Acredita que de lá sairá a panaceia para o capitalismo. Lamentavelmente, está mais para Caixa de Pandora, por essa razão a periferia jamais deva ser abandonada à própria sorte, todavia não pode ser ativamente incorporada definitivamente à paisagem urbana. Ela é uma como uma peça defeituosa; um arremedo de vida digna. A esquerda busca glamorizá-la como quem faz maquiagem grosseira.
A periferia não pode ser confundida como entidade político-ideológica nem pode ser cultuada como CHIC ou uma forma de vida que deva ser estimada e que, um dia, assumirá a dianteira para equilibrar as forças do mundo, quiçá liderá-lo. Alguém gostaria de viver nas periferias das grandes cidades brasileiras? Obviamente não, exceto os excêntricos e aqueles milhões de brasileiros destituídos por necessidade de sobrevivência. O articulista escreve mesmerizado com a literatura da periferia. Particularmente, acredito que essa arte literária é algo simplesmente FANTÁSTICO. Demonstra a resiliência do indivíduo num ambiente tão inóspito, onde lhe falta saneamento básico, água potável, energia, espaços de lazer, delegacia de polícia, serviços médicos e etc e que portanto, que deva ser observado com um olhar de aprendizado para todos. A periferia não deveria existir. A coexistência com o “centro”, também, é complexa, permeada da atritos, conflitos e preconceitos de ambas as partes e muito ressentimento. Se há algo a louvar nessa literatura da periferia, não é a periferia em si, nem tampouco a constante e denúncia sem fim da vida dura do pobre e seus recalques e complexos de inferioridade e sim, quando o escritor-a fala desse homem e suas relações interpessoais e com o mundo em que vive, sem apontar o outro como causa de suas dificuldades e fracassos.
Acima disso, se a literatura da periferia é boa, que o seu escritor tenha sucesso não importa a sua condição!
Paulo Rebelo
Médico e poeta
