O que são os “bebês reborn”?
Eles parecem bebês de verdade, pesam como um recém-nascido, têm veias pintadas à mão, cheirinho de talco, cílios implantados e olhos de vidro que parecem vivos. Os bebês reborn são bonecos ultrarrealistas criados para parecerem bebês humanos — e não apenas brinquedos. Mas o que antes era apenas um hobby artístico, tornou-se, para muitos adultos, uma ferramenta emocional poderosa para lidar com perdas, carências e traumas.
Uma demanda que não para de crescer
A comercialização de bebês reborn movimenta um mercado global estimado em mais de US$ 25 milhões por ano, com crescimento de cerca de 20% ao ano desde 2020. No Brasil, as buscas por “bebê reborn” aumentaram mais de 60% nos últimos 5 anos, segundo dados do Google Trends.
Fabricantes e artesãos relatam que mais de 70% dos clientes são mulheres adultas, com destaque para as faixas entre 30 e 60 anos. Estima-se que existam atualmente mais de 500 mil bonecos reborn em circulação no mundo, e que o Brasil esteja entre os 5 países com maior demanda. Nas redes sociais, a hashtag #bebereborn ultrapassa 100 milhões de visualizações no TikTok, onde vídeos de adultos “cuidando” dessas bonecas viralizam com facilidade.
Dia da Cegonha Reborn
No dia 07 de maio foi aprovado no Rio de Janeiro o projeto de lei para o “Dia da Cegonha Reborn” a ser comemorado no dia 04 de setembro. De autoria do vereador Vitor Hugo sob argumento da febre mundial dos bonecos realistas e a necessidade de se homenagear as cegonhas – artesãs que confeccionam os bebês reborn.
O olhar da medicina e da psicologia
Muitos profissionais de saúde mental começaram a observar o fenômeno com atenção. A questão não é se ter um bebê reborn é “normal”, mas o que ele representa emocionalmente para quem o possui.
Algumas pessoas usam o reborn como expressão artística ou forma de relaxamento. Mas, em muitos casos, eles são usados como objetos substitutivos por mulheres em luto por perdas gestacionais ou neonatais, por idosas com “síndrome do ninho vazio” – após os filhos saírem de casa. Pode ser usado também em Pacientes com Alzheimer, demência ou transtornos psiquiátricos.
Um estudo publicado na Geriatric Nursing Journal em 2017 mostrou o uso terapêutico de bonecos reborn em casas de repouso reduzindo episódios de agitação e ansiedade em 60% dos pacientes com Alzheimer, sem necessidade de aumento de medicação.
O limite entre o saudável e o preocupante
O uso do bebê reborn pode ser terapêutico, mas também pode indicar sofrimento psíquico profundo. Especialistas alertam que a prática é negativa quando a pessoa passa a acreditar que o boneco é um bebê vivo, quando há isolamento social, abandono de outras relações ou atividades ou nos casos em que o boneco é tratado como substituto permanente de alguém real (filho, neto).
Casos extremos já foram noticiados no Reino Unido, EUA e Brasil, onde adultos insistiam em registrar os bonecos como filhos ou levar os bonecos a atendimentos médicos causando constrangimentos e transtornos a terceiros, recusando receber atendimento psicológico.
Mais acolhimento, menos julgamento
Estamos vivendo uma era de solidão em massa. O sucesso dos bebês reborn pode ser visto como um reflexo disso: mais do que uma moda, é um sintoma emocional dos tempos atuais.
Cabe à sociedade, à medicina e à família escutar sem zombar, orientar sem impor. Em muitos casos, o reborn traz conforto. Ele pode ser apenas uma tendencia lúdica moderna, mas também pode esconder um pedido de socorro silencioso.