Nos dias 5, 6 e 7 de junho, o coletivo ELAS, liderado pela primeira-dama do Amapá, Priscilla Flores, promoveu um evento emblemático que lançou luz sobre o protagonismo feminino em sua mais ampla concepção. O encontro não foi apenas uma celebração da presença da mulher nos espaços públicos e privados, mas uma afirmação política de que a participação ativa das mulheres é condição essencial para sociedades mais justas, equilibradas e democráticas. O objetivo central — fomentar o ativismo feminino e reforçar o papel das mulheres nas tomadas de decisão — se alinha a uma luta histórica que atravessa séculos. Como nos lembra John Stuart Mill, em A Sujeição das Mulheres, “a causa das mulheres é a causa da humanidade”. Na atualidade, assegurar esse protagonismo significa promover um novo pacto social onde as diferenças de gênero não sejam barreiras, mas potenciais a serem respeitados e valorizados.
O protagonismo feminino não é uma agenda setorial; é um imperativo civilizatório. A filósofa Simone de Beauvoir, em O Segundo Sexo, desvelou como os papéis atribuídos socialmente às mulheres construíram um regime de subalternização persistente: “não se nasce mulher, torna-se”. Este se tornou um dos alicerces teóricos mais importantes do pensamento feminista moderno, reforçando que o protagonismo feminino exige não apenas espaço formal, mas também reconhecimento simbólico, cultural e institucional. No mesmo sentido, a psicóloga Carol Gilligan nos oferece uma visão complementar ao destacar que a ética feminina valoriza o cuidado, a responsabilidade e o vínculo interpessoal — virtudes essenciais para a construção de sociedades mais humanas e coesas. Assim, o ativismo das mulheres não apenas redefine estruturas de poder, mas também reconfigura os próprios valores que devem reger o tecido social.
No contexto brasileiro, esse protagonismo adquire nuances ainda mais complexas quando confrontado com as dinâmicas de raça e classe. A filósofa e ativista Sueli Carneiro nos adverte que as mulheres negras enfrentam um triplo desafio: sexismo, racismo e desigualdade econômica. Ao enfatizar a interseccionalidade, Carneiro demonstra que uma agenda de emancipação feminina no Brasil deve ser radicalmente plural e sensível às diferentes condições de existência das mulheres. Nesse aspecto, eventos como o promovido pelo coletivo ELAS cumprem um papel fundamental ao criar espaços onde essas múltiplas vozes podem emergir e se articular. A construção de redes de apoio, formação política e capacitação profissional são elementos-chave para consolidar uma presença feminina que transcenda os limites do simbólico e atue concretamente na transformação social.
Por fim, a atualidade impõe novos desafios e oportunidades ao protagonismo feminino. Em tempos de mudanças tecnológicas aceleradas, crises ambientais e transformações culturais, a presença das mulheres em esferas de poder e inovação é mais necessária do que nunca. Iniciativas como o projeto Emílias – Armação em Bits mostram como o fomento da participação feminina em STEM é crucial para construir um futuro mais inclusivo. Mas, como adverte Pierre Bourdieu, as estruturas sociais tendem a reproduzir a dominação simbólica se não forem ativamente contestadas. O evento do coletivo ELAS reafirma este compromisso: não basta abrir portas — é preciso garantir que as mulheres possam atravessá-las com liberdade, voz e poder real. Assim, o Amapá dá um exemplo ao Brasil, sinalizando que o século XXI será das mulheres, ou não será plenamente democrático.
ELAS: A Porta do Protagonismo da Mulher
