Não existe caminho! Passo a passo, caminhando, o caminho se faz! Eu tinha pouco mais de dez anos de idade, a cidade era Cuiabá, a Escola era Salesiana – o Colégio Sagrado Coração de Jesus e a professora era uma freira que já nem me lembro o nome mas me lembro que a disciplina era música e a canção era sobre caminho.
Até hoje, quase cinquenta anos depois, essa aula de canto da minha infância tão querida ainda ressoa nas minhas memórias afetivas. “Caminheiro, você sabe, não existe caminho; passo a passo, caminhando, o caminho se faz”.
Quanta verdade e profundidade nos versos dessa canção da qual desconheço o autor mas tenho nítido na memória o auditório do colégio, a quantidade de alunas e a repetição dos ensaios das aulas de canto.
A lei da educação já mudou. Quando eu era criança e jovem, regia a educação brasileira a Lei nº 5692/71; hoje rege o ensino do Brasil a Lei nº 9394/96, não tem mais essa disciplina nos currículos da Educação Básica, muitos avanços e muitos retrocessos como tudo na vida de cada caminheiro, dependendo do ângulo e do ponto de vista de cada um; todavia, a verdade desses versos, ainda são inexoráveis: não existe estrada e nem caminho preestabelecidos, por mais que você acredite em destino ou horóscopo.
A vida se repete ou se delineia conforme nossos passos nela. A cada caminheiro segundo sua caminhada e o choro ou o riso vai sendo opcional ou obrigatório, de acordo com o seu passo curto ou largo, certo ou incerto, sozinho ou acompanhado, rápido ou devagar, convicto ou vacilante, inédito ou seguindo pegadas dos outros.
Caminheiro, você sabe, não existe caminho: caminhando, passo a passo, o caminho se faz! Isso era mais ou menos anos 70; o tempo passou e desde a chegada da internet das coisas, os caminhos foram ficando mais curtos e mais entrelaçados; um emaranhado de redes sociais e invisíveis foram abrindo caminhos novos, ousados e diferentes.
A caminhada muitas vezes hoje é somente virtual, usando dedos ao invés de pés, usando os recursos tecnológicos ao invés dos recursos físicos da arte saudável e milenar do exercício físico do caminhar.
Por vezes nos deparamos com pessoas que não saem mais de casa e nem de seus quartos para fazer uma simples caminhada ao redor de seu bairro ou mesmo nas calçadas de suas ruas; um dos motivos pode ser até mesmo a própria segurança devido a violência nas grandes cidades.
De qualquer forma, mundo velho ou mundo novo, os versos dessa velha canção para mim continuam super atuais: passo a passo, pouco a pouco, o caminho se faz. O belo e bom da vida é exatamente esse imprevisível momento de se permitir dar passos para frente, para o novo, para o desconhecido.
Caminhar é um verbo intransitivo e indica ação de ir e de dirigir-se para algum lugar; de deslocar-se, de mexer-se, de tomar iniciativas. O verbo intransitivo é, por si só, o próprio predicado da oração, já que não precisa de nenhum elemento ou complemento. Tudo na natureza caminha, até mesmo uma árvore realiza através de suas raízes essa atitude de caminhar, por debaixo do solo, no silêncio realizador e ativo, tem esse ser vivo chamado vida vegetal a atitude de ir em busca de água e nutrientes para as partes que compõem essa planta.
Quer na terra como no ar ou na água, a vida pulsa e caminha para frente, para os lados e para trás. Vida sem movimento é morte, não é viva. Mesmo na inércia de viver atrás dos aparelhos tecnológicos, o caminho se faz através das buscas digitais. Caminheiros somos, caminhar cria caminhos e rotas boas ou ruins, vai depender do caminheiro, mas o que não se pode negar é que somos os criadores dos caminhos.
Se criamos os caminhos e os descaminhos, devemos, podemos e precisamos redesenhar roteiros, caminhos novos podem e devem ser desenhados sempre que os resultados não estiverem satisfatórios.
Quando se cresce humanamente falando, o caminheiro olha para trás, assume suas responsabilidades como criador de seus caminhos e com humildade, paciência e responsabilidade recomeça por novos caminhos.
Quando se cresce fisicamente, mas não moralmente, o caminheiro reclama, justifica e chora, encontrando culpados pelos caminhos que ele abriu, sem admitir ou aceitar que os passos foram seus.
Por isso, convido você e eu para, conscientemente olhar nossos caminhos abertos e analisar se são bons ou maus; refazer a rota sempre que necessário for e planejar com cuidado cada passo do caminho que pouco apouco, caminhando, estamos a fazer.
Porque sabe, caminheiro, não existe caminho. Passo a passo, caminhando, o caminho se faz!
CAMINHEIROS

Professora, historiadora, coach practitioner em PNL, neuropsicopedagoga
clínica e institucional, especialista em gestão pública.
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