Olá, meus amigos! Hoje, na coluna Emdireito, vamos dar continuidade à reflexão da semana passada sobre compliance nas pequenas e médias empresas (PMEs). Se antes discutimos os fundamentos legais e estruturais da integridade corporativa, hoje o foco é como a cultura ética pode gerar lucro, valor de marca e longevidade para os negócios.
Durante anos, o compliance foi encarado como um custo, uma burocracia ou um “freio” para a produtividade. No entanto, a experiência prática — e os estudos de mercado — mostram o contrário: a integridade é um ativo financeiro. Empresas éticas atraem investimentos, reduzem perdas com fraudes e aumentam a confiança do consumidor.
De obrigação a vantagem competitiva
Segundo pesquisa da Deloitte Brasil (2024), organizações com políticas de compliance consolidadas apresentaram crescimento médio 12% superior em produtividade e 25% menos incidentes de risco jurídico que aquelas sem estrutura de integridade.
Em mercados cada vez mais transparentes, a confiança virou moeda de troca. Consumidores e investidores avaliam reputação, histórico ambiental e social antes de fechar contratos. Isso se conecta diretamente aos pilares ESG (Environmental, Social and Governance), em que o “G” — de governança — é sustentado pelo compliance.
Compliance lucrativo: como a ética reduz custos
Menos litígios, mais eficiência
Empresas que monitoram riscos e corrigem falhas internamente evitam processos judiciais e administrativos caros, que muitas vezes decorrem de erros simples de gestão.
Atração de parceiros e investidores
O mercado financeiro internacional tem priorizado empresas com histórico de governança. Um relatório do World Economic Forum (2023) indica que fundos de investimento e bancos já incluem critérios de compliance e ética nas decisões de crédito.
Retenção de talentos
Ambientes íntegros reduzem a rotatividade e atraem profissionais qualificados. A pesquisa GPTW Brasil 2024 mostrou que empresas com políticas claras de ética e transparência têm índice de satisfação de 87% entre funcionários, contra 63% nas demais.
Ferramentas práticas para consolidar a integridade
- Códigos de Ética vivos — devem ser comunicados e aplicados de forma constante, não apenas distribuídos em papel.
- Indicadores de integridade — use métricas de denúncias apuradas, treinamentos realizados e satisfação ética interna.
- Canais de denúncia eficientes — devem ser sigilosos, acessíveis e com retorno claro ao denunciante.
- Auditorias regulares — revisões periódicas para detectar falhas de controle ou vulnerabilidades financeiras.
- Transparência ativa — publicação de relatórios de integridade e sustentabilidade reforça a credibilidade da marca.
Casos que ilustram o valor da integridade
● Natura & Co é exemplo de empresa brasileira reconhecida internacionalmente por suas práticas éticas e sustentáveis. O grupo integra desde 2019 o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE B3), demonstrando que ética e lucro são compatíveis.
● Magalu, após investir em políticas de diversidade e governança, aumentou em 15% o valor de mercado entre 2021 e 2023, segundo relatório da Refinitiv ESG Score.
Esses exemplos mostram que compliance não é apenas um seguro contra riscos — é um investimento em reputação e confiança, que se converte em resultados concretos.
O papel do gestor e do jurídico
O advogado e o gestor público ou privado têm papel essencial na consolidação dessa cultura. Mais do que aplicar normas, devem atuar como educadores internos, promovendo ética, transparência e coerência entre discurso e prática.
A Controladoria-Geral da União (CGU) reforça essa visão no Programa Pró-Ética, que premia empresas que incorporam políticas reais de integridade, independentemente do porte. A nova diretriz de 2025 ampliará esse reconhecimento para PMEs, incentivando a implementação gradual de boas práticas.
Desafios futuros
O grande desafio está em transformar a cultura de integridade em algo orgânico, e não apenas normativo. A ética precisa estar presente em todas as decisões — desde a escolha de fornecedores até o marketing da empresa.
Com a crescente digitalização, o compliance também precisará lidar com novos riscos cibernéticos, uso de dados pessoais e inteligência artificial, exigindo atualização constante das práticas e das normas internas.
A integridade é, hoje, o principal diferencial competitivo de qualquer negócio. Empresas éticas são mais lucrativas, sustentáveis e respeitadas — e o compliance é o caminho para garantir isso.
Como diz o jurista Fábio Medina Osório, “a ética é o capital invisível das organizações”. Cultivar esse capital é mais do que cumprir regras: é construir um legado.
Até domingo que vem, meus amigos!
Para continuar essa conversa sobre integridade, ética e direito, me acompanhem nas redes sociais: @andrelobatoemdireito.