A Polícia Civil analisa vídeos que circulam na internet e filmagens de câmeras de segurança para tentar identificar os palmeirenses ligados à torcida organizada Mancha Alviverde que participaram do ataque aos ônibus dos torcedores cruzeirenses da Máfia Azul.
A emboscada ocorreu na madrugada do domingo (27) na Rodovia Fernão Dias, em Mairiporã, Grande São Paulo. Um torcedor do Cruzeiro morreu e outros 17 cruzeirenses ficaram feridos após serem agredidos. Dois ônibus que levavam a torcida organizada para Minas Gerais foram depredados: um veículo acabou incendiado e outro teve os vidros quebrados.
Nenhum torcedor do Palmeiras havia sido identificado ou detido pela polícia até a última atualização desta reportagem.
O caso foi registrado na Delegacia de Mairiporã como homicídio, incêndio, associação criminosa, lesão corporal e tumulto com violência _este no âmbito da Lei Geral do Esporte.
Por envolver torcidas organizadas ligadas a clubes de futebol, a investigação será feita pelo Departamento de Operações Policiais Estratégicas (Dope), na capital paulista. Uma equipe especializada de policiais investiga crimes de intolerância entre torcedores.
O que dizem torcidas e clubes
Em suas páginas oficiais na internet, a direção da Mancha Alviverde negou que tenha organizado, participado ou incentivado qualquer ação relacionada a emboscada contra os cruzeirenses. E que não se responsabiliza por ações isoladas de palmeirenses envolvidos no ataque. A torcida informou ainda que lamenta profundamente o que ocorreu e que repudia com “veemência” a violência.
Procurada pela equipe de reportagem para comentar o assunto, a direção da torcida Máfia Azul não quis se manifestar.
O Palmeiras informou por meio de nota enviada à TV Globo que repudia as cenas de violência do final de semana envolvendo torcedores do clube contra a torcida do Cruzeiro. E defendeu uma punição rigorosa para os criminosos.
O Cruzeiro também se manifestou informando por sua rede social que “lamenta profundamente” mais um episódio de violência. E que é preciso dar um basta a atos criminosos.
‘Facções criminosas’, diz MP
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José Victor morreu após emboscada da torcida do Palmeiras contra a do Cruzeiro — Foto: Reprodução/facebook
O Ministério Público (MP) acompanha as investigações da polícia. O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) da Promotoria vai apurar o envolvimento de torcidas que agem como “facções criminosas”.
Filmagens feitas pelos próprios palmeirenses viralizaram nas redes sociais. Eles mostram como eles atacaram cruzeirenses.
O cruzeirense morto é José Victor Miranda, torcedor da Máfia Azul,. Ele tinha 30 anos e, segundo seus parentes informaram à reportagem, a vítima estava dentro de um ônibus que foi incendiado e acabou sofrendo queimaduras fatais. Um laudo pericial da polícia irá apontar oficialmente a causa da morte. O exame ainda não ficou pronto.
Catorze dos cruzeirenses feridos foram socorridos por ambulâncias e levados para o Hospital Anjo Gabriel, em Mairiporã.
Outros três torcedores do Cruzeiro seguiram para um hospital em Franco da Rocha, município vizinho. Nesta segunda-feira (28), uma das vítimas continuava internada; outras duas tiveram alta médica.
Briga de 2022 pode ter motivado emboscada
A polícia também investiga qual foi a motivação para o ataque do torcedores do Palmeiras contra os do Cruzeiro. Foram apreendidas 12 barras de ferro, dois pedaços de madeira, cinco rojões e duas bolas de sinuca. Os palmeirenses também usaram “miguelitos”, que são pregos retorcidos, para furar os pneus dos ônibus dos cruzeirenses e obrigá-los a parar na estrada.
Uma das hipóteses investigadas é se os palmeirenses quiseram se vingar dos cruzeirenses por causa de uma briga ocorrida em 29 de setembro de 2022. À época, integrantes da Máfia Azul atacaram membros da Mancha Alviverde. O confronto deixou quatro pessoas baleadas e outras dez feridas num pedágio numa rodovia em Carmópolis de Minas, no Centro-Oeste de Minas Gerais.
À época, um vídeo compartilhado na internet mostrou um palmeirense caído no asfalto enquanto era agredido. Era possível ouvir os agressores dizendo: “A Mancha perdeu, não bate mais não, não bate mais não” (veja acima).
Rivalidade de 30 anos, diz jornalista
Rivalidade entre as torcidas de Palmeiras e Cruzeiro é antiga; neste domingo, uma pessoa morreu e 17 ficaram feridas num confronto entre organizadas dos dois times
Segundo o jornalista Adriano Wilkson, autor do podcast Sobre Meninos e Porcos, a rivalidade entre a Mancha Alviverde e a Máfia Azul tem mais de 30 anos. Ele deu entrevista nesta segunda-feira ao SP1.
De acordo com o pesquisador, ela surgiu em 1988, quando um diretor da Mancha foi assassinado em frente ao estádio do Palmeiras. Nenhum suspeito pelo crime foi preso pela polícia. A torcida então quis homenagear a vítima levando cartazes para um jogo. A Máfia estava no estádio em São Paulo e zombou, gerando uma briga generalizada nas arquibancadas.
“A Mancha nunca perdoou a Máfia Azul por ter cantado esses cânticos ofensivos”, disse Adriano à TV Globo. “A partir daí, nasce uma das rivalidades mais violentas entre as torcidas organizadas”.
De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), o confronto mais recente entre Mancha Alviverde e Máfia Azul ocorrido neste último domingo aconteceu por volta das 5h20, no km 65 da via, sentido Belo Horizonte.
Segundo a PRF, os palmeirenses tinham acompanhado o empate por 2 a 2 entre o Palmeiras e o Fortaleza, no sábado (26) na capital paulista. Os cruzeirenses, de acordo com os policiais, retornavam de Curitiba, no Paraná, onde o Cruzeiro perdeu por 3 a 0 para o Atlético Paranaense. Todas as equipes disputam o Campeonato Brasileiro de futebol masculino.
Com informações de Metrópoles