“O bonito me encanta, mas o sincero, ah! Esse me fascina.” Com a intensidade lírica que lhe é característica, Clarice Lispector nos oferece mais que uma frase — oferece uma lente pela qual podemos olhar a complexidade do que é ser verdadeiro. E mais ainda: nos provoca a pensar sobre como a sinceridade, quando bem compreendida, é uma forma de delicadeza em tempos de ruído.
Sinceridade não é um ato impensado de fala livre. É uma escolha ética. É um gesto que carrega responsabilidade, porque não se trata apenas de dizer o que se pensa, mas de considerar o que o outro sentirá ao escutar. Ah!, também possui lucidez pontual: saber o momento certo para entabular um assunto de tamanha importância; e esse momento não é só temporal, mas um espaço emocional, que aguarda com extremo carinho o outro estar predisposto a ouvir aquela verdade.
Nas muitas situações em que atendo pessoas ou grupos em busca de melhoria pessoal ou profissional, percebo o quanto há confusão entre o ser sincero e o ser cruel. Sinceridade não é sinônimo de grosseria. E há um nome para aqueles que se valem da “verdade nua e crua” como desculpa para ofender: sincericidas. Eles manejam palavras como lâminas, alheios à sensibilidade do outro, sem qualquer preocupação com o impacto daquilo que dizem. E há também os “sem noção”, que, movidos por impulsividade ou falta de filtro emocional, atropelam as relações sob o falso pretexto de honestidade.
Entretanto, a verdadeira sinceridade — aquela que fascina, como diz Clarice — é quase uma arte. É a que se pronuncia com respeito, com empatia e com propósito. É a que se aproxima da profilaxia, pois purifica as relações, sem contaminar com julgamento ou vaidade. Essa sinceridade não é fake news emocional, não grita verdades para se impor, não humilha para se afirmar. Ao contrário: ela edifica.
Na filosofia clássica, sinceridade era virtude que andava ao lado da coragem e da prudência. Era, como hoje ainda deve ser, um compromisso com a verdade e com o bem viver. Quando essa verdade é ofertada com ternura, ela deixa de ser arma e se transforma em bálsamo.
E é por isso que, em tempos tão barulhentos, a sinceridade que cuida é um ato revolucionário. Ela não se vale da força, mas da escuta. Ela não se impõe, mas se revela. E revela-se como farol — desses que não ofuscam, mas iluminam caminhos.
Que saibamos cultivar essa verdade que não fere, que não se veste de arrogância nem se esconde sob capas de cinismo. Que sejamos sinceros, sim, mas com alma limpa e mãos abertas. Que nossa sinceridade seja sempre ponte — nunca pedra.
A beleza da sinceridade que edifica

Professora, historiadora, coach practitioner em PNL, neuropsicopedagoga
clínica e institucional, especialista em gestão pública.