Epônimos são termos que utilizam o nome de uma pessoa – geralmente médicos, cientistas ou pacientes – para nomear doenças, sinais clínicos, síndromes, procedimentos ou estruturas anatômicas.
Na medicina, os epônimos não funcionam apenas como forma de nomenclatura, mas também como uma homenagem aos profissionais que contribuíram de maneira significativa para o avanço do conhecimento médico. Preservam a memória da história da medicina e refletem o contexto científico e cultural de sua época.
Apesar das discussões contemporâneas sobre a padronização dos termos médicos, os epônimos seguem amplamente utilizados tanto na prática clínica quanto no ensino, funcionando como pontes entre o passado e o presente da ciência.
Doenças com Epônimos
Doença de Chagas
Carlos Chagas, médico e cientista brasileiro, descreveu em 1909 o protozoário Trypanosoma cruzi, o vetor (barbeiro) e a doença – um feito único na história da medicina.
– Transmissão: barbeiro, sangue, transplantes, via congênita e alimentos.
– Fase aguda: febre, sinal de Romaña.
– Fase crônica: complicações cardíacas e digestivas.
– Foi indicado ao Prêmio Nobel.
Doença de Alzheimer
Alois Alzheimer, neurologista alemão, descreveu em 1906 o caso de Auguste Deter, com perda de memória e alterações cerebrais características.
– Demência neurodegenerativa mais comum.
– Início com perda de memória recente, evoluindo para alterações cognitivas e comportamentais.
– Causada por acúmulo de beta-amiloide e proteína tau.
– Tratamento é sintomático, com suporte familiar essencial.
Doença de Parkinson
James Parkinson, médico inglês, descreveu em 1817 a “paralisia agitante”, com tremores e rigidez muscular.
– Doença neurodegenerativa do movimento.
– Sintomas: tremor de repouso, rigidez, bradicinesia, instabilidade postural.
– Causada pela perda de dopamina na substância negra.
– Tratamento: levodopa, reabilitação e estimulação cerebral profunda.
Síndrome de Sjögren
Henrik Sjögren, oftalmologista sueco, relatou em 1933 casos de olhos e boca secos em mulheres com artrite.
– Doença autoimune que afeta glândulas exócrinas.
– Provoca xerostomia e xeroftalmia, com sensação de areia nos olhos e dificuldade para engolir.
– Pode ser primária ou secundária (AR, LES).
– Aumenta o risco de linfoma.
Doença de Still (infantil ou do adulto)
George Still, pediatra inglês, descreveu em 1897 uma forma sistêmica de artrite em crianças.
– Variante da artrite idiopática juvenil; também ocorre em adultos.
– Febre alta diária, rash salmão, artrite e leucocitose.
– Diagnóstico clínico por exclusão; boa resposta a corticoides.
Síndrome de Felty
George Felty, em 1924, identificou a tríade: artrite reumatoide, esplenomegalia e neutropenia.
– Forma grave e crônica da AR.
– Neutropenia leva a infecções recorrentes.
– Fortemente associada ao fator reumatoide e anti-CCP
Doença de Behçet
Hulusi Behçet, dermatologista turco, descreveu em 1937 úlceras orais/genitais e inflamação ocular.
– Vasculite sistêmica de vasos pequenos e grandes.
– Sintomas: aftas, úlceras genitais, uveíte, trombose.
– Curso recorrente, predominante no “cinturão da seda”.
Fenômeno de Raynaud
Maurice Raynaud, médico francês, descreveu em 1862 episódios de vasoespasmo digital induzidos pelo frio.
– Fases: palidez -> cianose -> rubor.
– Pode ser primário ou secundário (LES, esclerose sistêmica).
– Tratamento: proteção contra o frio e bloqueadores de canal de cálcio.
Outros Epônimos Relevantes
Doenças:
– Doença de Crohn – inflamação intestinal crônica; Burrill Crohn.
– Síndrome de Down – trissomia do 21; John Langdon Down.
– Doença de Hodgkin – tipo de linfoma; Thomas Hodgkin.
– Doença de Graves – hipertireoidismo autoimune; Robert Graves.
– Doença de Addison – insuficiência adrenal crônica; Thomas Addison.
– Síndrome de Marfan – distúrbio do tecido conjuntivo; Antoine Marfan.
Sinais e Sintomas:
– Sinal de Babinski – reflexo plantar anormal; Joseph Babinski.
– Sinal de Murphy – dor à palpação da vesícula biliar; John Murphy.
– Sinal de Blumberg – dor à descompressão abdominal; Jacob Blumberg.
– Sinal de Cullen – equimose periumbilical; Thomas Cullen.
Exames e Escalas:
– Escala de Glasgow – avalia nível de consciência; Teasdale e Jennett.
– Teste de Rinne – compara condução óssea e aérea; Heinrich Rinne.
– Teste de Coombs – detecta anticorpos anti-hemácias; Robin Coombs.
Instrumentos e Manobras:
– Manobra de Heimlich – desobstrução das vias aéreas; Henry Heimlich.
– Pinça de Kocher – pinça hemostática cirúrgica; Emil Kocher.
– Posição de Fowler – posição semi-sentada do paciente; George Fowler.
Novos Tempos: Desafios da Medicina Moderna
Hoje, a medicina enfrenta diversos desafios – e no Brasil, um dos mais urgentes é o crescimento desenfreado de escolas médicas, impulsionado por interesses econômicos de grandes conglomerados educacionais.
O país já soma mais de 390 faculdades de medicina, atrás apenas da Índia e superando os Estados Unidos. Entretanto, grande parte dessas instituições não atende aos requisitos mínimos de infraestrutura, corpo docente qualificado e campos de prática adequados. Isso compromete diretamente a formação dos futuros médicos e coloca em risco a qualidade do atendimento à população
O aumento das denúncias por erro médico é um reflexo desse cenário preocupante. Em resposta, o Conselho Federal de Medicina, em parceria com a Frente Parlamentar Mista da Medicina e a Associação Médica Brasileira, defende a criação do Exame de Proficiência em Medicina, nos moldes do exame da OAB. O objetivo é duplo: garantir que os recém-formados estejam aptos a exercer a profissão e fiscalizar a qualidade das instituições de ensino médico no país.