A importância da preservação dessa biodiversidade foi tema de uma mesa redonda realizada pelo Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Estado do Pará (Ideflor-Bio), na manhã do último dia 24, na sede do órgão.
Especialistas da área ambiental, conselheiros das Unidades de Conservação da RMB, parceiros, acadêmicos e servidores participaram do evento aberto ao público externo, que ocorreu no auditório do Ideflor-bio. A mesa redonda teve como tema: “A Importância da Proteção dos Mananciais Bolonha e Água Preta para a Qualidade de Vida da População da Região Metropolitana de Belém”.
Ao abrir o evento, a presidente do Ideflor-Bio, Karla Bengtson, ressaltou que, conforme os decretos do Parque Estadual do Utinga, dentre os objetivos estão o de assegurar a potabilidade da água pelo manejo dos mananciais, a recuperação das áreas degradadas, além de ampliar a vida útil dos lagos Bolonha e Água Preta.
“O Ideflor-Bio trabalha na regularização fundiária no entorno do lago, na manutenção do muro, na proteção da floresta, na sensibilização da sociedade, por meio da educação ambiental, promove a pesquisa e, com a parceria do Batalhão de Polícia Ambiental, faz a fiscalização contra a pesca”, esclarece a presidente sobre a atuação do órgão em prol da preservação dos mananciais.
“O evento foi pensado como uma oportunidade de abrir uma conversa franca e transparente com a sociedade sobre a importância dos lagos e o desafio de preservar a sua biodiversidade e função ecossistêmica”, explica Karla Bengtson.
A ideia é que cada um dos atores envolvidos exerçam o seu papel, tendo como intuito maior proteger os mananciais. “Sozinhos, jamais conseguiremos atingir tamanho desafio. Mas tendo a participação das instituições, dentro da administração pública, e o envolvimento da sociedade civil é algo que impulsionará o alcance dessa missão”, pondera a presidente.
Medidas
Com amplo conhecimento e vivência acerca dos lagos Água Preta e Bolonha, o engenheiro sanitarista Nelson Chaves, especialista em Saúde Pública pelo Instituto Oswaldo Cruz/Ministério da Saúde e conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Pará (TCE), ressalta que a adoção de medidas preventivas é algo de extrema necessidade quando se fala em preservação dos mananciais. Portanto, cada cidadão deve ter a consciência de assumir a sua responsabilidade, inclusive, enquanto beneficiário da destinação dos recursos hídricos advindos dos mananciais, conforme frisou o especialista.
Na avaliação dele, o primeiro ponto é não poluir o lago. E uma das formas de contribuir é, por exemplo, dar a destinação correta ao lixo produzido em cada área da cidade. “Se nós dependemos deles para viver, precisamos mantê-los com qualidade para utilizar a água. A primeira coisa é evitar que sejam poluídos com esgoto ou qualquer tipo de resíduo que venham prejudicar a qualidade da água”, diz.
Outra medida apontada pelo especialista é que as empresas de saneamento, de modo geral, reduzam ao mínimo a possibilidade de desperdício dessa água. “Se você mantém mananciais intactos, imunes às poluições e, ainda, após a produção e tratamento dessa água evita que seja desperdiçada, você está preservando isso para as gerações futuras”, detalha.
Saneamento
Outro palestrante do evento foi o engenheiro hidrólogo do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), David Franco Lopes, diretor da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes – Seção Pará) e conselheiro do Parque do Utinga, que atua no monitoramento da qualidade da água dos lagos. Ele ministrou sobre o tema “Saneamento e suas consequências boas e ruins”. Para o engenheiro, não há como pensar em preservação sem investir em saneamento básico na cidade.
“As consequências boas do saneamento é que você tem a promoção da saúde, com a ausência de doenças com veiculação hídrica como cólera, febre tifoide, esquistossomose e evita os alagamentos. Como consequências ruins, você tem a ausência de saúde, crianças doentes, mortalidade infantil, alagamentos, contaminação e diversos problemas. Quando você deixa de investir em saneamento, se quadruplica o problema”, assegura.
Também participante da mesa redonda foi o pesquisador Augusto Jarthe, que atua no levantamento da biodiversidade do Parque e possui um amplo conhecimento sobre a fauna do Utinga, em especial, associada aos lagos. A palestra do gestor ambiental teve como tema: “Lago Bolonha, lições que nos trazem a sua biodiversidade”.
Ele explicou que a biodiversidade existente no lago possui um papel fundamental na conservação dos mananciais. “Atuam no controle de populações, fertilização do solo, dispersão de sementes, reciclagem de matéria e outros. A biodiversidade abrange todos os reinos e organismos vivos. Então estamos falando de vegetais, animais e de bactérias e fungos, que são responsáveis pela decomposição da matéria orgânica produzida e trabalham diuturnamente na manutenção da qualidade da nossa água”, sintetiza.
Histórico – O Parque Estadual do Utinga é uma Unidade de Conservação Estadual que surgiu em 2008, por meio de um decreto estadual, renomeando o então Parque Ambiental de Belém, fundado em 1993. A unidade abrange uma área equivalente a quase 1.400 campos de futebol. O Utinga é uma das poucas áreas da RMB em que as condições ambientais e paisagísticas estão consideravelmente preservadas.
A área também é conhecida como um “celeiro das águas”. Os dois lagos que o Parque abriga – o Bolonha e o Água Preta – são responsáveis pelo abastecimento de cerca 70% da população da RMB. São mais 1,5 milhões de pessoas que, diariamente, usam a água tratada oriunda do Parque.
O lago Bolonha possui uma área de 577.127 metros quadrados e tem um volume de 1.954.000 metros cúbicos. E o lago Água Preta tem uma área de 3.116.860 metros quadrados e um volume de 9.905.000 metros cúbicos.