Semana passada, tive a dolorosa experiência de perder um grande amigo: Delmir Ferreira, colega advogado com o qual dividi alegrias, sobretudo no campo futebolístico com suas resenhas extraordinárias no qual se identificava com o pseudônimo de “Del Piero”. Friedrich Nietzsche, um dos mais profundos pensadores da filosofia moderna, refletiu de forma intensa sobre temas existenciais, como a morte, a perda e o luto. Para Nietzsche, a morte de um amigo pode ser compreendida dentro de seu arcabouço filosófico que valoriza a vida, o sofrimento e a superação. Ele não via a morte de forma sentimental ou emocional no sentido tradicional, mas sim como parte integrante do fluxo da vida, algo inevitável que deve ser enfrentado com coragem. Essa perspectiva, contudo, não é fácil na dureza da realidade.
A morte, assevera Nietzsche, é uma lembrança constante da nossa finitude e, ao mesmo tempo, um estímulo para viver com mais intensidade. Ao perder um amigo, o filósofo provavelmente encorajaria a enfrentar a dor com um espírito de aceitação e, acima de tudo, superação. A perda não deve nos conduzir a um estado de resignação ou melancolia prolongada. Afirma Nietzsche que a vida é um processo de contínuo devir, e a dor, inclusive a perda de um ente querido, faz parte desse movimento. A perspectiva de Nietzsche sobre a morte está profundamente conectada à sua ideia de amor fati — o amor pelo destino. Para ele, a aceitação plena da vida inclui aceitar a morte como parte inevitável dessa jornada. Ao invés de se perder no luto, Nietzsche sugeriria que se deve honrar a memória do amigo morto vivendo plenamente, sem se deixar consumir pela dor ou pela nostalgia.
Além disso, a morte de um amigo poderia ser vista, sob a ótica nietzschiana, como uma oportunidade para refletir sobre o conceito do eterno retorno. A amizade, segundo Nietzsche, é também uma relação baseada em crescimento mútuo. A morte de um amigo poderia ser encarada como o fim de um ciclo de crescimento, mas não como o fim de todo o aprendizado e transformação que essa amizade proporcionou. O amigo que parte deixa, em nós, um legado de experiências compartilhadas que nos moldaram e, por isso, sua memória deve ser honrada através da continuação de nossa própria jornada de autoaperfeiçoamento.
Em suma, a morte de um amigo, na visão de Nietzsche, não é um fim trágico, mas uma parte do fluxo natural da vida. A dor é um desafio, uma chance de transcender e de se fortalecer. Ao invés de nos entregarmos ao desespero. A filosofia de Nietzsche nos impulsiona a usar a morte como um lembrete da nossa própria mortalidade e como um convite para viver com mais profundidade e coragem. O luto se torna, assim, uma ponte para a superação e para a reafirmação da vida. Há de se esperar que esta deva ser a lição da perda de Delmir Ferreira, um impulso para nos alinharmos com a ideia de finitude, mesmo as mais bruscas e impensadas. Ficará a saudade do calor humano simples e sincero, do futebol como instrumento de conexão e dos papos como verdadeira ferramenta de humanidade. Assim foi Delmir Ferreira, esse feixe de virtudes que continuará a nos inspirar.
A partida de Delmir Ferreira sob a ótica nietzschiana
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