A relação comercial entre Brasil e China tem evoluído de forma expressiva, revelando oportunidades cada vez mais promissoras para a economia brasileira. No centro desse novo ciclo de investimentos e acordos bilaterais, o estado do Amapá desponta como uma peça estratégica fundamental. Localizado na região Norte do país e com uma posição geográfica privilegiada, o Amapá abriga o Porto de Santana, que se projeta como um dos principais corredores logísticos entre o Brasil e o mercado asiático. Esse cenário tem chamado a atenção de grandes conglomerados chineses, como a China Railway nº 10 Engineering Construtora do Brasil Ltda., que desde 2015 intensificou sua atuação no território nacional. Com projetos já executados no Pará, Bahia e Rio Grande do Sul, a empresa anunciou investimentos de mais de 200 milhões de dólares especificamente voltados para o Amapá, com ênfase nos setores de logística e mineração, além da modernização do Porto de Santana como entreposto de cargas na Amazônia.
Esse movimento é visto com entusiasmo por especialistas em comércio internacional e desenvolvimento regional. O economista Júlio Pascoal, professor e analista de relações Brasil-China, avalia que a intensificação da presença chinesa no país representa uma “janela de oportunidades para a reindustrialização da economia, a ampliação do agronegócio e o fortalecimento de fontes renováveis de energia”. Segundo Pascoal, enquanto os Estados Unidos adotam políticas comerciais mais protecionistas, a China tem se apresentado como um parceiro mais flexível e estratégico para o Brasil, especialmente no atual contexto global de reconfiguração de cadeias produtivas. Na mesma linha, o executivo chinês Liu Lin ressalta que o interesse da China vai além da exploração de matérias-primas, envolvendo transferência de tecnologia, geração de empregos locais e participação em projetos de longo prazo que agregam valor à infraestrutura brasileira, sobretudo na região amazônica.
Os dados comerciais confirmam essa tendência. Somente em 2024, as exportações brasileiras para a China totalizaram mais de 94 bilhões de dólares, enquanto as importações giraram em torno de 63,6 bilhões, resultando em um superávit de aproximadamente 30 bilhões de dólares para o Brasil. Tais números consolidam a China como o principal parceiro comercial brasileiro, superando blocos tradicionais como a União Europeia e até os Estados Unidos. Segundo especialistas ouvidos no Summit Valor Brazil-China, realizado em maio de 2025, a complementaridade entre as duas economias permite um horizonte duradouro de cooperação mútua, desde que respeitadas as assimetrias e os interesses soberanos de cada país. No caso do Amapá, a chegada dos investimentos chineses poderá impulsionar cadeias produtivas locais, promover capacitação profissional e alavancar o potencial logístico de toda a região Norte.
Nesse contexto, o Amapá pode deixar de ser apenas um ponto isolado na geopolítica brasileira e assumir o protagonismo de uma nova rota comercial sul-americana. A modernização do Porto de Santana, aliada à infraestrutura ferroviária e rodoviária em curso, poderá transformar o estado em um hub de exportação para produtos agrícolas, minerais e industriais com destino à Ásia. Trata-se de uma oportunidade histórica para que o Amapá amplie sua integração ao mercado global, diversifique sua base econômica e reduza desigualdades históricas, consolidando-se como elo vital na cadeia de comércio internacional entre o Brasil e a China.
Amapá desponta como elo estratégico na relação comercial Brasil-China
