A recente declaração de Donald Trump sobre a imposição de tarifas a produtos brasileiros, como forma de pressão política contra o governo Lula, revela mais do que uma postura protecionista típica de sua retórica nacionalista. Trata-se, na verdade, de um ato de bazófia diplomática que extrapola os limites do aceitável nas relações entre nações soberanas. Ao tentar usar o comércio exterior como instrumento de chantagem ideológica, Trump não apenas fere princípios básicos do multilateralismo como também insulta a soberania do Brasil. Essa postura beligerante é, ao mesmo tempo, desrespeitosa e estratégica: pretende inflamar a base trumpista com um discurso populista e agressivo, no velho estilo “America First”, ainda que às custas de aliados tradicionais.
O lado mais insólito — e para muitos, irônico — do episódio é o efeito político doméstico gerado no Brasil. A tentativa de Trump de atingir Lula acabou por produzir exatamente o oposto: uma onda de solidariedade nacional que reposicionou o presidente brasileiro como figura de liderança frente à arrogância externa. Setores que tradicionalmente se opõem ao governo, especialmente na direita liberal e no agronegócio, demonstraram desconforto com o ataque norte-americano, em especial pela ameaça a mercados estratégicos. Até mesmo vozes críticas da política externa petista se viram obrigadas a reconhecer que há um limite quando se trata de interesses nacionais, e que a soberania não deve ser moeda de troca na disputa ideológica global.
Mais do que uma afronta comercial, o gesto de Trump revela o uso recorrente de táticas de humilhação como método de política internacional, algo que analistas como Noam Chomsky já identificaram como traço recorrente da geopolítica estadunidense. No caso específico do Brasil, porém, a ofensiva trumpista teve um efeito colateral relevante: reaproximou setores internos em torno de um discurso de unidade nacional. A “coronhada no cocuruto da direita”, como ironizam comentaristas progressistas, desmascarou parte da elite brasileira que ainda se ilude com a tutela americana, mostrando que, quando os interesses do país estão em jogo, é preciso mais maturidade e menos servilismo ideológico.
Se há algo de positivo nesse embate, é a chance de reposicionar o Brasil no cenário global com mais autonomia e clareza de seus interesses estratégicos. A imagem de Lula, criticado por suas alianças com regimes progressistas latino-americanos e sua aproximação com países dos BRICS, ganha novo fôlego diante da fanfarronice de Trump. Ao contrário da subserviência que marcou certos períodos recentes da política externa brasileira, a resposta firme do Itamaraty — respaldada por lideranças políticas diversas — evidencia que o país ainda é capaz de reagir com dignidade. O episódio é um lembrete útil: antes de qualquer aliança ideológica ou afinidade pessoal, está a defesa inegociável da soberania nacional.
A bazófia de Trump e a resposta brasileira
