e teve que retornar à Itália diante do escândalo sem tamanho…
E o padre foi. Deixou a batina, mas levou consigo a carola e os filhos juntos.
E hoje vivem felizes na região da Toscana, recebendo turistas do mundo todo na TABERNA SAPORE BRAZILIANO, produzindo um famoso vinho que o casal batizou de SAPORE DEL PECCATO.
l’amore è bello… Arrivederci!