Confesso que gostaria que o treinador Tite me desapontasse. Sempre insisti na tese de que Tite é um profissional ruim que deu certo, ou melhor, que teve bons resultados, ganhou um bom dinheiro e com isso convenceu a cúpula da CBF a tê-lo como o quadro que poderia reconduzir o Brasil ao título. Para quem não sabe, no futebol existe uma instituição chamada “panela”, eficiente para frustrar qualquer projeto esportivo e desestruturar qualquer equipe, mas que, de vez em quando, passa um bom tempo produzindo bons resultados. Tite nadou de braçada na “panela” futebolística, mas já se cogitava que chegaria o dia em que ela explodiria. A bomba foi detonada nessa Copa. A gestão ruim de Tite ruiu diante de nossos olhos e produziu o resultado previsto: o Brasil vergonhosamente fora do sonho do hexa, perdendo para uma equipe modesta.
O brasileiro tem a mania de achar que, em qualquer segmento, quadros reconhecidamente ruins podem produzir bons resultados, desde que tenha boa vontade e um razoável argumento. Na política, por exemplo, o presidente derrotado chegou a afirmar que nada sabia de gestão e economia, mas que faria um Brasil diferente com um bom governo. O povo acreditou na bazófia e o elegeu. No governo, formou um time ruim e governou. O resultado é esse que está aí, com um país que pede socorro para ser reconstruído. Há de se perguntar, como acreditar que alguém que é zerado em gestão pode fazer uma boa gestão? No futebol é a mesma coisa.
Embora Tite não seja um zerado no futebol, todos sabem, mas sempre pautou sua vida profissional por fazer confrarias nos clubes onde passou, ignorando os novos conceitos e metodologias do futebol, onde se prestigia o profissionalismo e a alta performance. Já se foi o tempo em que o futebol agasalhava a ideia de que era possível conseguir resultados extraordinários dando chance a atletas que já não atuam com alto rendimento. Desse elenco escolhido por Tite tem uma dúzia de jogadores que já não figuraria na lista de qualquer treinador moderno por seus péssimos indicadores. Tite, no entanto, acha que Daniel Alves, por exemplo, por sua biografia, deveria compor sua seleção.
O escritor Amit Goswami em seu livro “O universo autoconsciente” afirma, com sabedoria invulgar, ao propor um novo para paradigma para a ciência, que esta, hodiernamente, reconhece uma ideia antiga de que a consciência, e não a matéria, é o substrato de tudo que existe. No futebol brasileiro é preciso criar um novo paradigma que passa pela construção de uma inovadora consciência coletiva fletida para a necessidade de alinhar nossas ações com aquilo que, de fato, produz bons resultados como fizeram os países europeus. Ter excelentes jogadores, por si só, no futebol, não assegura o atingimento do propósito almejado. É preciso construir uma nova consciência capaz de revirar e enterrar velhos conceitos. Que comece por Tite, sujeito de um processo ruim que, lamentavelmente, produziu o resultado previsto.
O resultado previsto
