O pé diabético é uma das complicações mais temidas do diabetes, mas ainda pouco conhecida pelo público. Trata-se de um conjunto de problemas que surgem nos pés quando o excesso crônico de glicose no sangue danifica nervos e vasos sanguíneos, tornando a pele mais vulnerável a machucados e infecções. Uma ferida pequena, que em pessoas sem diabetes cicatriza rápido, pode evoluir para uma úlcera grave, infecção profunda e até amputação. Segundo estimativas internacionais, cerca de 6,3% das pessoas com diabetes têm úlceras nos pés a qualquer momento e, ao longo da vida, de 19% a 34% terão pelo menos uma lesão do tipo. Além disso, cerca de 85% das amputações em diabéticos são precedidas por uma úlcera no pé que não foi tratada adequadamente.
O risco de pé diabético aumenta quanto mais tempo a pessoa vive com a doença, se o controle da glicemia é ruim, se há perda de sensibilidade nos pés, má circulação, deformidades ósseas, calçados inadequados, obesidade, sedentarismo e tabagismo. Ter tido uma úlcera ou amputação anterior, não inspecionar os pés diariamente e não receber cuidados preventivos também elevam muito as chances de um novo episódio. Estudos recentes reforçam que complicações associadas ao diabetes, como retinopatia ou doença renal, costumam andar junto com maior risco de lesão nos pés.
A boa notícia é que grande parte dos casos pode ser evitada. Manter o açúcar no sangue dentro das metas acordadas com o médico ajuda a retardar danos nos nervos e vasos. Examinar os pés todos os dias em busca de cortes, calos, bolhas ou alterações na pele permite detectar problemas cedo. Lavar com água morna e secar bem, usar sapatos confortáveis e sem costuras internas, evitar andar descalço e cortar as unhas com cuidado são atitudes simples que fazem diferença. Avaliações periódicas dos pés pelo profissional de saúde, parar de fumar e praticar atividade física também ajudam a preservar a circulação e a sensibilidade. Se aparecer qualquer ferida que não cicatrize em poucos dias, é fundamental procurar atendimento médico imediatamente.
Quando já existe uma úlcera no pé diabético, o tratamento precisa ser rigoroso e geralmente multidisciplinar. Ele inclui limpeza e curativos adequados, alívio da pressão sobre a lesão com calçados especiais ou gessos de contato total que redistribuem o peso do pé, controle de infecções com antibióticos quando necessário, avaliação vascular para melhorar o fluxo sanguíneo e acompanhamento frequente. Em casos graves, pode ser necessário remover tecidos mortos ou, em último caso, amputar parte do pé ou da perna. Essa realidade traz não apenas sofrimento para o paciente, mas também alto custo para os sistemas de saúde. Cada nova ocorrência de complicação aumenta o risco de mortalidade global, mostrando que o pé diabético é muito mais do que um “machucado no pé”, é um indicador de saúde geral do organismo.
Por isso, cuidar bem dos pés deve ser prioridade para todo diabético, assim como controlar a glicemia. Prevenção e atenção diária podem evitar sofrimento, amputações e salvar vidas. Como lembram especialistas, agir cedo faz toda a diferença
(Diabetes Care, 2023; Open Forum Infectious Diseases, 2024).
Cuidar dos pés salva vidas: o que todo diabético precisa saber

Especialista em Nefrologia e Clínica Médica; Membro titular da Sociedade
Brasileira de Nefrologia Professor da Universidade Federal do Amapá
(UNIFAP); Mestre em Ciências da Saúde Preceptor de Clínica Médica. CRM
892 RQE 386