Em 1974, esgotado das demandas profissionais e após perceber o mesmo comportamento de desgaste e desmotivação em outras pessoas ao seu redor, o psicólogo alemão Herbet Freudenberger começou os seus estudos sobre Burnout. Ele percebeu que mesmo onde as atividades são realizadas de forma satisfatória, estas podem gerar adoecimento por conta das excessivas cargas de horário e pressão, com consequente desenvolvimento de estresse. Quem nunca teve vontade de chutar o balde, deixar as atividades e ir para casa em plena segunda feira? Ou se cansou das cobranças excessivas e noites mal dormidas? A tradução do termo Burnout revela sua principal característica, “queimar-se por inteiro”. Vinculado ao trabalho e caracterizado por um esgotamento físico e emocional, o Burnout é uma tribulação que está presente nos ambientes laborais há décadas e que ganha destaque na sociedade contemporânea que é atravessada pela velocidade, produtividade, consumismo, exibicionismo, liquidez, incertezas e complexidades nas relações laborais e pessoais.
A Síndrome do esgotamento profissional, como atualmente vem se disseminando, se traduz pela falta de energia e entusiasmo, consequente da sensação de esgotamento de recursos físicos e emocionais, também acompanhados de sentimentos de frustração, tensão, incompetência, dificuldade de interação entre pares, desorganização na vida pessoal e nas relações organizacionais.
2. Quais os profissionais que são mais afetados?
Qualquer pessoa pode ser afetada pelos sintomas da síndrome do Burnout, uma vez que estes fatores podem estar relacionados ao modo subjetivo como cada indivíduo se organiza diante de suas demandas pessoais e profissionais. Entretanto, a literatura aponta que os profissionais que apresentam maior vulnerabilidade ao desenvolvimento da síndrome são aqueles que atuam em atividades nas quais há maior pressão pela natureza do trabalho e riscos como, por exemplo, nas áreas hospitalares, áreas que envolvem tensão e riscos químicos e físicos, profissões que lidam com segurança pública, também sendo bastante frequente entre jornalistas, educadores, profissionais liberais.
3. O que leva as pessoas a desenvolverem esse distúrbio?
O desenvolvimento do quadro psíquico está associado a uma dificuldade em lidar com um fator estressor, a uma baixa plasticidade emocional em um determinado período da vida. Em outras palavras, qualquer pessoa pode adoecer quando seus mecanismos de defesa e modos de organização falham ou estão vulneráveis.
Neste caso podemos apontar alguns fatores que podem desencadear um processo de sofrimento e desenvolvimento da síndrome, tais como: a) a excessiva responsabilidade e excesso de trabalho, na qual o sujeito organiza pouco tempo para descanso entre uma jornada e outra ( ou entre um trabalho e outro) e precisa ainda dar conta dos afazeres pessoais; b) a exposição a uma carga contínua de tensão e riscos, entre eles risco de morte ou grande responsabilidade pela vida, segurança e saúde de outras pessoas ; c) o uso desenfreado de substâncias psicoativas, que podem aumentar as chances de evolução dos sintomas; d) histórico de transtornos mentais, pessoal ou familiar, bem como baixa tolerância para situações de frustração; e) fatores institucionais como rigidez, cobrança excessiva, jornadas inflexíveis, falta de autonomia para o trabalhador exercer sua atividades, sobrecarga de trabalho, falta de comunicação, recompensas salariais incoerentes.
4. Quais as alterações físicas e psíquicas encontradas nos portadores da síndrome?
Diante de uma crise, acontece algo parecido com um colapso sistêmico que envolve sintomas emocionais e físicos. Corpo e mente entram em declínio e as principais queixas podem ser: insônia, fadiga, alterações gastrointestinais, dores de cabeça, hipertensão, uso de álcool em excesso, alterações de humor, dificuldade de concentração, angústia, negativismo, baixa produtividade, sentimento de insuficiência, entre outros sintomas. Vale ressaltar que o trabalhador pode apresentar um sintoma ou outro e ficar suscetível ao desenvolvimento de outros quadros como, por exemplo, depressão, síndrome do pânico, uma vez que seus mecanismos de defesa psíquicos estão ameaçados.
5. Existe prevenção para essa patologia?
Quando os fatores desencadeadores estão relacionados ao ambiente e à natureza do trabalho, a prevenção do burnout requer uma ação integrada entre os setores assistenciais, responsáveis por promover um espaço de acesso à saúde e o cuidado deve ser realizado por uma equipe multiprofissional, além de envolver mudanças na cultura e organização do trabalho.
Alguns fatores relacionados ao envolvimento excessivo em trabalho podem ser discutidos e organizados em processos psicoterápicos, onde o terapeuta e paciente podem dar outros significados as demandas incessantes de trabalho e produtividade. Entender e respeitar os limites profissionais, conseguir tempo para descansar e relaxar, encontrar alternativas saudáveis para lidar com momentos de estresse e cansaço e principalmente estar atento aos sinais de desconforto nestes ambientes.
6. Em que se baseia o tratamento?
Uma vez que o trabalhador identifica sintomas que fogem da rotina de trabalho habitual, é interessante que busque auxílio profissional para avaliação do quadro e tratamento.
Os profissionais indicados ao auxílio desta síndrome são médicos e psicólogos. O tratamento envolve psicoterapia, tratamento farmacológico e intervenções psicossociais. Os recursos terapêuticos variam de acordo com a intensidade e especificidade de cada caso, uma vez que cada sujeito irá apresentar sintomas distintos e queixas singulares.
Convidada
Ivie Marcela Zorthea – Psicóloga. Doutoranda em Saúde Coletiva – UFSC, Mestre em Planejamento e Políticas Públicas pela UECE, especialista em psicooncologia e psicóloga da UNIFAP – Colegiado de Medicina.