Embora nem todos se deem conta, José de tal está presente cotidianamente na vida de todos os brasileiros, do amanhecer ao anoitecer. A dona da casa de uma família de classe média, por exemplo, acorda, levanta-se da cama forrada com lençóis e, vestida em sua confortável camisola, vai à cozinha, prepara a primeira refeição do dia, serve a mesa com café, leite, pão, manteiga, queijo, suco e ovos fritos. Em seguida, acorda as crianças e o marido, que a esta altura já está conectado no celular ou no notebook lendo as principais notícias do dia. Todos alimentos que ali estão têm as digitais de José de tal.
Após este lauto café da manhã, que nem todos podem desfrutar, as crianças vão à escola uniformizadas, portando os seus livros e cadernos, e o marido, de paletó, gravata, sapatos lustrosos e uma bela pasta de couro com documentos de seu dia a dia, embarca em seu veículo, movido por uma mistura de gasolina e álcool, para ir ao trabalho. Por ser o dia das compras semanais, a dona de casa também toma seu carro e vai ao supermercado. Novamente, as digitais de José de tal estão em quase tudo, do material escolar ao etanol.
“A base de toda a vida do reino animal são os alimentos, sem eles não há vida.”
No entanto, a família nem percebeu que durante as duas horas entre o acordar e a saída para executar as suas fainas diárias foram usados dezenas de produtos e subprodutos do agro, originados pelo trabalho incansável de José de tal – os homens e mulheres do agro, os produtores rurais.
Assim como a família de classe média, a maioria da população urbana praticamente ignora que quase tudo que consome é produzido por José de tal. Ou seja, esses produtos só chegaram às prateleiras dos supermercados porque os homens e as mulheres do campo se dedicaram a produzi-los, tanto sob o sol inclemente quanto a chuva torrencial.
“Todas as cadeias do agro têm uma mesma origem, o produtor rural, e o destino final do que é produzido é o consumidor.”
Desde a descoberta do Brasil, os produtores rurais têm ajudado na criação da nação brasileira, trabalhando em todas as regiões, enfrentando secas, enchentes, geadas e invasões. Aliás, as adversidades climáticas são uma constante na vida dos produtores. São trabalhadores incansáveis produzindo com o suor de seus rostos, resistindo às incompreensões, à falta de reconhecimento e, muitas vezes, com a perda de seus entes queridos vítimas das doenças e intempéries.
Apesar de todas as dificuldades, José de tal dá, nestes tempos de pandemia da covid-19, exemplos de solidariedade e cidadania e segue trabalhando de sol a sol, enfrentando sem temor o vírus que amedronta o mundo para manter a comida nas mesas de todos os brasileiros.
“Na pandemia, surgiram heróis anônimos Brasil afora e os mais anônimos de todos os heróis são os produtores rurais, que sequer são percebidos e reconhecidos.”
A despeito de toda a falta de reconhecimento de suas existências, com o auxílio do Ministério da Agricultura e da Embrapa, que desenvolveram novas tecnologias e formas de produzir, os heróis fizeram uma revolução e, nos últimos 50 anos, transformaram um país importador de alimentos em um dos maiores exportadores do mundo de produtos agropecuários. Para se ter uma ideia, desde janeiro de 2019 mais de 60 mercados internacionais novos foram abertos para os produtos do agro brasileiro, que alimenta aproximadamente um quarto da população mundial.
“É salutar que ninguém esqueça que o universo não perdoa ingratidão.”
Os homens e mulheres do agro não se deixam abalar por intempéries, pandemia e altos juros de financiamentos da produção, além de um endividamento monstruoso e um passivo retroativo biliardário do Funrural. Eles continuam a trazer divisas para ajudar o Brasil neste momento tão crítico. Com um endividamento e um passivo tão grandes nas costas, sem que seja indicada uma solução, fica impossível prever por quanto tempo os produtores aguentarão seguir a produzir.
“A agricultura surgiu no planeta há cerca de 10.000 anos, provavelmente na região entre os rios Tigre e Eufrates. Os homens deixaram de ser caçadores/coletores nômades e se fixaram à terra, criando as primeiras comunidades fixas. Começava de fato a civilização humana e, desde então, José de Tal trabalha para produzir alimentos.”
Gil Reis
Consultor em agronegócio
Fonte: Fonte AGROemDia – agroemdia.com.br