Existe um arraigado conceito em nosso país que na vizinha Venezuela exista um governo de filosofia dominantemente voltado as esquerdas. É e não é bem assim.
O “causo” venezuelano na verdade é de etnia. Diferenças fundamentais entre grande parcela de habitantes de origem, aqui por nós chamada indígena, que são mais de 75% da população e um restante eurasiano, aqueles que vieram de barcos, os europeus, seus “bem armados descobridores”.
O domínio dos últimos sempre foi grande ou mesmo total desde a “descoberta.” Dos poderes constituídos à economia, a obediência só única a eles. Nas próprias forças armadas, dificilmente alguém com origem dos naturais da terra, passava do posto de coronel. Generais e outros superiores, só mesmo de sangue europeu. Presidência então, nem pensar… só aos puros-sangues.
Do lado da fortuna também eles eram donos e proprietários de tudo, das petroleiras, geração energética, meios de comunicação, bancos e até da moeda. E neste longo período, nós brasileiros, por eles, sempre fomos bem discriminados, vistos até como gente pouco ordeira mal organizada e interessante, pobre.
Quando começou o grande movimento garimpeiro em Roraima na década de 80, por termos com eles uma fronteira que à época ainda não recebera demarcação física, andamos construindo algumas pistas de pouso e explorando jazidas minerais em território que não era bem nosso. Apesar de que, na década anterior, os garimpeiros espiantados de Rondônia, e largados em Roraima, penetraram fundo naquele país, descobrindo ouro, diamantes e outros minérios. As descobertas foram tão magnificas que os que restaram em Roraima, construíram aquele monumento que se encontra na Praça Central de Boa Vista em homenagem ao feito deles, não significando nenhuma gloria a nós de cá. Entretanto, nesse novo período citado, eles enfezaram e publicavam em toda sua mídia que movimentos garimpeiros sempre proporcionaram ao Brasil a possibilidade de crescer sobre os demais.
A maior pergunta de então, sem reagirem e indignados, era: “? Que se passa Venezuela?”
Forças mais conservadoras naquele país alardeavam com firmeza contra aquilo que eles achavam ser um “imperialismo brasileño” em suas fronteiras, para expansão territorial. O que não deixava de ser uma verdade, pois assim sempre fizera nosso país.
Surgiu então um obscuro Coronel Chaves, também puro sangue, mas indígena. Tentou uma primeira revolução e tomada do poder, não conseguiu e foi para cadeia. Uma vez solto, por pressão das tropas, reagiu e num segundo intento, demonstrando ter bastante apoio, conseguiu tomar a gerência da vida e condução total do país.
A partir daí cometeu erros, tal qual na história os africanos, que ao assumirem o domínio sobre os antigos gerentes do funcionamento do próprio país os retiraram de suas funções perdendo com isso suas culturas e saberes. Também eles próprios, não detinham nem os necessários conhecimentos técnicos para exploração do maior bem do país, hoje uma das maiores reservas mundiais de petróleo. Entretanto, diferentemente, a falta de talento ou vocação para mineração, jamais se envolveram em contrário a nossos garimpeiros que estavam em seus interiores e que então sustentavam toda a economia advinda daqueles lugares. Os respeitam e nunca tivemos notícias de agressões ou discórdias para com eles (não como aqui). Nem mesmo covardias para lhes subjugarem ou tomarem algo (não como aqui). Este setor permaneceu e permanece até os dias de hoje intocado, o que tem dado a eles, reservas bancarizadas em ouro bem superiores as nossas. Já petroleiras e a própria usina de geração de eletricidade, Guri, sem os técnicos, sofreram o diabo.
Com o bloqueio norte-americano por haverem lhes tomado alguns de seus bens envolvidos, a desgraça juntada, levou o país ao quinto dos infernos, salvando claro os quintos do Brasil para onde mais de 750.000 mil deles vieram buscar abrigo.
E estes eram os problemas, não levados em conta por nossas autoridades.
Tempinho atrás, procurei estabelecer com o governo brasileiro troca de ideias e opiniões para dentro deste momento, aproveitarmos para termos aproximação nunca por venezuelanos desejada, porém agora a eles necessária, para participarmos juntos do poder econômico que a existência de petróleo e derivados sempre construíram.
Lamentavelmente detectei em nosso governo uma tendência a acreditar que as relações entre países possam ser conduzidas a aceitação ou rejeição (pessoal) do regime de um ou do outro. Sempre imaginei que os poderes de um país haveriam de querer conduzir suas relações sem sentimentos políticos internos e sim com a condução da política externa a bem de seu próprio país. Indiscutivelmente nosso Brasil, diferentemente dos Estados Unidos que levou uma guerra econômica por seus interesses contra a Venezuela, levou uma ideológica, que não era nem sequer de nossa conta.
Não soubemos aproveitar o momento criado para firmarmos nossa economia e ascendermos a uma posição de absoluta liderança na América Latina e por consequência no próprio mundo. Continuamos pequenos, servindo mesas, mas nelas não assentando e delas nada aproveitando.
E pronto aconteceu, parece que os norte americanos selaram paz econômica com aquele país para atender suas próprias necessidades e cá ficamos nós com nossas birras ideológicas e com responsabilidade de mantermos os desabrigados que aqui acolhemos. Levantado o bloqueio, a Venezuela breve sairá de suas dificuldades e esses mesmos refugiados talvez nem nos deem adeus e ainda sairão reclamando.
Não aprendemos a sermos espertos, embora façamos questão de exibir malandras sabedorias.
Que Deus traga futuro melhor à Venezuela e nos perdoe por tanto descuido para com a inteligência, pois se não fosse…