Nos últimos anos, o tema da depressão deixou os consultórios e chegou às conversas de família, aos programas de TV e às redes sociais. Isso não é por acaso, trata-se de um dos maiores desafios de saúde do nosso tempo. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) cerca de 5% da população mundial convive com depressão em algum momento da vida, o que equivale a mais de 330 milhões de pessoas.
No Brasil, os números são ainda mais expressivos, a Pesquisa Nacional de Saúde de 2019 apontou que 10,27% dos adultos brasileiros ou cerca de 16,3 milhões de pessoas têm diagnóstico médico de depressão. Essa proporção cresceu quase 37% em apenas seis anos, comparada ao levantamento anterior.
Por que estamos tão tristes? A depressão é um transtorno de humor que vai muito além de sentir tristeza ou cansaço. De acordo com a American Psychiatric Association, ela se caracteriza por um conjunto de sintomas persistentes com humor deprimido, perda de interesse por atividades antes prazerosas, alterações no sono e no apetite, dificuldade de concentração, lentidão, culpa excessiva e, nos casos mais graves, pensamentos de morte.
Enquanto a tristeza comum é uma resposta natural a perdas e decepções, a depressão dura mais tempo, é mais intensa e desproporcional às circunstâncias. Ela afeta o corpo, o comportamento e a forma como a pessoa percebe o mundo.
Um dos mitos mais perigosos é acreditar que a depressão “passa sozinha” ou que “falta força de vontade”. Na verdade, é uma doença que envolve alterações químicas e estruturais no cérebro, especialmente em áreas que regulam o humor e a motivação, como o hipocampo e o córtex pré-frontal.
Em todo o mundo, a depressão é hoje a principal causa de incapacidade laboral e uma das maiores fontes de sofrimento humano. Segundo a OMS, ela contribui significativamente para o aumento de doenças cardiovasculares, dores crônicas e até para o suicídio, responsável por cerca de 700 mil mortes anuais.
No Brasil, a Organização Pan-Americana da Saúde estima que mais de 48 milhões de pessoas nas Américas vivam com depressão. Em nosso país, a situação é agravada por fatores sociais, como desigualdade, violência urbana e acesso limitado a atendimento psicológico pelo SUS.
Outro ponto alarmante é o impacto da pandemia de COVID-19, que intensificou o isolamento, o luto e o medo. Um estudo publicado na The Lancet em 2021 estimou um aumento global de 27% nos casos de depressão em 2020, especialmente entre jovens e mulheres.
As estatísticas revelam padrões consistentes. As mulheres são duas vezes mais propensas a apresentar depressão do que os homens. Isso pode estar ligado a flutuações hormonais, sobrecarga de papéis sociais e maior exposição a situações de violência. Os jovens têm apresentado índices crescents. Segundo o National Institute of Mental Health, entre os americanos de 18 a 25 anos, 17% relataram um episódio depressivo em 2021, o dobro do registrado entre pessoas acima de 50 anos. Entre os idosos, a depressão frequentemente se confunde com sintomas físicos ou comorbidades, o que atrasa o diagnóstico. Pessoas em situação de desemprego ou com doenças crônicas, como diabetes e hipertensão, também apresentam maior risco.
A depressão é, portanto, um reflexo de fatores biológicos, psicológicos e sociais e a soma desses elementos explica por que o problema cresce mesmo em sociedades modernas e conectadas.
Nem sempre é fácil perceber quando a tristeza comum se transforma em algo mais grave. Sinais de alerta incluem falta de energia constante, perda de prazer em atividades, alterações de sono ou apetite, culpa sem motivo claro, isolamento social e ideias de desesperança. Esses sintomas persistem por semanas e afetam o cotidiano, o desempenho no trabalho e os relacionamentos.
A boa notícia é que a depressão tem tratamento eficaz. A combinação de psicoterapia e medicamentos antidepressivos mostra bons resultados em mais de 80% dos casos, segundo a OMS. Além disso, mudanças no estilo de vida, prática de exercícios, sono regular e uma rede de apoio emocional são essenciais para a recuperação.
No Brasil, o SUS oferece atendimento gratuito em Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), que acolhem pessoas em sofrimento psíquico. Entretanto, ainda há um longo caminho a percorrer. O estigma que associa a depressão à fraqueza ou à “frescura” faz com que muitas pessoas adiem o diagnóstico. E quanto mais tarde o tratamento começa, mais longa e difícil tende a ser a recuperação.
Falar sobre depressão é falar sobre saúde pública, empatia e cultura. Cada pessoa que sofre em silêncio representa não apenas uma história individual, mas também um reflexo de uma sociedade acelerada, desigual e exausta. Reconhecer os sinais, oferecer escuta e valorizar o cuidado são atitudes simples, mas capazes de salvar vidas. Como lembra a OMS, “não há saúde sem saúde mental”.

