Queridos irmãos e irmãs em Cristo, “Que a graça e a paz estejam com vocês e aumentem cada vez mais, por meio do conhecimento que vocês têm de Deus e de Jesus, o nosso Senhor! (2 Pedro 1.2)”. Amém!
Qual o teu valor de mercado? Qual o teu preço? O padre Antônio Vieira em seu sermão no 4º Domingo da Ascenção, segundo o que se tem registrado nos convida a uma reflexão profunda sobre a graça de Deus ao dizer: “A mim, a imagem dos meus pecados me comove muito mais que essa imagem do Cristo crucificado. Diante dessa imagem do Cristo crucificado eu sou levado a ensoberbecer-me por ver o preço pelo qual Deus me comprou. Diante da imagem dos meus pecados é que eu me apequeno por ver o preço pelo qual eu me vendi. Por ver que Deus me compra com todo o seu sangue, eu sou levado a pensar que eu sou muito, que eu valho muito. Mas quando noto que eu me vendo pelos nadas do mundo, aí eu vejo que eu sou nada. Eu valho nada.”
Vivemos em uma época em que o valor pessoal frequentemente é medido por status, sucesso e visibilidade. A lógica do mundo é clara: quem está no topo manda, quem aparece tem valor, quem se exalta conquista espaço. É visível este tipo de postura no ambiente das redes sociais, onde alguns mais desesperados por alguns likes até já perderam a vida se arriscando em lugares que ofereciam risco de vida. Muitos já morreram por causa da tão sonhada fama e reconhecimento.
Em um mundo assim, palavras como “humildade”, “serviço”, “compaixão” e “discrição” soam fracas, quase obsoletas. Até mesmo, em algumas igrejas, se o pregador, não gritar, dar pirueta, extorquir as pessoas não é considerado um bom pregador. Não é a mensagem, mas a emoção que conta. A fé nestes casos é um sentimento e não uma convicção firme e racional, mas medida pelas lágrimas. As pessoas gostam do ego inflado a todo e qualquer custo. Mas os textos bíblicos que ouvimos hoje nos conduzem em outra direção. Eles nos chamam para um caminho contra a corrente — o caminho da humildade que vem do alto, da confiança em Deus e da vida cristã vivida em amor, não em vaidade.
Jesus, ao observar os convidados escolhendo os primeiros lugares em uma refeição de sábado, usa uma parábola para ensinar algo mais profundo: a verdadeira grandeza aos olhos de Deus está na humildade. Mas que humildade é essa? A humildade de reconhecer-se afastado da graça de Deus e que nada que faça pode mudar esta verdade. Mas que se Deus quiser, se Deus desejar, pode estender a mão e resgatar o pecador abatido e dar honra e dignidade por causa do que Jesus fez. E esse ensino de Cristo ecoa nas demais leituras do dia, nos ensinando que a humildade, o serviço ao próximo, a confiança serena e silenciosa em Deus e o amor fraterno são marcas do povo de Deus. Convido você agora a refletirmos juntos sobre essa “humildade que vem do alto”, guiados pelo Espírito Santo, à luz das Escrituras, pois fora das escrituras nunca encontraremos a plenitude da graça.
A confiança humilde do coração que repousa na esperança da ajuda do Senhor tem transformado muitas vidas. E é o único caminho. O Salmo 131, mesmo sendo um Salmo com 3 versículos apenas traz uma profunda reflexão de quem convencido pela Palavra de Deus deixa o orgulho de lado e agora só tem um desejo: confiar em Deus, e deseja que outros também façam o mesmo, pois achou o verdadeiro sentido para viver. O salmista diz: “Ó Senhor Deus, eu já não sou orgulhoso; deixei de olhar os outros com arrogância. Não vou atrás das coisas grandes e extraordinárias, que estão fora do meu alcance.” Quem confia assim, sente-se seguro mesmo que esteja no “… vale escuro como a morte, não terei medo de nada. Pois tu, ó Senhor Deus, estás comigo; tu me proteges e me diriges. (Salmo 23.4)” A confiança expressa por Davi é também um convite a nós para confiarmos de corpo e alma na bondade de misericórdia Deus. Pois este salmo que é uma oração de humildade e confiança e expõe Davi, o autor, como aquele que esperou em Deus e Deus nunca o deixou sozinho. Também, Davi neste Salmo mostra a todos que ele reconhece que há limites para sua compreensão e ação. É preciso olhar para o céu e assim como a terra seca espera que venha chuvas para irrigá-la assim, também que o pecador, só tem paz e perdão que apaziguam a alma mediante Cristo Jesus, a paz que veio dos altos céus para morar entre pecadores.
Quem aprende que é preciso aguardar no Senhor a exemplo de Davi, expôs no Salmo 131, reconhece que não adianta tentar alcançar o inalcançável, mas é preciso descansar no Senhor como uma criança desmamada junto à sua mãe. A imagem é de completa confiança, de descanso seguro.
Lendo os textos deste final de semana, fica nítido que a loucura humana para ter sucesso, riquezas e que tende a supervalorizar algumas coisas, e em detrimento a outras, acaba por desprezar os seus semelhantes, mostra que o mundo está doente, muito doente pela presença do pecado e precisa urgentemente que as pessoas se voltem para Deus. Em uma sociedade marcada pela inquietação e ambição desmedida, esse salmo nos convida a um espírito manso e humilde diante de Deus. Não é uma negação da busca pelo conhecimento ou crescimento, mas uma confissão de que há coisas que pertencem somente a Deus — como diz Provérbios 25.2: “Respeitamos a Deus por causa daquilo que ele esconde de nós; e respeitamos as autoridades por causa daquilo que elas nos explicam.”
A humildade começa por reconhecer os nossos limites e confiar na sabedoria e nos caminhos do Senhor. A verdadeira maturidade espiritual se revela em saber descansar em Deus, sem ansiedade, sem orgulho, sem a busca incessante por reconhecimento. Por isso em provérbios 25-2-10, vemos um conselho prático sobre como viver com sabedoria, especialmente no relacionamento com os outros, especialmente nos versículos 6 e 7, que dizem assim: “(6) Quando você estiver diante das autoridades, não se faça de importante. (7) É melhor que depois lhe deem um lugar de honra do que você ser humilhado na presença das autoridades.” Aqui a sabedoria nos adverte contra a presunção e a autopromoção. O sábio nos ensina que é melhor ser exaltado por outros do que se colocar em uma posição elevada apenas para ser humilhado. Essa advertência está diretamente ligada à parábola contada por Jesus no Evangelho de Lucas 14.1-14, especialmente no versículo 11: “Porque quem se engrandece será humilhado, mas quem se humilha será engrandecido.”
Mas essa sabedoria não é apenas uma estratégia social para evitar vergonha. Trata-se de uma postura espiritual: saber o nosso lugar, reconhecer que tudo o que somos e temos é dom de Deus. Quando tentamos forçar reconhecimento, na verdade revelamos nossa insegurança e orgulho.
Além disso, Provérbios nos exorta à prudência em nossas relações e julgamentos: “não entre depressa com uma queixa ao tribunal”. Ou seja, devemos ter cautela, justiça, autocontrole — virtudes que nascem da humildade e do respeito pelo próximo. Como diz Pedro em 1 Pedro 5.6-7: “(6) Portanto, sejam humildes debaixo da poderosa mão de Deus para que ele os honre no tempo certo. (7) Entreguem todas as suas preocupações a Deus, pois ele cuida de vocês.”
Fato: a vida dos filhos de Deus difere grandemente das demais pessoas, pois pela ação do Espírito Santo, nós não nos contentamos em saber que já somos Salvos e amados por Deus. Mas, também queremos que as outras pessoas também tenham a mesma alegria e a humildade que vem do alto. Isso é muito melhor que o orgulho e o cansaço que o pecado que dá. Davi sentindo isso na pele confessa que: “Enquanto não confessei o meu pecado, eu me cansava, chorando o dia inteiro. (Salmo 32.3).”
Isto é tão profundo que a carta aos Hebreus, no capítulo 13, apresenta uma série de exortações práticas para a vida cristã. E tudo gira em torno do amor: “(1) Continuem a amar uns aos outros como irmãos em Cristo. (2) Não deixem de receber bem aqueles que vêm à casa de vocês; pois alguns que foram hospitaleiros receberam anjos, sem saber. (hebreus 13.1-2).”
Na carta aos hebreus especialmente no capítulo 13, a vida cristã é instigada para colocarmos a Humildade que vem do alto em prática por meio do amor fraternal. Pois uma vida marcada pela humildade e pelo serviço: amor fraternal, hospitalidade, compaixão pelos presos e maltratados, pureza no casamento, contentamento com o que se tem, respeito pelos líderes espirituais, e, acima de tudo, imitação de Cristo. Isto é amor em ação, amor em movimento que vive e prega com palavras e ação como é maravilhoso servir ao Deus vivo. Visto que amar o próximo, ser hospitaleiro, ajudar os que sofrem, honrar o casamento, evitar a cobiça — tudo isso são expressões de uma vida centrada em Deus e não no ego. E ainda temos a confirmação que: “Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e sempre. (Hebreus 13.8)” Essa é a âncora da nossa fé e da nossa conduta. Não seguimos modismos ou filosofias passageiras. Seguimos a Cristo, humilde e exaltado, servo e Senhor. E por isso somos chamados a oferecer “sacrifícios espirituais”, ou seja, louvor a Deus e boas obras ao próximo. Como diz o texto em Hebreus 13.15-16: “(15) Por isso, por meio de Jesus Cristo, ofereçamos sempre louvor a Deus. Esse louvor é o sacrifício que apresentamos, a oferta que é dada por lábios que confessam a sua fé nele. (16) Não deixem de fazer o bem e de ajudar uns aos outros, pois são esses os sacrifícios que agradam a Deus.”
Também no Evangelho de Lucas, capítulo 14, somos convidados por Jesus a refletirmos que em tudo é preciso humildade. Vejamos: Jesus está na casa de um fariseu, num sábado, e observa como os convidados escolhiam os primeiros lugares à mesa. Aproveitando a ocasião, ele conta uma parábola: “— Quando alguém convidá-lo para uma festa de casamento, não sente no melhor lugar… Porque quem se engrandece será humilhado, mas quem se humilha será engrandecido. (Lucas 14.8,11).” É preciso entender que aqui, Jesus não está apenas dando dicas de etiqueta ou boas maneiras. Ele está revelando um princípio do Reino de Deus: a exaltação vem de Deus, não de nós mesmos. A humildade é o caminho da honra verdadeira. Além disso, Jesus amplia o ensino: quando você der um banquete, convide os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos — aqueles que não podem retribuir. Aqui está o cerne do Evangelho: fazer o bem sem esperar recompensa. Amar os invisíveis. Servir sem buscar reconhecimento. Ela reflete o caráter de Cristo, que mesmo sendo Deus, “Pelo contrário, ele abriu mão de tudo o que era seu e tomou a natureza de servo… (Filipenses 2.7).”
Por isso aprendemos com Jesus que a sermos seus servos revela um modo diferente de encarar a vida. É uma vida de dependência em cristo. Por isso, a humildade cristã não é uma falsa modéstia ou uma autoimagem negativa. Ela nasce da consciência de quem somos diante de Deus — pecadores redimidos, filhos amados, servos inúteis, e ao mesmo tempo, herdeiros da graça. A humildade nos livra do peso de impressionar os outros, nos liberta da ansiedade por reconhecimento, e nos convida a uma vida de confiança e serviço. Que a humildade que vem do alto seja nossa marca. Que Cristo seja o nosso modelo. Que o Espírito Santo nos molde conforme a Palavra. E que, ao final, quando nos for dito: “Meu amigo, venha sentar-se aqui num lugar melhor. (Lucas 14.10)”. E assim sejamos encontrados fiéis, humildes e prontos para o banquete eterno. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.
HUMILDADE QUE VEM DO ALTO

Pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil em Macapá – Congregação
Cristo Para Todos; também atua como Missionário em Angola e Moçambique