O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição do neurodesenvolvimento que afeta a comunicação, o comportamento e as interações sociais. Classificado em níveis de suporte (leve, moderado e severo), o autismo não define a totalidade do indivíduo, mas revela uma forma distinta de perceber e se relacionar com o mundo. Contudo, por trás de cada criança diagnosticada, há um elemento essencial e insubstituível para o sucesso de qualquer intervenção: os pais.
Entendendo os Níveis do Espectro Autista
A classificação do TEA é feita com base no suporte necessário para a pessoa desenvolver-se com mais autonomia:
• Nível 1 (Leve): Necessita de apoio. A criança pode ter dificuldade em iniciar interações sociais e apresentar comportamentos restritos, mas consegue manter alguma funcionalidade.
• Nível 2 (Moderado): Necessita de apoio substancial. As dificuldades são mais evidentes e exigem intervenções consistentes para comunicação e adaptação.
• Nível 3 (Severo): Necessita de apoio muito substancial. Há comprometimento significativo na linguagem, interação social e comportamento, exigindo suporte contínuo.
Por mais bem estruturado que seja o Atendimento Educacional Especializado (AEE), a escola ou as clínicas, há um elo anterior, sensível e profundo: a casa, o lar, os pais.
O Primeiro Espaço Terapêutico é o Colo
Antes do diagnóstico, antes das terapias, existe o olhar, o toque, o tom de voz que os pais oferecem aos filhos. São os pais os primeiros a perceber que há algo diferente. São eles que, ao aceitarem e se inteirarem do diagnóstico, tornam-se terapeutas, educadores, defensores e, acima de tudo, porto seguro.
Os antigos, no século passado, achavam que colo demais viciava a criança e a deixava “mufina”, entanguida, tola e por aí ia os prognósticos do empirismo e do senso comum, de cria os filhos como haviam sido criados: com afeto e muita rigidez. Não é à toa que o século XX ficou marcado na História como o século das guerras mundiais. Muitos conflitos, muitos acordos internacionais, muitos bombardeios nos desacordos que feriram centenas de milhares de seres humanos direta ou indiretamente, pois, após 1945, o mundo viveu o período da Guerra Fria entre as super potências da época: EUA e URSS. Na linguagem de hoje: Estados Unidos da América e a Ex–República Socialista Soviética.
A ciência avançou e antes o que era tido como doenças mentais e submetidos a tratamentos radicais, ganhou, com o Código Internacional de Doenças – cid – uma nova visão, novos tratamentos e maior crescimento da qualidade de vida para os indivíduos autistas e das outras neurologias atípicas ou transtornos os mais diversos que trazem prejuízo a curto, médio ou longo prazo para o portador, para a portadora.
É comum ver famílias depositando todas as expectativas na escola ou em terapias especializadas. E embora esses espaços sejam essenciais, nada substitui o impacto do afeto aliado ao conhecimento. Um lar acolhedor, com pais emocionalmente fortalecidos, é terapêutico. Um pai ou mãe que estuda sobre o espectro, participa das sessões, aplica as orientações em casa e se dispõe a adaptar rotinas, pode transformar completamente o prognóstico da criança.
Desafios que os Pais Precisam Enfrentar
- Aceitação emocional do diagnóstico: muitos pais enfrentam luto, medo, culpa. É preciso espaço para sentir, mas também é necessário agir.
- Busca por conhecimento: estudar sobre o espectro, estratégias de comunicação, desenvolvimento de habilidades sociais, regulação emocional, entre outros.
- Unidade e parceria familiar: pais e mães que atuam juntos, mesmo que separados conjugalmente, fazem enorme diferença.
- Redes de apoio: construir vínculos com outros pais, profissionais, grupos terapêuticos pode sustentar a jornada.
- Desconstrução de mitos e estigmas: dentro e fora da família, os pais precisam assumir o papel de educadores sociais.
O Amor como Tecnologia Avançada
A ciência evoluiu e oferece ferramentas eficazes — ABA, TEACCH, Denver, PECS, entre outras. Mas nenhuma metodologia se compara ao poder do amor aliado à informação. O afeto consciente é, por si só, uma forma avançada de neuroeducação.
Pais que crescem emocionalmente, que não se vitimizam nem romantizam a dor, tornam-se os grandes aliados do desenvolvimento do filho. A cada pequena conquista da criança, há ali o reflexo do esforço de alguém que não desistiu, que persistiu mesmo quando não havia palavras, quando os olhares eram distantes e os dias pareciam longos demais.
Conclusão
O autismo não limita o amor. E o amor, quando se transforma em atitude, acolhimento e estudo, expande as possibilidades de desenvolvimento. É hora de reconhecer que os pais são, sim, os primeiros terapeutas, e que o lar é o primeiro consultório onde tudo começa. Daí para o mundo, com o apoio de educadores, terapeutas e da sociedade, os caminhos se abrem — mas a estrada precisa do alicerce do amor real, da presença ativa e da coragem de crescer junto com o filho.