Com qual intuito a Sabedoria Divina fez existir dois vulcões- os mais antigos do mundo, na Amazônia- perfazendo vastas reservas de minerais preciosos, inclusive de ouro? É pertinente a inquirição, posto ser a dádiva condenatória daquele povo amazônico. Povo que independe de assistência do Estado, apesar de produzir. Povo que sobrevive sem serviços básicos, apesar de recolher altos montantes a esse fim.
E por falar nisso, a per capta já é alta e poderia ser maior. Se assim fosse, o Estado, via CFEM, retornaria ao povo o que é do povo, em serviços e benfeitorias públicas. Acontece que toda a região, na porção interessante entre os rios Tapajós e Jamanxim, mais especificamente contornando dois morros discretos, que guardam dois dos mais antigos vulcões do mundo, ou é reserva indígena ou é UCs de proteção integral- não que se excluam. Quando são APAs (Áreas de Proteção Ambiental), toma-lhe burocracia e ausência de comunicação entre município, estado e União.
Aqui, a Província Aurífera do Tapajós- menina dos olhos- ganha status de recordista em crimes contra o meio ambiente. Motivo real: estima-se que pode abrigar reservas de ouro muito maiores do que os cálculos anteriores sugeriam – aproximadamente cem toneladas de ouro, e, com correção, a estimativa chega em até dez vezes mais. E se estendem por regiões muito além do Tapajós, alcançando do rio Xingu, a leste, até a divisa com as Guianas, ao norte. Ali, toda e qualquer exploração é dificultada ou proibida. Parece ser boa demais para os brasileiros explorarem.
Parafraseando o nobre colunista e articulista Alexandre Garcia, que, ao utilizar-se da fala do Presidente Lula, abriu uma clareira ao entendimento de sua audiência, sobre o significado das regiões amazônicas, aos interesses americanos:
“O Presidente, com bandeja na mão, pedindo dinheiro pra Amazônia e fazendo promessas…meu Deus… de globalizar o controle climático, o meio ambiente, da Amazônia. Gente, a Amazônia brasileira é brasileira! Não é dos brasileiros, não, é O Brasil. Parece que não está bem claro isso. E no encontro com o Presidente dos Estados Unidos, a seguinte nota saiu, nos jornais americanos: como parte desses esforços, os Estados Unidos anunciaram sua intenção de trabalhar com o Congresso, para fornecer recursos, para programas de proteção e conservação da Amazônia brasileira, incluindo apoio inicial ao Fundo Amazônia e para alavancar investimentos, nessa região muito importante”.
No que seguiu, o jornalista citou também importante trecho esclarecedor de pronunciamento presidencial das finalidades desse governo: “Nos últimos anos a Amazônia foi invadida pela irracionalidade política e humana”. Questionou, então, o articulista: “Quem foram os humanos que invadiram a Amazônia? Foram os marcianos, os chineses, os americanos, os holandeses, as ONGs ou os brasileiros?”
Discurso corroborado por certa conclusão de estudo da USP: “a organização dos depósitos minerais determina a forma como a região pode ser explorada, não por garimpeiros, que não conseguem retirar o ouro da rocha, mas por empresas mineradoras de porte, que contam com os equipamentos e o capital necessário”. E, segundo o mesmo estudo, a “confirmação da presença das reservas só beneficiará a economia do Pará, se não for seguido o modelo extrativista predatório que marca a história da região”. Leia-se: o modelo predatório, dos garimpeiros e o modelo adequado, das mineradoras, inclusive, das canadenses.
Mesmo assim, Itaituba, por exemplo, em 2020, bateu recordes de pagamento do tributo citado. O que se vê, entretanto, é um esforço do Legislativo, para dificultar a exploração legal, somado ao exacerbado intento fiscalizatório, amparado e guiado à destruição de máquinas e estruturas encontradas nas áreas proibidas.
Além do dito, o que não se divulga: as áreas proibidas que o garimpo desmata da floresta são menores e menos duradouras do que as das outras atividades produtivas. Os holofotes, todavia, estão mais voltados à contaminação por mercúrio e seus correlatos, como lavagem de capital, trabalho análogo ao escravo…
Em meio à lama, ao calor, à malária, à insalubridade, aos perrengues e ao perigo, o custo humano é alto, mas o espírito desbravador demonstra uma certeza maior ainda: esse povo entende a linguagem manifesta do Divino, sabe que a abundância das amplas reservas de minerais preciosos não foram obras do acaso. Inquirir, resistir, contra-atacar a dádiva territorial de um povo é condenar o próprio Deus que os presenteou. Quem se atreve, que suporte seus efeitos.
Predileção divina
