“Quando olhei a terra ardendo”, cantou Luiz Gonzaga.
O que cantaremos nós nesses tempos em que ardem terra, nuvens e ar?
E, quando não ardem, afogam-se em águas vindas de roldão – transmover de mágoas e decepções em transição de valores, adeus de amores de bem amar.
Venta o vento.
Chove a chuva.
Relampejam os relâmpagos.
Troveja trovões, raios em profusão.
Humanizam-se os humanos?
Não os vejo em tal ação, não…
A dissonância entre os “humanos” atropela a consciência e provoca a distopia coletiva transformando a paisagem em terra arrasada e dolorida, sem chance de vida.
Os quereres obscenos incendeiam as florestas e destroem plantações, ardem na sarça ardente flores, folhas, troncos, sementes…
Secam os rios – sobram riscos de arreia e argila em arrepios da Terra em convulsão. Convulsão provocada por mãos e mentes assassinas, naves do desatino.
Voam para longe os pássaros sem os seus ninhos – avezinhas -,
em outros sítios irão cantar. Mas outro sítio não há, é o deserto a se incubar.
Em fogueiras sacrificam o bugio, o tatu, a onça, a preá – vida já não há.
Os falares obscuros inundam rios e lagos, transbordam indignidades, dói meu coração feito barco de ilusões ao tropel de queimadas e inundações.
A falta de uma palavra é secura braba, é colapso da oração. O corte de uma palavra grita mais que uma multidão. A ausência de uma palavra é saudade em comoção. A dissonância entre termos faz estremecer meu coração.