São leves rastros, são sombras alongadas das tardes, sinuosas lembranças nas lentes embaçadas, imagens vazadas das auroras catalogadas em arquivos ressoantes – ecos de risos, silêncios, gargalhadas, ordens, saudações, lamentos, rezas, disparates e outras versões não publicáveis ou não customizadas.
Caminhava entre árvores centenárias, folhas enferrujadas pelo solo e a umidade cobriam, atapetavam, a trilha por onde passava.
Ouço o alarido dos pássaros nas travessas dos jardins floridos e sou invadida por reflexões pensantes de acontecimentos passantes.
Quem será o oleiro que faz nascer as manhãs em explosões de fornos solares ou a tecelã que tece o manto da noite com estrelas faiscantes? Outras vezes um manto tão denso e escuro que até pensamento anula…
E as cortinas de nuvens, tecitura de fios cinzas de variados tons? Quem será o artesão ou artesã…
Quem será o artífice dos prédios imponentes que sob a calçada guarda ou desguarda o pedinte sem teto, sem pão, sem alento e cuja fome é seu sustento?
Quem será o roteirista do filme 2021? Onde o trabalho honesto desmerece, diminui as chances de sobrevida das pessoas; enquanto o oportunismo, a mentira e a safadeza são louvadas e agraciadas com recheadas contas bancárias, títulos, status, poderes, selfies e protagonismo?
Não há de ser um artesão. Artesões trabalham dando cor e ânimo às expressões divinas do justo valor nos detalhes mínimos. Desenham suas telas com a aquarela do amor e os pincéis do saber que lhes revela o encanto da vida.
Artesã de minha rota, viajo por terras ignotas, minerando pedras raras de brilho invisível – tesouros escondidos nos alforjes do coração sem possibilidade de um ataque furtivo.