Terras Raras: nem terra, nem raras — mas decisivas para o futuro
O nome engana. Terras Raras não são terras e tampouco são raras. São, na verdade, um conjunto de elementos químicos naturais encontrados no solo do planeta Terra, amplamente distribuídos, inclusive em abundância no Brasil. O que as torna estratégicas não é a escassez, mas o conhecimento científico, tecnológico e industrial necessário para identificá-las, separá-las, processá-las e transformá-las em valor agregado.
Esses elementos estão presentes em praticamente tudo o que define a vida contemporânea: celulares, computadores, carros elétricos, turbinas eólicas, equipamentos médicos de alta precisão, exames por imagem, próteses, satélites, sistemas de defesa e tecnologias verdes. Do bolso à sala de cirurgia, das comunicações à medicina avançada, as Terras Raras são invisíveis, porém indispensáveis.
E aqui reside o ponto central: não basta ter o recurso natural; é preciso dominar o saber.
Atualmente, China e Estados Unidos da América dominam o mercado global das Terras Raras. A explicação é direta, objetiva e desconfortável para quem insiste em narrativas simplistas: são potências porque investem pesado, contínuo e estratégico em pesquisa científica, inovação tecnológica e industrialização em larga escala. Não se trata apenas de extrair, mas de transformar conhecimento em soberania econômica.
O Brasil, por sua vez, permanece riquíssimo em minérios e pobre em industrialização estratégica. Seguimos presos a uma lógica herdada da História Colonial: extraímos, exportamos matéria-prima barata e depois importamos caro aquilo que não produzimos. Continuamos monoexportadores em um mundo que premia quem pesquisa, cria, transforma e industrializa.
Este artigo não é sobre engenharia, nem química. É, sobretudo, sobre pedagogia e filosofia da educação. O que falta ao Brasil não está no subsolo — está na superfície das escolhas políticas, educacionais e culturais.
Falta estudo sistematizado sério, de norte a sul do país. Falta pesquisa contínua e integrada, diálogo técnico entre as diversas cadeiras acadêmicas nas universidades, rompendo o isolamento entre áreas do saber. Falta uma educação de base sólida, que forme leitores, pensadores, cientistas e cidadãos produtivos. Falta um ensino médio verdadeiramente voltado à pesquisa científica, nas três grandes áreas do conhecimento: humanas, biológicas e exatas.
Falta, ainda, meritocracia real, que identifique, valorize e premie jovens talentos educacionais, especialmente aqueles oriundos da escola pública. Falta uma pedagogia que ensine a pensar, investigar, testar hipóteses, errar, corrigir e avançar — não apenas decorar conteúdos fragmentados.
Não sairemos da condição de vergonha nacional enquanto insistirmos em diagnósticos rasos. Desde os anos 1990, com a entrada em vigor da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB nº 9.394/96), muito se debate. É preciso dizer com clareza: o problema não está na lei em si, mas na sua interpretação, aplicação e, em muitos casos, deturpação. A educação foi esvaziada de rigor intelectual, exigência cognitiva e compromisso com o conhecimento científico profundo.
Em síntese — e sem rodeios — um país forte se constrói com escola forte, pesquisa forte e indústria forte. Não existe soberania sem ciência. Não existe desenvolvimento sem educação. Não existe futuro sem coragem de romper com modelos ultrapassados.
Pronto. Falei.
TERRAS RARAS
Professora, historiadora, coach practitioner em PNL, neuropsicopedagoga
clínica e institucional, especialista em gestão pública.

