Vivemos em uma sociedade onde o uso de máscaras não é exceção, mas norma. Máscaras sociais, emocionais, morais. Desde a infância, somos moldados a interpretar papéis: o bom filho, a menina comportada, o profissional exemplar, o cidadão ajustado. Muitas dessas posturas são assimiladas inconscientemente, como códigos herdados do que Carl Gustav Jung chamou de inconsciente coletivo — um reservatório profundo de imagens, arquétipos e padrões herdados que nos formam mais do que imaginamos.
Jung nos alerta: há em cada um de nós uma “persona” — a máscara social que usamos para sobreviver no mundo. Ela é útil, necessária até. Mas o problema nasce quando nos esquecemos de que é só uma máscara. Acreditamos ser aquilo que representamos. A liberdade, então, não é um grito de revolução externa, mas um processo lento, silencioso, interno e intransferível.
Libertar-se das sombras do inconsciente é aceitar o desconforto da autenticidade. Significa enfrentar o deserto da alma, onde não há plateia, nem manual de comportamento, nem aplausos garantidos. Jung narra o mito simbólico da floresta onde todos os habitantes usavam máscaras. Um deles, um só, ousou retirá-la. Sentiu o vento no rosto, a nudez da própria alma, o peso da rejeição dos outros — que só sabiam viver escondidos. A ousadia de ser livre não foi recebida com palmas, mas com cólera.
Este é o paradoxo da liberdade interior: quanto mais autêntico alguém se torna, mais confronto sofre de um sistema que depende de máscaras para funcionar. A sociedade naturaliza personagens e deslegitima quem tenta ser verdadeiro. Ser livre é uma ameaça a quem ainda está preso.
Por isso, o verdadeiro desafio do bem viver não está nas conquistas exteriores, mas na jornada solitária de descobrir as próprias habilidades e competências, sem a mediação da aprovação alheia. Exige coragem para descer aos porões da própria psique, olhar a sombra nos olhos e, aos poucos, ir recolhendo os pedaços perdidos do self.
A liberdade plena não será nunca um estado coletivo, imposto por leis ou regimes. Ela é uma travessia individual. Um sopro de ar fresco no rosto nu. Um risco de rejeição. Mas também o único caminho possível para uma existência íntegra.
Afinal, como já sugeria Jung, tornar-se quem se é é o maior ato de coragem e de amor que podemos oferecer ao mundo.
Parece simples, acadêmico e prático, n~~ao é mesmo? Todavia, leva-se uma vida inteira para se conseguir retirar máscaras e viver plenamente, de acordo com sua própria essência, sua própria luz.
O maior paradigma de todos os temos, de todas as épocas é usar suas chaves internas para abrir seus próprios porões e ser quem se é, ser sua essência.
Desejo a você e a mim, caro leitos, cara leitora, a coragem e a inteligência hercúlea de ser você mesmo.
Liberdade das Sombras: o Desafio de Viver Sem Máscaras

Professora, historiadora, coach practitioner em PNL, neuropsicopedagoga
clínica e institucional, especialista em gestão pública.