O Brasil assiste atônito acirradas brigas políticas onde há um explicito chamamento da população à luta armada e à violência reativa. Discursos de ódio são proferidos diariamente em todos os canais de comunicação, onde há intensas campanhas para armar a população para supostamente se defender da violência cotidiana. Nessas campanhas insanas, há uma glamourização das mortes praticadas pelo estado contra seus cidadãos que praticam violência e até de particulares que são aclamados como heróis quando eliminam um delinquente. Os defensores dessa prática se autoproclamam patriotas, como se patriotismo fosse sinônimo de negação da própria pátria e da condição de ser humano.
Bapuji – por caminhos bem mais nobres – visualizava virtude na raiva, fosse qual fosse seu substrato. Entendia que a raiva poderia produzir a paz por intermédio da compreensão da estratégia da não violência que não produzia vítimas, mas militantes pacíficos para o bem da humanidade. Gandhi, segundo seu neto Arun, “não acreditava em rótulos e divisões entre as pessoas e, apesar de profundamente espiritual, se opunha à religião quando ela separava as pessoas ao invés de conectá-las”. Hoje (pasmem!!!) há igrejas, com lideranças de joelhos dobrados, pedindo intervenção militar ao invés de intervenção divina.
O uso da raiva para o bem era a grande proposta da filosofia prática de Gandhi. De fato, ele respondeu à violência e ao ódio com amor e perdão. Não teve a experiência do aspecto tóxico da raiva. Dizia o sábio indiano, que “a raiva para as pessoas é como o combustível para o automóvel. Ela dá energia para seguir em frente e chegar a um lugar melhor. Sem ela, não teríamos motivação para enfrentar os desafios. A raiva é uma energia que nos impele a definir o que é justo e o que não é. Quando canalizamos a eletricidade de maneira inteligente, podemos usá-la para melhorar a nossa vida, mas, se a utilizarmos de forma errada, podemos morrer. Do mesmo modo, devemos aprender a usar a raiva com sabedoria pelo bem da humanidade.” Se as lideranças políticas e religiosas entenderem isso, Gandhi sorrirá!