Viajar de avião é muito comum para uma boa parte da população e em 2024, mais de 4,5 bilhões de pessoas voaram pelo mundo, segundo a Associação Internacional de Transporte Aéreo. Apesar da segurança do transporte aéreo, que tem taxas de acidentes extremamente baixas, o voo impõe ao corpo humano condições únicas que podem provocar desde pequenos incômodos até emergências médicas.
Quando embarcamos, parece que estamos apenas sentados em uma poltrona confortável, mas o organismo sente a diferença de fatores como a baixa umidade e desidratação. O ar da cabine é muito seco, com umidade de 10% a 20%, semelhante ao deserto do Saara.
São efeitos comuns a boca seca, olhos irritados, pele ressecada e sensação de sede constante. Há também maior risco de fadiga e dor de cabeça em voos longos para os quais é importante a boa hidratação (150 a 200 mL de água por hora de voo) e evitar exagerar em café, chá preto ou álcool, que aumentam a desidratação.
Pessoas saudáveis toleram bem a menor pressão dentro da cabine, mas quem tem doença pulmonar, anemia grave ou insuficiência cardíaca pode apresentar falta de ar ou fadiga. Um estudo do New England Journal of Medicine mostrou que 0,1% dos passageiros necessitam de atendimento médico em voo, e 12% dessas emergências são respiratórias.
A imobilidade traz o risco de trombose, pois ficar sentado muitas horas dificulta o retorno do sangue das pernas, sendo a Trombose Venosa Profunda (TVP) mais comum em voos acima de 8 horas com incidência estimada de 1 a cada 4.600 passageiros em voos longos (OMS).
O risco de TVP aumenta em 3 a 6 vezes para quem já teve trombose, é obeso, usa anticoncepcional ou tem mais de 60 anos. Dor, inchaço ou vermelhidão em uma perna após voos podem indicar trombose e exigem avaliação médica imediata.
Alterações de ouvido e seios da face ocorrem durante a decolagem e o pouso. O ar preso nas cavidades do ouvido médio e seios da face expande ou retrai e os sintomas comuns são dor de ouvido, sensação de “ouvido tampado” ou estalos. Crianças sofrem mais, pois têm canais auditivos menores e uma dica prática é mastigar chiclete ou bocejar para equilibrar a pressão no ouvido.
Apesar de o ar da cabine passar por filtros que removem 99,97% das partículas, há risco de infecções respiratórias, porém o risco maior é estar próximo a alguém doente. Um estudo americano demonstrou que o risco de pegar gripe em voo aumenta em até 80% para passageiros sentados próximos de uma pessoa infectada. Lavar as mãos, usar álcool em gel regularmente, usar máscara em voos longos ou durante surtos gripais reduz o risco de contaminação.
As emergências médicas mais comuns em voos são: desmaios ou mal-estar súbito (41%), problemas respiratórios (12%), dor no peito (8%), náuseas e vômitos (5%). Apenas 7% precisaram de desvio de rota para pouso de emergência.
O famoso jet lag (fadiga do viajante) acontece quando cruzamos fusos horários rapidamente e apresenta-se com insônia, cansaço extremo, dor de cabeça, irritabilidade e problemas digestivos. Geralmente é necessário 1 dia de adaptação para cada fuso horário cruzado. Uma boa estratégia é evitar álcool e refeições pesadas à noite e se possível, expor-se à luz solar no destino para ajudar a “reiniciar” o relógio biológico.
Alguns grupos precisam de mais atenção especial e de avaliação médica antes de voos longos. São pacientes com doença vascular, gestantes com mais de 28 semanas, cardiopatas e pneumopatas, pacientes em pós-operatório recente.
Seis dicas práticas para voar com segurança:
- Beber água a cada hora de voo.
- Caminhar a cada 2–3 horas em voos longos.
- Fazer exercícios com os pés e pernas mesmo sentado.
- Usar meias de compressão se tiver risco para trombose.
- Evitar roupas muito apertadas.
- Em viagens internacionais, tenha um resumo do seu histórico médico em inglês, se tiver doenças crônicas.
Viajar de avião é seguro, mas o corpo sente os efeitos da altitude, do ar seco e da imobilidade. Pequenos cuidados, como hidratação, movimentação e atenção aos sinais do corpo, fazem toda a diferença. Para pessoas com doenças crônicas ou cirurgias recentes, uma avaliação médica antes do voo é essencial.