Ao longo da História, em diferentes tempos e contextos, os poderosos sempre buscaram um “culpado oficial” para os males de sua época. Essa prática não apenas desviava a atenção das mazelas sociais, mas também criava alvos fáceis para o ódio coletivo. A trajetória vai do Império Romano, passa pelas cruzadas e pelos totalitarismos modernos, e chega até os dias atuais, com discursos extremistas propagados pelas redes e até mesmo reforçados por mecanismos inteligentes, como a Inteligência Artificial.
O ser humano foi, paulatinamente, saindo das cavernas e se humanizando, todavia, ao longo da história vemos, com tristeza quantas vezes os grupos humanos caíram, se desumanizando, retornando ao nicho de animal irracional, mesmo usando sua mente pensante, porém, distorcendo o bem e fomentando o mal.
O fogo de Roma e a culpa dos cristãos
Em 64 d.C., o imperador Nero enfrentava a devastação de Roma em chamas. Sem assumir responsabilidade, transferiu a culpa para um grupo ainda incipiente e socialmente marginalizado: os cristãos. O gesto não apenas consolidou a perseguição, mas inaugurou um padrão que atravessaria séculos: culpar minorias por tragédias coletivas. O discurso de ódio, propagado pelo poder central, legitimava torturas, espetáculos sangrentos e o fortalecimento de uma política de medo.
O Cristo e a gênese do termo “cristão”
É interessante notar que o próprio Jesus de Nazaré nunca se autodenominou “cristão”. Sua mensagem era centrada no amor, na compaixão e no Reino de Deus. Que, segundo o Mestre dos mestres, estava dentro do coração do homem. O termo, segundo os relatos bíblicos, aparece pela primeira vez em Antioquia, referido aos primeiros seguidores de suas ideias, sob a liderança missionária de Paulo de Tarso, o apóstolo dos gentios. A partir desse marco, uma identidade coletiva se consolidou, mas também passou a ser alvo constante de estigmatização.
O binômio santidade/martírio foi, ao longo dos séculos de cristianismo primitivo até nossos dias, com roupagens diferenciadas costuradas em conclaves e concílios, criou no imaginário popular uma lembrança quase imantada do Jesus morto, mártir, sofredor e pouco do Jesus Ressurreto, transfigurado, vivo e eterno símbolo da vitória da vida sobre a morte, da santidade versus o pecado.
A humanidade, como gado é conduzida pelo medo e pela dor; pois, a condução inteligente pela vitória de Jesus não gera medo nem fanáticos mas sim, cidadãos felizes e basedoss no bem comum, como citado em Atos dos Apóstolos: “ Os cristãos tinham tudo em comum, dividiam seus bens com alegria…” ( Atos 2: 42-47)
O peso da História e os ecos do extremismo
Nos séculos seguintes, a mesma fé que fora perseguida também se tornou perseguidora em diversos momentos. As cruzadas, a Inquisição e a colonização mostraram que o poder, quando se apropria de símbolos religiosos, pode manipular a fé para justificar violência. A linha tênue entre espiritualidade e dominação política revela os acertos e desacertos das igrejas cristãs, ora defendendo os marginalizados, ora reforçando estruturas de exclusão.
O jovem e o ódio contemporâneo
No mundo atual, ainda que as fogueiras de Roma tenham se apagado, novas labaredas de intolerância se reacendem. O brutal assassinato do jovem Charlie Kirk, morto por outro rapaz branco, expõe como o discurso extremista pode devorar até aqueles que compartilham da mesma origem étnica. O ódio não distingue, apenas destrói. Assim como na Roma antiga, ideias de supremacia e extermínio alimentam uma lógica perversa de inimigos fabricados.
Da Antiguidade ao ultramoderno
A história ensina que os mecanismos mudam, mas o padrão permanece. Antes, eram proclamações imperiais; depois, púlpitos e tribunais religiosos; em seguida, os megafones dos regimes totalitários. Hoje, são as redes sociais, potencializadas por algoritmos e Inteligências Artificiais, que podem reforçar bolhas de ódio, manipular massas e dar roupagem moderna a velhas ideologias excludentes.
Conclusão: entre a memória e a responsabilidade
Do Cristo que pregava o amor universal até Nero, que incendiava inimigos fictícios, a humanidade caminha entre luzes e trevas. O risco, no mundo ultramoderno, é usar a Inteligência Artificial não para promover conhecimento e inclusão, mas para perpetuar preconceitos e exclusões. O desafio ético do nosso tempo é não repetir, com ferramentas sofisticadas, os mesmos erros de imperadores doentios. Cabe a nós escolher: transformar a tecnologia em instrumento de ódio, ou em pontes de diálogo e esperança.
Cabe a nós nos posicionarmos a favor do bem, da luz, da paz, pois o silêncio dos bons faz crescer o barulho dos maus.
Sigo proclamando que Jesus de Nazaré, o Cristo de Deus me criou, me remiu e me salvou, temos, você e eu a possibilidade de vida eterna pelos ensinamentos e dores D’Ele.
Deveríamos viver numa Shangri-lá terrena, se praticássemos as máximas que Jesus ensinou, e sim, sou cristã, sou de Cristo e vivo para que seu Reino de Paz, de Justiça e de Santidade coletiva seja um dia implantado, como Ele mesmo orou ao Pai do Céu e está registrado em João17: “Pai, que todos sejam um para que o mundo creia!”(Jo17: 21-23)
De Nero à IA: a construção do inimigo e o discurso de ódio através da História

Professora, historiadora, coach practitioner em PNL, neuropsicopedagoga
clínica e institucional, especialista em gestão pública.