Até 1888, foram mais de 400 anos de falta de humanidade, civilidade, respeito e distorção do conceito de liberdade e cidadania. Foram mais de 12 milhões de mulheres e homens africanos escravizados, e mais de dois milhões de indígenas mortos.
No país, juridicamente, a abolição foi excluída, porém nunca concluída. A maioria do povo negro continua excluída, segregada e sustentando a pirâmide social que sustenta a sociedade desde tempos imemoriais.
A cada 23 minutos, um jovem negro é morto. Em 24 horas, três mulheres são mortas, a maioria é negra. O racismo estrutural é um elo que liga o passado e o presente. Uma ferida profunda que sangra até hoje. A sociedade precisa urgentemente combatê-lo.
O documento original da Lei Áurea está sob a guarda dos arquivos do Senado Federal. A lei conta com apenas dois artigos, que foram aprovados com rapidez, pois a proposta era considerada urgente e um anseio nacional dos senadores da época.
O projeto foi enviado ao Congresso Nacional pelo governo imperial no dia 8 de maio de 1888. Após dois dias do envio, os deputados aprovaram o texto, que seguiu para o Senado. No dia 13 de maio de 1888, os senadores votaram a favor do projeto, que foi encaminhado imediatamente para a sanção da princesa imperial regente, a princesa Isabel, que assinou a medida no mesmo dia. Ela estava substituindo Dom Pedro II, que estava afastado do cargo por motivos de saúde.
A lei teve que ser assinada também pelo ministro da Agricultura da época, Rodrigo Augusto da Silva, porque os escravos eram considerados propriedade dos donos de terra. A tragédia em todos os tempos versa sobre o conceito de ser humano. O negro não só era tratado como um ser desprovido de alma, como também era tratado como mercadoria.
Infelizmente pouca coisa mudou. Em pleno século XXI os conceitos permanecem os mesmos. A mentalidade é mascarada por normas, conceitos, dogmas, crenças, e estruturas que justificam a violência contra a população negra. A pseudo democracia racial, nada mais é do que dar direito aos donos dos escravos (2022), o direito de dominar e escravizar o cidadão. Tudo dentro da legalidade jurídica.
No Amapá somos a maioria e estamos vivendo absurdamente sem nenhuma qualidade de vida. Somos indiferentes a tudo o que acontece fora da nossa zona de conforto. Somos “massa” de manobras para eleger e sustentar um Estado falido e excludente. O maior escândalo é a forma como o sistema joga um contra o outro. O racismo estrutural permeia a religião, escola, universidade, arte, cultura, política e começa dentro de nossas casas. Na verdade, o racismo estrutural só existe porque ele está impregnado dentro de cada um de nós. A sociedade é reflexo do que nós somos.