Recentemente, vi notícia no site da Revista Forbes que dizia que médicos suíços estão prescrevendo visitas a museus, galerias de arte e jardins públicos como parte do tratamento para pacientes com problemas de saúde mental e doenças crônicas.
Um estudo feito pela Organização Mundial de Saúde – OMS, em 2019, explorou o papel das artes na saúde e no tratamento de doenças e esse tipo de método proposto por médicos suíços parte da ideia de que a cultura é algo essencial para o bem-estar da sociedade.
Segundo essa notícia da Forbes, de Março de 2025, uma médica chamada Reuters Patricia Lehmann justifica as prescrições dizendo que a ida aos museus, galerias e jardins permite que os pacientes esqueçam “suas preocupações, suas dores, suas doenças e passem um momento alegre de descoberta”, com o objetivo de proporcionar momentos de alívio e conforto emocional e mental aos pacientes.
A ideia da arte como ferramenta terapêutica já existe há muito tempo e, como exemplo, podemos citar o médico Osório César, que articulou estudos sobre o campo mental, a psicanálise e a expressão artística.
Também, claro, a psiquiatra Nise da Silveira, que trabalhou o lado artístico dos seus pacientes utilizando da livre expressão. Ela acreditava que a função terapêutica da arte era expressar vivências impossíveis de se verbalizar, as coisas que ficam fora do alcance racional, no inconsciente.
A partir de então, a arte começou a ser considerada uma estratégia importante de cuidado para pacientes psiquiátricos, porque ela possibilita a expressão das emoções, dos sentimentos e dos pensamentos de maneira criativa, gerando empoderamento, reflexão, autocuidado e a construção de subjetividades para além dos diagnósticos.
Sabemos, portanto, que o “produzir arte” já é reconhecido e utilizado como forma de tratamento para questões de saúde há muitas décadas. Há uns anos, inclusive, existe um constante crescimento da arteterapia, área de atuação profissional que usa a atividade artística como instrumento para a promoção da saúde e da qualidade de vida, incluindo diversas linguagens como a plástica, a sonora, a literária, a dramática e a corporal.
Nesse contexto, compreendemos que existem diversas possibilidades de expressão artística, como a pintura, a música, a literatura, o teatro, a dança, a fotografia, a escultura, etc. Contudo, podemos entender que a questão terapêutica da arte vai além da prática, do criar, do fazer ou produzir arte. Existe um lado terapêutico na contemplação, na ida, na visita, no observar a arte…
A observação nunca é tão simples porque, ao olharmos para um quadro, por exemplo, somos transportados para um outro universo imaginativo, que nos coloca em fase de flutuação. Nesse momento, existe a possibilidade de interpretar, imaginar e sonhar.
André Malraux diz que “os museus estão entre os locais que nos proporcionam a mais elevada ideia do homem”. Eles são como portais para mundos paralelos de nós mesmos; são como uma poesia que vai dialogar com a memória e com o esquecimento.
Os museus e, veja bem: isso serve para os jardins e galerias, nos colocam em um nível de reflexão que conversa com o positivo e o negativo, com o “eu” e a sociedade, com o meu lugar e com o mundo, com o meu tempo e outros tempos…
Eles operam como um lugar de proteção da memória e do patrimônio, duas coisas igualmente fundamentais para a humanidade. Também, de difusão da cultura e de informação. Isso indica que, neles, em suas múltiplas dimensões, habitam espaços próprios para articulação de constantes diálogos entre eles mesmos, o que apresentam e a sociedade, em relação à história, à cultura, ao material e ao imaterial.
A arte é capaz de muita coisa, até mesmo quando não nos permitimos ser tocados por ela. A arte é, acima de tudo, capaz de nos trazer para o momento presente. Quando nos deparamos com uma obra, seja uma pintura, um filme, uma escultura, uma música, uma instalação, uma peça de teatro, etc, somos trazidos para o momento presente, para aquele em que se observa os detalhes, que se enxerga as cores, os traços, as nuances, se escuta os sons…
É no presente que se sente, mesmo que o sentimento esteja relacionado com dores ou alegrias do passado. É no presente que acontece a partilha do conhecimento, que há o desenvolvimento de ideias e acontece a reflexão. É no presente que acontece a fruição.
Isso me faz recordar de uma fala da escritora portuguesa Matilde Campilho, em 2015, que diz que “a poesia, a música, uma pintura, não salvam o mundo, mas salvam o minuto e isso é o suficiente”.
Imagino que utilizar dessas visitas a museus, galerias e jardins seja algo como salvar o presente dos pacientes. Talvez seja como tirar do foco mental a nuvem de problemas, de angústias, o peso dos sentimentos da própria vida… Algum conforto mora na curva da contemplação. No fim, vemos que Matilde sempre esteve certa.
A arte e os minutos que nos salvam
