Sempre digo que a amizade é a melhor coisa da vida. O primeiro amigo que Deus me deu foi o livro. Ele me acompanha por toda a minha vida, cada ano com maior presença e estreito aconchego. O livro nos conforta e nos suporta nos momentos difíceis e nas horas tristes. Acredito que tenha passado um quarto de minha vida lendo. Muitas vezes troquei a companhia do meu sono pela de um livro.
Na verdade, o primeiro amigo que tive, à frente do livro, foi o meu pai. Quando eu tinha poucos anos, durante minha infância, mas já com a consciência presente, meu pai chamou-me e disse: “José, ninguém nasce sem um pai. Eu já sou o teu, agora quero ser também teu amigo.” Assim passei a viver ao seu lado até a sua morte — novo ainda, aos 58 anos —, desfrutando do seu carinho e do seu amor de pai, mas também da convivência com um amigo, na sorte de estarmos sempre juntos: eu ouvindo seus conselhos, as histórias que ele contava, no prazer e na força dessa amizade, numa constante troca de ideias, aprendendo seus ensinamentos sobre educação, disciplina, paciência, prudência, solidariedade e amor.
Deus concedeu-me a felicidade de ter amigos da vida inteira, e não canso de agradecer todos os dias por compartilharem comigo as tristezas e alegrias desta existência. Alguns amigos da infância me acompanharam na adolescência e maturidade. Hoje velhos estamos, velha a nossa amizade permanece. Maranhão, minha terra e meus amigos. (Buzar, diga a todos que estão sempre em meu coração.) E que saudade de Bandeira Tribuzzi, Ferreira Gullar…
Nessas amizades antigas estão as pessoas que nos mostram um “espelho do tempo”, não nos deixando esquecer de quem somos verdadeiramente, pois nos conhecem há tanto tempo que, às vezes, nos enxergam com mais clareza do que nós mesmos. Se consideram que agimos de forma que não nos reconhecem em algum momento, nos tropeços da vida, logo dizem: “Que é isso, meu amigo? Nem o conheço mais.” E assim nos ajudam a “acertar o passo.”
Não resisto e vou citar alguns nomes para homenagear todos os amigos do início de minha vida parlamentar, pois também não saem do meu coração. Primeiramente, Odylo Costa, filho e Josué Montello. Em seguida, Manuel Bandeira, Afonso Arinos, Gilberto Amado, Jorge Amado, nossa querida Zélia, Rachel de Queiroz, Alceu Amoroso Lima, Aurélio Buarque de Holanda, Austregésilo de Athayde, Carlos Chagas Filho, João Cabral de Mello Neto, Otto Lara Resende, Carlos Castelo Branco, José Américo de Almeida.
Nos meus sessenta anos de vida política, em que tive a sorte e a ventura de ser deputado federal, governador, senador por dois Estados, Maranhão e Amapá, e presidente da República, pude colecionar uma miríade de amigos. Mais do que os cargos que ocupei, muito me orgulho das amizades: políticos, diplomatas, jornalistas, chefes de Estado, com muitos ainda desfruto do gosto da convivência e da troca de ideias que me enchem a alma.
Sempre tive muito gosto de ter amigos. Os que trabalham comigo, ou com quem tenho qualquer relação profissional, transformam-se em amigos, tornando-se quase familiares. Assim tenho sido a vida inteira. E não me arrependo.
Nesta altura de minha vida, descobri que tenho gosto também de fazer novos amigos. Comecei a pensar na poderosa força do outro, como ensinou Cristo, quando recentemente, nesta minha idade, tive alegria de estreitar convivência com pessoas da Associação dos ex-Alunos da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, na USP — que, no ano de 2026, completa 200 anos —, que me convidaram para fazer parte da comissão de assuntos que deverão marcar esta data, sob a presidência da celebrada diretora eleita da Faculdade, Profª Drª Ana Elisa Bechara, grande talento, muito querida pelos alunos da Casa.
Assim conheci Rui Caminha, excelente pessoa, dedicado a servir a história da entidade, zelando por ela com total doação. Conheci também homens vitoriosos, novos de idade, mas já grandes advogados de São Paulo, ex-alunos com as raízes na velha faculdade de sua formação. Com eles, gente nova de fora do mundo da política, em agradáveis almoços, percebi um outro lado da realidade brasileira: o quanto essa gente nova está preocupada não só com o País, mas também com a literatura, com a cultura.
Ao nos despedirmos após um encontro, instintivamente, chamei-os de “amigos” e descobri uma força também nas novas amizades abrindo os horizontes de nossas vidas.