A sequência do Evangelho de João 15, vem com uma ampliação da figura da videira e seus ramos. Agora, ampliando para a perspectiva do amor, do cuidado, da necessidade de compreender que os ramos só crescem se continuarem em Cristo.
Todavia, este crescimento não tem base na pessoa, mas só se cresce enquanto se estivermos unidos com Cristo. Fora de Jesus, não há crescimento, mas a morte. No entanto, em Jesus as pessoas darão frutos e serão como sorrisos de Cristo para o próximo, como um convite para quem está longe, também desejar a comunhão com o Cristo. O Evangelho João reforça a imagem da necessidade de estar em cristo. Do contrário, somos falsas videiras, somos como algo falsificado, e não original. O ato de ter sido enxertado em Jesus pela Sua obra Redentora, revela um cuidado. Diz João 15.9-17: “(9)Assim como o meu Pai me ama, eu amo vocês; portanto, continuem unidos comigo por meio do meu amor por vocês. (10)Se obedecerem aos meus mandamentos, eu continuarei amando vocês, assim como eu obedeço aos mandamentos do meu Pai e ele continua a me amar. (11) — Eu estou dizendo isso para que a minha alegria esteja em vocês, e a alegria de vocês seja completa. (12) O meu mandamento é este: amem uns aos outros como eu amo vocês. (13)Ninguém tem mais amor pelos seus amigos do que aquele que dá a sua vida por eles. (14)Vocês são meus amigos se fazem o que eu mando. (15)Eu não chamo mais vocês de empregados, pois o empregado não sabe o que o seu patrão faz; mas chamo vocês de amigos, pois tenho dito a vocês tudo o que ouvi do meu Pai. (16)Não foram vocês que me escolheram; pelo contrário, fui eu que os escolhi para que vão e deem fruto e que esse fruto não se perca. Isso a fim de que o Pai lhes dê tudo o que pedirem em meu nome. (17)O que eu mando a vocês é isto: amem uns aos outros.”
O resultado da vida em Cristo se reflete na ação, isto é, onde Cristo está, há transformação. Essa mudança é vista claramente no zelo e cuidado pelo próximo. Na obra Redentora de Jesus não tem espaço para a autojustificação de alguém. O ser humano é o beneficiado de ser chamado por Jesus de amigo. Com isso, como expressão pública de que agora temos uma nova vida, uma vida viva e cheia de oportunidades de praticar os frutos da fé em Cristo. Essa nova vida só é possível através da vida recebida de Jesus. Ele que deu a sua vida por nós. A decisão é de Cristo, ele nos dignifica em seu amor, e nos torna merecedores do seu amor. Nunca é uma decisão humana, mas sempre ação iniciada e vinda da parte de Deus que decidiu nos amar. O pecado sempre de novo irá dizer: Não é bem assim. Você é bom! Você merece se sentir o poderoso. O pecado quer criar e cria em nós a autopiedade, cria o desejo do ser humano de sentir-se um “deus”, um ídolo pessoal de si mesmo. O pecado cria em nós o desejo de rejeitar ao amor de Jesus e quer que procuremos nos auto aclamar merecedores dos benefícios de Deus.
Talvez devêssemos nos perguntar: Eu realmente temo a Deus ou o que faço é para me elevar sozinho? É preciso ter cuidado. Infelizmente, na maioria das vezes a piedade pessoal está repleta de desejos de uma vontade de fugir de Deus para uma pervertida meritocracia das coisas da fé. Por isso: Cuidado com as campanhas “espirituais”, campanhas disso ou daquilo, das libertações e tantas outras coisas que estão tirando o teu foco da fé em Cristo. Essas campanhas são uma expressão de que, quem participa, não crê, mas busca na campanha em si um deus. Essas coisas criam fariseus pútrefos, cheios de sua religiosidade vazia. É preciso amar o nosso próximo não com expressões linguísticas, mas de coração sincero. Amar não significa acariciar seus pecados em nome do amor. Amar não significa você dizer amém ao pecado, mas significa dizer que é seu dever chamar ao arrependimento o que peca e consolar ao arrependido, levando-os até Cristo Jesus.
Mas para que o amor seja verdadeiro e tenha perspectiva divina primeiro começa com o reconhecimento de quão terrível é o pecado e o pedido de perdão a Cristo para que ele pode de nós o pecado com o seu perdão e nos transforme em novas criaturas por meio da sua palavra. É ir ao encontro com a imagem da videira e os ramos, exposto no começo do capítulo 15 de João, para perceber que sem Cristo ninguém pode ser nova criatura perante Deus nem prerante os seus semelhantes. Por isso que Jesus nos reforça o convite para que permaneçamos unidos com Ele. Ele diz: “Continuem unidos comigo por meio do meu amor por vocês”. (João 15.9). Também reforça que “O meu mandamento é este: amem uns aos outros como eu amo vocês” (João 15.12). “Amor” e “mandamentos” são palavras distintas, que carregam significados diferentes. “Amor” normalmente tem uma conotação agradável; “mandamentos” são muitas vezes considerados restritivos, autoritários, arrogantes. No entanto, no Evangelho de hoje, Jesus fala do amor e dos seus mandamentos como coisas inseparáveis, que andam lado a lado.
O que vem na sua cabeça quando você ouve a palavra “amor”? Você imagina um casal andando de mãos dadas na praia? Você pensa no Dia dos Namorados e tem uma sensação gostosa e ao mesmo tempo estranha no estômago? Imagina um casal já mais idoso, envelhecendo juntos, dividindo as alegrias e preocupações? Pois eu quero lhes convidar a explorar o significado do amor cristão, um amor modelado sobre (a partir de) o amor de Jesus Cristo.
O que era o amor para o nosso Salvador Jesus Cristo? Como ele define o amor? Jesus não define o amor com palavras, mas com ações: “Deus amou o mundo tanto, que deu o seu único Filho, para que todo aquele que nele crer não morra, mas tenha a vida eterna” (João 3.16). “Tendo amado os seus que estavam no mundo, [Jesus] amou-os até o fim… Depois, pôs água numa bacia e começou a lavar os pés dos discípulos” (João 13.1, 5). “Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas que ele nos amou e enviou seu Filho para que, por meio dele, os nossos pecados fossem perdoados.” (1 João 4.10).
Aqui está o que é o amor. Para Jesus, o amor tem a ver com atitudes concretas. Jesus não apenas fala de amor, ele pratica o amor. A própria carta de João que lemos, em outro trecho diz: “Meus filhinhos, o nosso amor não deve ser somente de palavras e de conversa. Deve ser um amor verdadeiro, que se mostra por meio de ações”. (1João 3.18) O amor, para Jesus, está diretamente ligado com “sacrifício”. Jesus sacrificou as suas forças, seu tempo, o conforto pessoal e a sua própria vida.
Jesus deu todo esse amor a nós, nós que não merecemos, nós que somos completamente indignos de amor. Jesus não escolheu nos amar porque nós o amamos em primeiro lugar. Não! Aliás, até mesmo os discípulos não eram muito bons nessa questão de amar e se sacrificar.
As palavras que lemos hoje no evangelho foram ditas no contexto da última Ceia. Naquela noite, Pedro e todos os discípulos estavam certos de que fariam qualquer sacrifício por Jesus, até morreriam com ele. Mas vocês sabem muito bem como isso acabou. Os discípulos se davam muito bem com o amor em palavras, mas quando chegou o momento do sacrifício, de colocar suas vidas em risco, até as suas palavras mudaram: por três vezes Pedro disse: “Eu não conheço este homem!” (João 18.17, 25, 27). Jesus não escolheu amar os discípulos porque eles escolheram amá-lo. Ele é bastante enfático: “Não foram vocês que me escolheram; pelo contrário, fui eu que os escolhi…” (João 15.16).
Jesus escolheu você! É… você que não era mais amável e confiável do que Pedro. Você que titubeia quando tem a oportunidade de dizer ou demonstrar que realmente “ama a Jesus”. Jesus nos escolheu por amor… e por amor fez o que fez… sacrificou-se por nós. Nós não éramos dignos, mas Jesus diz: “Eu te amo, os teus pecados estão perdoados.” Jesus diz: “Eu te amo, aqui está um pouco de peixe e pão.” Jesus diz: “Eu te amo, levanta-te e anda.” Jesus diz: “Eu te amo, por isso eu dou a minha vida por você, meu amigo/minha amiga”.
Na Epístola, lemos que “amar a Deus é obedecer aos seus mandamentos. E os seus mandamentos não são difíceis de obedecer” (1Jo 5.3). Como assim? Mandamentos não são difíceis? Claro que não, quando eles são vistos da perspectiva de Cristo! A chave para entender esta relação entre o amor e os mandamentos é a perspectiva de onde você os vê. Seriam difíceis os mandamentos se, de fato, precisássemos amar, a fim de nos tornarmos filhos de Deus e discípulos de Cristo. Mas nós já somos filhos amados de Deus, porque Cristo nos amou primeiro com o maior amor, o de dar a sua vida por nós. Então, porque já somos amigos de Jesus, os discípulos escolhidos, agora nós guardamos os seus mandamentos de boa vontade, vivendo cada dia no amor de Jesus.
E viver no amor de Jesus implica numa vida de serviço e sacrifício. Mas um sacrifício que já não é penoso, porque ele é percebido a partir da perspectiva de Cristo. E querem ver como a gente todos os dias vive neste amor? Quando sacrificamos nosso tempo para dar atenção a alguém, às vezes até na nossa família mesmo; quando sacrificamos nossos dons, auxiliando alguem ou ensinando alguma habilidade (ex.: artesanato aqui na igreja); quando sacrificamos nossos bens ofertando uma parte para a manutenção do reino de Deus e para ajuda dos que tem mais necessidade… Algumas situações bem inesperadas podem nos dar pistas e criar oportunidades para exercer o amor-sacrifício: calamidades, desastres, acidentes, doenças, luto… Abre-se um leque muito grande de possibilidades de viver o sacrifício do amor no dia a dia; basta olharmos tudo isso da perspectiva de Jesus Cristo.
Quando se fala em amor e sacrifício, estas duas palavras juntas, não há como não pensar no amor de uma mãe. O próprio Deus usou a imagem da mãe para comparar a sua ação com o seu povo: “Como a mãe consola o filho, eu também consolarei vocês”, diz o Senhor (Isaías 66.13). Deus nos traz para a vida através da barriga de uma mãe. Deus provê todo o necessário para o nosso bem estar físico nos primeiros anos de vida, quando não conseguimos fazer nada sozinhos, através de uma mãe. Deus nos dá carinho, colo, aconchego, amor verdadeiro, através de uma mãe ou quem quer que seja que faça o seu papel. Deus está escondido em cada mãe/pai que cuida do seu filho com amor e carinho. Ser servo de Deus é viver distribuindo amor em ação, é o cuidado que começa no colo dos pais que em Cristo Jesus se amplia ao nosso próximo.
Que Deus permita que a vida em Cristo Jesus transcenda a perspectiva do saber, mas amplie-se no agir e no nosso ser diário para que onde estivermos lá estejamos fundamentados em Cristo Jesus pela fé. Também na nossa maneira de viver possamos cumprir sua vontade. Que nós os ramos da videira, possamos estender o amor de Jesus para o maior número possível de pessoas e assim por amor e por misericórdia de Jesus seremos chamados por Ele de amigos Seus. Amigos de Cristo que permanecem em Cristo. Amém.