Vivemos tempos em que a palavra “equilíbrio” parece ter se tornado artigo de luxo. No corpo, perdemos a harmonia entre o descanso e o excesso de estímulos; na religião, multiplicam-se intolerâncias e extremismos; na cultura, a pressa da globalização dissolve identidades sem permitir a justa convivência das diferenças. O que falta, em todos os aspectos da vida, é exatamente o que deveria ser a base da humanidade: equilíbrio.
Geração após geração, como uma memória coletiva como explicava Carl Jung, aguardam a destruição dos outros que são maus para acontecer a salvação dos bons. A questão racional e cristã apoiada em Jesus é que: quem de nós é santo, é puro, é bom?
Carl Jung explicou o inconsciente coletivo como uma camada psíquica universal, herdada e compartilhada por toda a humanidade, compartilhado por toda a humanidade, que contém imagens e padrões de comportamento inatos, chamados arquétipos, e que influencia nossos sonhos, mitos e experiências. O conceito que abordo aqui é essa herança psíquica transmitida através das gerações, como uma biblioteca ancestral, com símbolos e imagens, base para mitos e crenças.
A história mostra que o ser humano sempre buscou essa medida. As antigas civilizações tentaram alcançá-la por meios contraditórios: de um lado, a força da guerra, que instaurava ordens frágeis; de outro, a fé em religiões pagãs ou teístas, que organizavam ritos, costumes e visões de mundo. Mas, como um pêndulo, a humanidade oscilava entre o excesso e a falta, raramente permanecendo no ponto médio.
Na tradição cristã, um dos grandes pensadores da Igreja, São João Crisóstomo, destacou que o equilíbrio não se encontra apenas em discursos ou teorias, mas sobretudo na prática do bem e na vida familiar. Para ele, a casa era o templo primeiro, onde o afeto desinteressado e a partilha cotidiana ensinavam o que nenhum sermão poderia gravar com tanta força: o valor da temperança e da moderação. Reforçava o poder da oração e da fé, vendo tanto o homem como o divino, pois, ensinava João: “Tu não desejas tanto teu perdão quanto Deus deseja perdoar-te”, equilibrando o Céu e a Terra. O ser terreno, com o Ser Divino.
Sobre o equilíbrio da família, ele, João Crisóstomo ensinava; “O matrimônio é um sacramento sagrado para a união de marido e mulher, com o propósito de santificação e de alcançar a vida eterna juntos, através do sacrifício e do amor mútuo, para serem companheiros na jornada de ascensão ao Céu”. Longe do marketing atual de programas de enriquecimento e casais ensinando fórmulas mágicas para prosperidade, ou religiões apocalípticas estabelecendo o fim dos tempos, o juízo final, evidenciando o desequilíbrio da mente coletiva e de pessoas adoecidas na ânsia de impor a sua verdade custe o que custar!
Os séculos medievais, modernos e contemporâneos, cada um à sua maneira, trouxeram novas provas de como o homem busca e perde o equilíbrio. O advento da internet, em nossos dias, foi como abrir a famosa Caixa de Pandora: verdades, meias-verdades e mentiras passaram a ser lançadas nos ventiladores digitais, cruzando do Ocidente ao Oriente em segundos. A consequência é visível: uma humanidade que carece de serenidade, onde a busca pela verdade continua sendo, em muitos aspectos, platônica — sempre fora do ser, sempre além do alcance.
Essa corrida por verdades externas, muitas vezes moldadas por dogmas de fé ou ideologias de guerra, gera um verdadeiro temporal de desequilíbrios. O mundo moderno está cheio de diagnósticos para os males da alma, mas vazio de caminhos que levem a um ponto central de paz e de encontro consigo mesmo.
E, no entanto, a resposta parece estar diante de nós, simples e clara. O equilíbrio não virá de sistemas econômicos, partidos políticos ou discursos religiosos isolados. Ele precisa nascer dentro do próprio ser humano. “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” Disse Jesus. Encontrar a verdade em si mesmo, valorizar a família como espaço de afeto e segurança, cultivar um amor desinteressado pelo próximo — esses são os pilares de uma vida equilibrada.
Jesus já nos havia mostrado esse caminho ao prometer “dias longos sobre a Terra” àqueles que soubessem honrar pai e mãe, respeitar a vida e cultivar o amor. O equilíbrio que falta ao mundo talvez seja o mesmo que sempre esteve ao alcance da humanidade: a reconciliação entre corpo e espírito, razão e fé, indivíduo e comunidade.
Num tempo em que tanto se grita e tão pouco se ouve, talvez o maior gesto revolucionário seja silenciar o ruído externo e reencontrar, dentro de si, no Cristo Interno, o ponto firme onde o pêndulo repousa. O nome desse ponto é simples e eterno: equilíbrio.