Quer me ver alegre, presenteia-me com uma expressão ou explosão desse conteúdo apoteótico feito com maestria em uma palavra, uma linha, uma página… Não importa seja ele feito por um matuto pensante, normalmente breve e muito bem-humorado, ou por um acadêmico renomado, ou pela visão ainda não obstruída de uma criança…
Nesta semana não finda, neste junho iniciante, neste outono a emergir no inverno que se aproxima, houve um fato, um dito vibrante, como a tempos não se via. Aconteceu em Brasília. Justo na capital do obscurantismo, eis que uma luz brilha. Inesperado diria. Na CPI dos Sem Terra, a Terra encontra alguém fora da curva sacudindo a poeira das paralelas constantes de visões limitantes.
O professor José Geraldo de Souza (UnB) ao rebater a fala de uma deputada de SC disse que não poderia discutir com a dita cuja pois ela “só enxerga aquilo que já tem escrito em sua cognição”. Ou em mais extensa harmonia de sons e solfejos, ” A senhora vai ver não o que existe, mas o que a senhora recorta da realidade”.
Imagino o desconcerto desta polifonia de ruptura a entoar na Câmara de partituras dissonantes. Faz algum tempo que estou debruçada sobre essa inquietante questão – as pessoas vivem na mesma casa, na mesma rua, no mesmo país, mas elas vivem em mundos paralelos. Não percebem a realidade do próximo. Ou, como explicou o professor mencionado, não veem os fatos que estão fora de sua “cosmovisão”. Até deixam de ser fatos em suas concepções.
É uma canção para meus ouvidos, não apenas a música do Belchior – Paralelas –, encanta-me saber que há quem tenha subido na mais alta montanha, saído dos vales e sombras e declarado, no caso o professor, ” Eu tenho a intenção de estabelecer aquilo que é nossa luta histórica de ter um Parlamento onde as diferentes concepções de mundo possam ser debatidas”.
Não sei se sou mais louca ou desvairada, talvez apaixonada pela vida, pois a minha esperança é de que isso aconteça não só no Parlamento, mas nos lares, estádios, entre amigos, nas ruas e bares, nas redes e altares. Ainda há esperança!