Queridos irmãos e irmãs em Cristo! “Que a graça, a misericórdia e a paz de Deus, o Pai, e de Cristo Jesus, o nosso Senhor, estejam com você! (2 Timóteo 1.2b).”
Vivemos em tempos em que as pessoas estão cada vez mais apressadas e distraídas. As contas não fecham, o mês parece que tem menos dias que realmente tem, as contas parecem que só aumentam. As pessoas quando empregadas recebem pouco, e mesmo as que recebem razoavelmente bem dizem que é insuficiente. De modo geral as pessoas recebem muitas bençãos, mas agradecem pouco, pois olham apenas o material. Provavelmente eu e você estamos nesta mesma toada.
Nós experimentamos bênçãos todos os dias — e são incontáveis, desde o nascer do sol, o alimento na mesa, o ar que respiramos, o abraço de quem amamos — e, no entanto, a gratidão se torna algo raro, em resumo: tendemos fortemente a sermos ingratos.
Acredito que a nossa ingratidão tenha uma origem bem pontual: Pois, a gratidão não é natural ao coração humano. Ela é fruto da fé — a fé que reconhece a graça de Deus. Hoje, a Palavra do Senhor nos convida a refletir sobre três verdades que sustentam a vida cristã: Graça recebida -fé confessada- e gratidão vivida. São verdades que refletem a ação de Deus em nós. São verdades que acontecem na nossa vida, sempre na mesma ordem. Deus vem, transforma, transformados por Deus, somos levados a reconhecer a bondade do Senhor declarando que Ele é a fonte de graça e por conseguinte: vivemos a vida em gratidão, como um eco do amor de Deus em nós.
Para ilustrar, quero contar uma pequena história: Um menino estava brincando no quintal e caiu num buraco fundo. Gritava, chorava, desesperado. Um vizinho ouviu e correu para ajudá-lo. Com esforço, sujou-se todo, mas conseguiu puxar o menino para fora. Quando o menino chegou em casa, correu para contar à mãe: “Mamãe, alguém me salvou!” A mãe perguntou: “E você agradeceu?” Ele respondeu: “Eu estava tão feliz por ter sido salvo, que esqueci de agradecer!”
Assim somos nós, muitas vezes, diante de Deus. Recebemos tanto — perdão, vida, salvação — e ainda assim esquecemos de voltar para agradecer. Hoje, através da Palavra, o Senhor quer reacender em nós a gratidão. Através do exemplo dos textos lidos de Salmo 111 – Rute 1.1-19a – 2 Timóteo 2.1-13 – Lucas 17.11-19, aprenderemos que a verdadeira fé é aquela que confessa a graça recebida e a transforma em vida de gratidão. Em cada um dos textos a Graça de Deus escancara a bondade de Deus sobre os pecadores.
Por exemplo, o evangelista Lucas nos diz que Jesus estava a caminho de Jerusalém, passando entre a Samaria e a Galileia. Esse detalhe é importante: Jesus está nas fronteiras — entre o puro e o impuro, entre judeus e samaritanos, entre os “de dentro” e os “de fora”. Ainda hoje ele continua, entre os que já são do seu rebanho e os que ainda não são, estes que já sabem são testemunhas vivas pela fé que Jesus foi ressuscitado dentre os mortos e agora por onde andam por meio do seu testemunho de vida devem levar Cristo aos que ainda não sabem que Ele é. Mas não vão sozinhos, Deus Espírito Santo está conosco.
No caso do Evangelho percebemos que Jesus está sustentando os seus, mas também quer ser achado por aqueles que ainda não fazem parte dos eu rebanho. É ali, nas margens da vida, que a graça se revela. Temos um bom exemplo o texto do evangelho que nos conta sobre: Dez homens leprosos, excluídos, impuros, isolados, levantam a voz e clamam de longe: “Jesus, Mestre, tem misericórdia de nós!” Eles não pedem explicações. Os porquês da sua enfermidade apenas sabem que em Cristo podem ser atendidos. Assim como nós podemos. Os leprosos por sua vez não argumentam seus méritos. Eles apenas clamam por misericórdia. E Jesus os ouve. Ele não toca neles, não faz nenhum gesto espetacular. Apenas diz: “Ide e mostrai-vos aos sacerdotes.” E o texto continua: “Enquanto iam, foram purificados.” Eles creram na Palavra e obedeceram, mesmo sem ver ainda o resultado. A cura aconteceu no caminho, não no ponto de partida. Assim também é a graça de Deus conosco. Clamamos, somos ouvidos, mas as respostas vão acontecendo dentro do plano de Deus. Deus sabe que por causa do pecado, nós estamos feridos, afastados da presença de Deus, mas em Cristo, Deus se mostra misericordioso. E Jesus quando nos encontrou Ele nos achou: — feridos, impuros, cheios de culpa — e nos chama a caminhar confiando na sua Palavra. Assim também ele continua vindo ao nosso encontro sempre de novo. Ao pecador fica claro que a graça é imerecida.
A graça é conhecida somente pelo fato de Deus se revelar a nós. E o conhecimento da bondade de Deus nasce da Palavra que ouvida gera fé, confiança por mostrar-nos um Deus, Todo-Poderoso, mas bondoso. E com o Evangelho ouvido faz nascer a fé nasce genuína em Cristo.
Como diz o Salmista no Salmo 111.2, diz: “Como são maravilhosas as coisas que ele faz!” Aqui é importante entendermos que não somos nós que buscamos a Deus — é Ele quem vem ao nosso encontro. Assim como Jesus foi ao encontro daqueles leprosos, Ele vem até nós em meio às nossas feridas, nossas falhas e nosso pecado. A sua graça nos alcança e nos purifica. A graça de Deus nos leva a confessar a fé, e esta fé confessa que tudo quanto de bom temos é fruto da bondade de Deus. Temos um bom exemplo, de gratidão e fé. O leproso que voltou, ele reconheceu que a fonte de sua cura, não estava em estar na presença dos sacerdotes, mas de Jesus. E volta-se para Jesus. Quem somos nós dos leprosos? Os nove ou aquele que voltou? Como temos encarado a graça de Deus? Como um presente imerecido ou achamos que temos direitos de sermos abençoados? Espero que reconheçamos que não tem direito algum, mas aguardamos dia e noite pela graça do Senhor Jesus. Dos dez leprosos curados, apenas um voltou. E Lucas nos diz: “E este era samaritano.” Isto é, nem era daqueles que se diziam confiar plenamente em Deus.
O samaritano, pela fé, entendeu que Jesus era o próprio Deus agindo. Por isso, ele volta, glorificando a Deus em alta voz, e se prostra aos pés de Jesus. Jesus pergunta: “– Os homens que foram curados eram dez. onde estão os outros nove? E onde estão os nove?” Essa pergunta ecoa até hoje. Onde estão os nove que Deus tem abençoado? Onde estão os que receberam libertação, perdão, sustento — mas não voltaram para agradecer? Como temos nós agradecido os cuidados de Deus? Vejamos: A fé do samaritano se torna confissão pública. Ele glorifica a Deus, ele se ajoelha, ele adora. E Jesus declara: “Levanta-se e vá; você está curado porque teve fé.” Percebam: os dez foram curados, mas apenas um foi salvo. A cura veio pela graça; a salvação veio pela fé que reconhece a graça e se entrega ao Salvador.
A fé, recebida pela Palavra se torna uma confissão pública, da bondade de Deus. Essa fé confessada é o tema de 2Timóteo 2.1-13, onde Paulo diz: “E você, meu filho, seja forte por meio da graça que é nossa por estarmos unidos com Cristo Jesus. (2 Timóteo 2.1)” Paulo encoraja a um jovem pastor, a suportar o sofrimento, a confessar a fé com coragem, a lembrar-se de Cristo ressuscitado. Ele diz, em 2 Timóteo 2.11-13: “(11) … “Se já morremos com Cristo, também viveremos com ele. (12) Se continuarmos a suportar o sofrimento com paciência, também reinaremos com Cristo. Se nós o negarmos, ele também nos negará. (13) Se não formos fiéis, Cristo continua sendo fiel, pois ele não pode ser falso para si mesmo.””
A fé confessada não depende da força humana, mas da fidelidade de Deus. Mesmo quando vacilamos, Ele permanece fiel, pois não pode negar a Si mesmo. Assim, irmãos, o samaritano nos ensina a confessar.
A fé que reconhece a graça não fica calada — ela adora, louva e testemunha. Ou seja, todo cristão, naturalmente irá pela ação de Deus Espírito mostrar os frutos do Espírito Santo, como uma marca da graça e bondade de Deus. Com isso a nossa fé não é apenas um palavreado que aponta para Cristo, mas uma ação no mundo agindo como resposta ao amor de Deus para que mais pessoas conheçam a Deus e sejam salvas. A fé é gratidão vivida.
Para tal temos um belo exemplo registrado no livro de Rute, que conta a história de Rute, um retrato dessa gratidão que se traduz em fidelidade. Rute viveu um tempo de fome, perda e dor. Seu marido morreu. Conforme o texto ela tinha tudo, mas perdeu tudo, ela poderia ter voltado à sua terra, aos seus deuses, à sua vida antiga. Mas ela escolheu permanecer com sua sogra Noemi e seguir o Deus de Israel. Ela além de crer, ela agiu como alguém que crê, ela não apenas falou, mas mostrou-nos como confissão de fé, uma ação. Agraciada por Deus, pode confessar, num primeiro momento para sua sogra, mas pelos séculos para nós sobre como a vida com Deus é desprendimento das coisas materiais, para servir com fidelidade a Deus. Rute diz: “O seu povo será o meu povo, e o seu Deus será o meu Deus. (Rute 1.16”. Essa é uma das mais belas confissões de fé de toda a Bíblia. Rute não tinha promessas de prosperidade, nem garantia de futuro. Ela simplesmente creu que o Deus de Noemi era o Deus verdadeiro. E sua fé se tornou gratidão vivida, expressa em amor, serviço e lealdade. Mais tarde, Deus honrou essa fidelidade. Ela se tornou a bisavó do rei Davi e antepassada do próprio Cristo. Pela fé, em Cristo, que vem ao nosso encontro percebemos mediante a sua palavra que reconhecemos que a Graça recebida, torna-se em fé confessada, e como resultado nos leva a gratidão vivida em meio as dificuldades reconhecer que toda a ajuda do pecador vem de Deus. Assim também acontece conosco. Sejamos como os nossos antepassados que confiaram nas promessas de Deus e como recompensa receberemos o prêmio da vitória em Cristo. Pois como diz Paulo, em 2 Timóteo 2.10: “eu suporto tudo com paciência por amor ao povo escolhido de Deus. Faço isso para que eles possam ganhar a salvação que está em Cristo Jesus e que traz a glória eterna.” Meus irmãos, contudo, a verdadeira gratidão não é apenas dizer “obrigado, Senhor”, mas viver de modo que cada atitude proclame: “Senhor, Tu és bom, e a Tua misericórdia dura para sempre!” Como o salmista declara no Salmo 111.7: “Ele é fiel e justo em tudo o que faz; todos os seus mandamentos merecem confiança.”
A gratidão é a resposta natural da fé. Sola Gratia — Somente a Graça. Sola Fide — Somente a Fé.
Soli Deo Gloria — Somente a Deus seja a glória. Não somos salvos por nossa gratidão, mas para viver em gratidão. Pois a vida cristã, é sempre um retorna a Cruz onde emana todo o perdão e a graça plena de Deus em Cristo Jesus. Pois na Cruz conhecemos plenamente o Deus misericordioso que Poderoso e compassivo. Hoje o Senhor nos chama a ser como aquele samaritano: um povo que reconhece a graça, confessa a fé e vive em gratidão. Talvez você se veja entre os nove. Talvez Deus já tenha feito grandes coisas por você — e, na correria da vida, a gratidão se perdeu. Hoje é tempo de voltar. Voltar aos pés de Jesus. Voltar para agradecer. Voltar para confessar: “Senhor, Tu és o meu Salvador!” Como Paulo disse a Timóteo: “Lembra-te de Jesus Cristo, ressuscitado dentre os mortos.”
Por isso a vida cristã é sempre uma volta à lembrança da cruz e da ressurreição. Ali está a fonte da graça. Ali nasce a fé. Ali brota a verdadeira gratidão. Que o Senhor, pela Sua graça, nos ensine a viver assim: Com corações gratos, com fé viva, e com uma vida que exala louvor. Amém!