Desde o início da pandemia, em março de 2020, muitos desafios estão sendo enfrentados.
Uma série de costumes teve que ser rapidamente alterada e o distanciamento social se impôs como uma necessidade. Em função disso, o meio digital tornou-se ainda mais presente na vida de todos e todas.
Para as escolas, isso representou o fechamento temporário dos espaços físicos e, consequentemente, a adoção de um conjunto diferenciado de práticas pedagógicas, que fizessem sentido nas interações à distância. Meses se passaram sem que fosse possível saber, ao certo, quanto tempo seria preciso manter as aulas remotas.
Uma experiência vivida que pode ter deixado diversos impactos negativos, não apenas na aprendizagem, mas no desenvolvimento socioemocional causado pelo isolamento social e distanciamento escolar.
O primeiro ponto a ser pensado é que neste momento os sentimentos deverão ser acolhidos, e a maneira como isso será feito será primordial para tudo o que virá depois. Diversos são os motivos para o acolhimento, nossas crianças passaram por experiências de luto próximas a elas, de familiares, amigos e pessoas conhecidas, e as perdas vividas precisam ser tratadas de maneira especial.
Além disso, as mudanças de rotina que ocorreram, em suas vidas e na vida dos pais, irão novamente se transformar. Se foi difícil de repente estarem todos em casa, mudar a rotina novamente, e se ausentar da segurança que o lar representa, pode também gerar alguns impactos. Principalmente aos menores, todo um período de readaptação à escola e de afastamento dos pais terá que ser feito novamente.
Na infância, muitos dos aprendizados são frutos das brincadeiras. Aprende-se não apenas com as professoras e professores, dentro de sala de aula, mas também na interação com os pares, em diferentes momentos e lugares. Dançar, cantar, brincar ao ar livre, alimentar os animais, observar as plantas… Tudo se constitui em aprendizados potenciais, que ganham significado a partir do olhar pedagógico atento.
O convívio com o outro, a troca e o compartilhamento de experiências são essenciais para o desenvolvimento, individual e coletivo. Até mesmo os conflitos gerados pela convivência e os impasses cotidianos, como disputas e pequenos desentendimentos com colegas, são disparadores para a aprendizagem. A própria necessidade de construir soluções para esses conflitos ganha outros contornos quando as crianças estão entre iguais.
As propostas lúdicas são poderosos instrumentos para despertar o desejo dos pequenos em conhecer o mundo. Isso porque o estímulo dos sentidos é um dos grandes incentivos do aprender. Estar em diferentes ambientes potencializa a diversidade de elementos a serem explorados por meio do tato, do olfato, do paladar, da audição e da visão.
Ao longo de 2020, diversas estratégias foram criadas para que as próprias casas dos estudantes se tornassem ambientes de aprendizagem. A simples contagem de portas, por exemplo, transformou-se em uma tarefa divertida, que depois era compartilhada e comparada entre os colegas.
Há ainda o medo da doença, da contaminação. O medo dos adultos influencia diretamente as crianças, portanto teremos que lidar com níveis diferentes de ansiedade, pois as crianças trarão de casa toda uma bagagem do que vivenciaram e vivenciam desde o início da pandemia.
A melhor forma de acolher os pequenos é ajudá-los a lidar com os próprios sentimentos, através de momentos de conversa, de escuta individual e coletiva. Não minimize o sentimento da criança. Zelar pela segurança e pela saúde dentro da escola trará para eles também mais confiança e segurança.
A escola deverá ser divertida, um lugar agradável para estar, por mais responsabilidades que se tenha dentro dela, o lúdico deve estar sempre presente, os jogos, a música, as brincadeiras.
Neste momento, os pais devem ser um grande aliado da escola, e essa aproximação é fundamental para que tudo dê certo, tanto em relação aos cuidados necessários para que a pandemia se mantenha controlada, como para que as questões emocionais das crianças possam ser trabalhadas.
O professor é uma figura fundamental, é o que está mais próximo fisicamente e emocionalmente da criança, é ele que ela irá procurar se sentir-se insegura ou desconfortável. Este deve sempre estar atento ao comportamento de seus alunos, bem como ao desempenho escolar, e se necessário, juntamente com a família, encaminhar para profissionais que poderão ajudá-los.
É ainda importante desenvolver a empatia dos alunos, ser tolerante em relação aos conteúdos a serem cumpridos, rever as expectativas e objetivos para o semestre letivo. Avaliar o aluno, observar os que necessitam de maior apoio pedagógico, verificar conteúdos e disciplinas a serem priorizados, pensar atividades e estratégias para repor aquilo que não foi alcançado é também papel do professor.
Adequar o aprendizado significa ter o foco na aprendizagem do que é mais importante, desenvolver as habilidades socioemocionais previstas na BNCC, reorganizar conteúdos de acordo com a nova realidade educacional, rever e adaptar objetivos. Avaliar e criar estratégias de recuperação da aprendizagem, disponibilizar meios tecnológicos e outros recursos de complementação da aprendizagem.
A pandemia acentuou a diferença entre aqueles que tinham mais dificuldades de aprender; exigiu um novo educador, que precisou se reinventar, teve que se adaptar à novas tecnologias, novas metodologias, transformando-se. Agora é preciso estabelecer metas de aprendizagem diferentes para crianças com níveis de aprendizado diferentes.
Do ponto de vista psicológico, quais as vantagens e desvantagens do retorno ao ambiente escolar?
Os benefícios são muitos. Os pais de crianças menores estão tendo dificuldades para auxiliar filhos nas atividades escolares em casa, alguns não têm com quem deixá-los e precisam trabalhar. Além disso, a rotina escolar é importante para o desenvolvimento cognitivo e emocional e muitos alunos relatam ter mais facilidade para assimilação de conteúdos com as aulas presenciais. E o principal benefício é a criança e o jovem voltar a ter contato com seus pares. Isso melhora a autoestima, o que influencia na imunidade. Conversei com alguns pais de crianças com fibrose cística recentemente e eles me disseram que, após retorno às aulas presenciais, os filhos ficaram tão felizes que passaram a comer mais, dormir melhor e a reclamar menos dos medicamentos e inalações, situação que melhorou a adesão ao tratamento. Mas, podem haver casos isolados de crianças e jovens que não comemorem tanto a volta à escola, situação que pode acontecer por conta do medo ou ansiedade. À esses, é importante ir aos poucos, respeitar, dar um tempo, estender as aulas remotas e ir intercalando com o modelo híbrido de ensino, até eles sentirem mais confiança, para que em contraponto, não tenham o prejuízo da evasão escolar. Resposta da psicóloga Cláudia Ribeiro