Cecília Meireles, faz algumas décadas, escrevia, eu lia, em seu Cântico VI, “Tu tens um medo: Acabar. Não vês que acabas todo o dia”.
Ao longo dos dias são constantes as situações de “última vez”. A última vez de um abraço em alguém que se afasta, a última vez de mergulhar no sorriso de alguém que é engolido por circunstâncias que não nos pertencem, a última vez de uma conversa amiga, verdadeira e cúmplice com aquela pessoa querida antes que, não obstante o bem-querer, ela seja absorvida nas névoas dos descaminhos…
Afinal o que nos move? Será o medo?
O medo de acabar e encontrarmo-nos diante de: o último pão, o último centavo ou milhão, a última missa, a última viagem, a última amiga (o), o último nascer do Sol e florescer dos girassóis.
Enfim, todos os encontros se tecem em desencontros e os medos são os fios sabotadores, sua urdidura desconfigura a tecitura, provocam rasuras ou laçadas caídas. Até que um dia, assim como Cecília Meireles, o fez com sua sensibilidade poética, possamos, nós, perceber que: “morrerás por idades imensas. Até não ter medo de morrer. E então será eterno”.
Será, então, o medo morte prematura de sentimentos, vivências e aventuras?