No livro “O homem Deus ou o sentido da vida” de Luc Ferry há uma profunda reflexão sobre uma alegada ordem do mundo que inclui o fim e que “filosofar”, por consequência, é aprender a morrer. Há poucos dias perdi dois grandes amigos: Wagner Gomes e Rui Guilherme. Um advogado e outro juiz. Ambos gostavam de refletir e escrever. São histórias diferentes com o mesmo fim. Aprender a morrer é uma jornada filosófica e existencial que atravessa tempos imemoriais de reflexão humana. Desde os tempos remotos, filósofos, pensadores e religiosos têm contemplado o significado da morte e como devemos nos preparar para esse inevitável fim da vida. Nos dias de hoje, em uma sociedade muitas vezes avessa a discutir o assunto, aprender a morrer pode parecer um tema sombrio ou desconfortável, mas é crucial para uma vida plena e consciente.
O filósofo francês Michel de Montaigne, em seu ensaio “Sobre o Medo da Morte”, argumenta que compreender e aceitar nossa mortalidade nos permite viver com mais sabedoria e autenticidade. Para Montaigne, não se trata apenas de aceitar o inevitável, mas de integrar essa aceitação a nossa vida diária, transformando nossa existência em algo mais significativo. Aprender a morrer também pode ser interpretado como aprender a viver plenamente. Quando confrontamos a finitude de nossa vida, somos impelidos a refletir sobre nossas prioridades, valores e relacionamentos. Essa reflexão nos encoraja a buscar o que é verdadeiramente importante e a dedicar nosso tempo e energia ao que realmente nos traz felicidade e realização.
Em muitas tradições espirituais e religiosas, a preparação para a morte é uma parte essencial da prática espiritual. Do budismo ao cristianismo, do hinduísmo ao islamismo, há ensinamentos sobre como enfrentar a morte com serenidade e como nossa conduta ao longo da vida influencia nosso destino após a morte. Essas tradições oferecem rituais, meditações e ensinamentos que ajudam os praticantes a lidar com a morte de maneira mais compassiva e tranquila. Além disso, aprender a morrer envolve enfrentar nossos medos mais profundos e enfrentar o desconhecido. Muitas vezes, o medo da morte está ligado ao medo do desconhecido e à perda do controle. Ao explorar esses medos e ansiedades, podemos encontrar uma maior aceitação e paz interior.
No entanto, aprender a morrer não significa se resignar passivamente à morte, mas sim abraçar a vida com plenitude e consciência. Significa viver cada momento com gratidão e propósito, cultivando relacionamentos significativos e contribuindo positivamente para o mundo ao nosso redor. Em última análise, aprender a morrer é um convite para viver uma vida autêntica e significativa, onde cada momento é valorizado e cada escolha é feita com consciência do seu impacto não apenas em nossa própria existência, mas também nas vidas daqueles que nos cercam. É uma jornada interior que nos leva a descobrir o verdadeiro significado da vida e a abraçar nossa humanidade de maneira profunda e enriquecedora. Wagner Gomes e Rui Guilherme, com seus livros abertos e um copo ao alcance da mão, deram lições profundas de aprender a morrer porque filosofaram durante toda a existência.
Aprender a morrer
