Alguém talvez já tenha dito, não sei, a mim nunca o disseram, mas ocorre isso, o português de Portugal tem um solavanco fônico de naus em alto mar, de quilhas e temporais.
As ruas por onde ando exalam aromas e fragrâncias de tantas outras ruas presentes nas lembranças de gentes vindas de tantas outras terras, outros continentes.
Ruas que aqui chegaram na memória – ora triste, ora jubilosa – de exilados e imigrantes, do colonizador e do escravo, elas foram adentrando, traçando retas e oblíquas nos caminhos silvícolas.
As ruas nas quais transito desaguam feito enxurradas em avenidas e ruelas de lembranças de saudosos e curiosos a sonhar com os bailes do imperador, onde na relação de convivas nunca se hospedaram.
As ruas onde ecoam meus passos não são o que parecem ser: pedra, cimento, areia e outros materiais próprios para frenagem ou rolagem de um trânsito plural.
As ruas por onde ando foram feitas de sentimentos e aspirações eloquentes. Há nelas, além de vírgulas e pontos, exclamações, interrogações, as aspas e os parênteses, reticências…
Não, não são o que parecem, são uma enchente de projetos urgentes querendo seguir em frente, voltar quando lhes aprouver ou for necessário, gritando para o mundo um desejo profundo de encontrar caminhos para todas “as gentes”.
São ruas de equilibristas, dançarinos, passistas, floristas e manobristas inseridos em roteiros de escritos por aventureiros, românticos , loucos , poetas e cientistas.