Imagine três inimigos silenciosos caminhando lado a lado: a obesidade, o diabetes tipo 2 e as doenças cardiovasculares. Essa “tríade” conhecida mordernamente como cardiodiabesidade, já é considerada pela Organização Mundial da Saúde um dos maiores desafios de saúde pública do século XXI. E o alerta não é exagero, pois, juntos, esses problemas crônicos representam milhões de mortes e bilhões de reais em custos todos os anos.
Os números impressionam. Segundo a OMS, mais de 1 bilhão de pessoas no mundo estão acima do peso. No Brasil, cerca de 60% dos adultos apresentam excesso de peso, de acordo com IBGE e sociedades médicas. O diabetes tipo 2, muitas vezes consequência direta da obesidade, já atinge 537 milhões de pessoas no planeta e cerca de 17 milhões de brasileiros. O resultado mais grave dessa combinação é o aumento das doenças cardiovasculares, que são a principal causa de morte no mundo, com cerca de 18 milhões de óbitos por ano. No Brasil, respondem por aproximadamente 400 mil mortes/ano.
O quadro fica ainda mais preocupante quando olhamos a Pesquisa Nacional de Saúde para as crianças, onde 14% delas já apresentam obesidade no país. Se nada for feito, é uma geração que chegará à vida adulta com risco aumentado para diabetes, infartos e derrames.
A obesidade não é apenas uma questão estética. O excesso de gordura, especialmente na região abdominal, provoca alterações hormonais que aumentam a resistência à insulina, grande porta de entrada para o diabetes tipo 2. O excesso crônico de glicose no sangue, por sua vez, danifica vasos sanguíneos e acelera a formação de placas de gordura nas artérias, levando a infartos, derrames e outras doenças cardiovasculares. É um efeito dominó, alimentado por má alimentação, sedentarismo e fatores genéticos.
Além do sofrimento pessoal, essa tríade pesa no bolso do país. Dados da Federação Internacional do Diabetes (IDF) mostram que o custo do diabetes no Brasil já passa de 40 bilhões de reais por ano, considerando gastos médicos e perda de produtividade. A aposentadoria precoce, queda na qualidade de vida, internações e as licenças médicas afetam famílias e empresas.
A boa notícia é que essas doenças são em grande parte preveníveis. No nível coletivo, políticas públicas como a taxação de bebidas açucaradas no México, que reduziu o consumo, e a rotulagem frontal no Chile mostram resultados positivos. Investir em ciclovias, parques e espaços para atividade física também funciona, Bogotá é exemplo.
No nível individual, mudanças simples têm impacto enorme. Dietas equilibradas, inspiradas no padrão mediterrâneo, e pelo menos 150 minutos semanais de atividade física moderada são capazes de reduzir o risco de desenvolver diabetes tipo 2 em até 58%. O rastreamento precoce com medições regulares de glicemia, colesterol, pressão arterial e índice de massa corpora permite detectar problemas antes das complicações. Em casos mais graves, medicamentos e até cirurgia bariátrica podem ser indicados sob orientação médica.
A tríade obesidade-diabetes-coração não é um destino inevitável. Com ações combinadas de indivíduos, profissionais de saúde e governos, é possível reverter essa tendência. Cada pessoa pode começar hoje mesmo a trocar bebidas açucaradas por água, subir escadas, priorizar frutas e verduras no prato. Ao mesmo tempo, gestores e políticos precisam criar ambientes que facilitem escolhas saudáveis.
Conforme dados da OMS, investir em prevenção salva vidas e reduz custos para toda a sociedade. Quanto antes entendermos que a obesidade, o diabetes e as doenças cardiovasculares são faces da mesma moeda, mais chances teremos de escrever um futuro diferente para as próximas gerações.
CARDIODIABESIDADE a tríade fatal “diabetes-obesidade-coração” que ameaça a saúde global.

Especialista em Nefrologia e Clínica Médica; Membro titular da Sociedade
Brasileira de Nefrologia Professor da Universidade Federal do Amapá
(UNIFAP); Mestre em Ciências da Saúde Preceptor de Clínica Médica. CRM
892 RQE 386