Ao ser anunciado ontem como técnico do Corinthians, apenas 40 minutos depois de Fernando Lázaro ser demitido, a reação começou.
A revolta se deu porque o clube está marcado por uma campanha publicitária de março de 2018.
O time principal estampava a seguinte frase no peito: “Respeita as Minas”.
Era uma advertência ao assédio sexual.
O clube acabou rotulado como o mais preocupado com o bem-estar, com a segurança, com o respeito com as mulheres no país.
Daí a reação em cadeia na internet de torcedores rejeitando a contratação do treinador.
Por um motivo complicado.
Em 1987, o Grêmio excursionava pela Europa. Cuca era meio-campista do time gaúcho. Ele e três companheiros, Eduardo Hamester, Henrique Etges e Fernando Castoldi, foram detidos em Berna, na Suíça. Pela acusação de terem tido relações sexuais com uma garota de 14 anos. E sem consentimento.
Eles foram soltos e voltaram ao Brasil, mas o processo continuou e em 1989, foram condenados a 15 meses de prisão por estupro.
Nenhum dos quatro passou nem sequer um dia na cadeia.
Porque jamais retornaram à Suíça.
E a sentença prescreveu.
Cuca sempre alegou ser inocente.
Apesar de alguns protestos esporádicos, só na volta ao Atlético Mineiro, em 2021, ele teve de enfrentar questionamentos e rejeição por causa do estupro pelo qual que foi condenado.
Porque houve um crescimento de reconhecimento dos abusos sofridos por mulheres. Mas a postura da direção do clube de Belo Horizonte foi mantê-lo no cargo. E esperar acabar a pequena onda de protestos.
Cuca trabalhou normalmente no Atlético e saiu porque quis, depois da terceira passagem, em novembro de 2022.
Ele tinha esperança de suceder a Tite na seleção.
Mas o sonho acabou não por causa de seu currículo.
Afinal, venceu a Libertadores e foi duas vezes campeão brasileiro e da Copa do Brasil.
Mas já a questão de condenação por estupro o deixava fora do páreo.
Cuca foi cogitado em vários clubes desde novembro de 2022. As sondagens se sucederam. Botafogo, Coritiba, Vasco.
Até que houve o acerto com o Corinthians.
Empresários o ofereceram a Duílio Monteiro Alves, que já estava disposto a demitir Fernando Lázaro, admitindo o erro infantil que foi colocá-lo sem a menor experiência como treinador do Corinthians. Ele era analista de desempenho.
Duílio cedeu à sugestão de Tite.
E pagou o preço.
Bastaram 17 jogos. A eliminação nas quartas de final do Campeonato Paulista. O risco enorme de eliminação na Copa do Brasil, depois de derrota por 2 a 0 para o Remo. E a derrota diante do Argentino Junior, deixando o clube em situação difícil na Libertadores, e a pressão da maior organizada, a Gaviões, para a demissão. Fernando Lázaro perdeu o emprego.
E Cuca foi anunciado 40 minutos depois.
Duílio estava muito feliz porque teria um treinador vivido, experiente, com autoridade para comandar o vibrante Corinthians, o que o presidente esperava. Ainda mais com a quase certeza de que ficará mais dois meses sem Renato Augusto, que se recupera de cirurgia no joelho direito.
A primeira partida dele como técnico será contra o Goiás, em Goiânia, no domingo (23).
Mas vieram os protestos.
E não só dos torcedores comuns.
Várias organizadas, Camisa 12, Pavilhão 9, Estopim da Fiel, Fiel Macabra e Coringão Chopp, se posicionaram oficialmente contra a contratação.
Só que a situação tende a piorar.
Desde ontem à tarde está sendo combinado um encontro de torcedoras do Corinthians, em frente ao CT Joaquim Grava, hoje, às 17 horas.
A apresentação oficial de Cuca está marcada, com direito a entrevista coletiva, para as 17h30.
As mulheres prometem fazer um ato de repúdio à contratação.
A nota oficial é duríssima.
“FORA CUCA! TORCEDORAS DO CORINTHIANS REPUDIAM CONTRATAÇÃO DO TÉCNICO”
“Nós, torcedoras do Corinthians, fomos pegas de surpresa na tarde de 20 de abril, com o anúncio da contratação de Cuca como técnico do time do povo.
“Para quem não recorda ou não sabe, Cuca e mais alguns jogadores, foram condenados a 15 meses de prisão, em um caso de estupro a uma menor, quando estava na Suíça, em 1987. Cuca fugiu do país para não ser preso, e nunca mais voltou para lá. Até 2004, ele não podia sequer visitar o país. Hoje o crime está prescrito.
“Nós, que somos representantes do povo, time dos excluídos, em 2020, quando vimos o Santos anunciar a contratação de Robinho, ficamos indignadas e pensamos que tal fato jamais aconteceria no Corinthians.
“Mas eis que hoje o nosso time anuncia a contratação de um homem acusado e condenado por estupro. Não nos interessa se o crime prescreveu ou não, o que está em jogo é o nome e a história do Corinthians.
“Não iremos aceitar que o comando do nosso time seja entregue nas mãos de uma pessoa que carrega em seu currículo o histórico de abuso sexual.
#Fora Cuca.”
A segurança será reforçada hoje no Centro de Treinamento.
Com informações R7