Mudara, com sua família, para um bairro nobre de sua cidade. Tinha apenas trinta anos e começava a se destacar em sua profissão. A condição financeira permitira-lhe adquirir a residência aos 29 anos de idade, fazendo, de imediato, uma reforma total no imóvel, construindo, inclusive, uma área de lazer em volta da piscina. Na garagem, uma Mercedes-Benz, último modelo, preta e reluzente, que ele mesmo não acreditava ter.
Apesar da pouca idade, estava em seu segundo casamento. O primeiro, que durara menos de dois anos, fora contraído quando a namorada, com quem estava por terminar, engravidou. Arrogo da juventude — afinal, era macho e não precisava usar preservativos; e, como “macho da relação”, quem deveria se prevenir era a mulher. Esse sempre fora seu pensamento, um tanto mesquinho e egoísta, mas compreensível pela imaturidade. Ao saber da gravidez, casou-se prematuramente, achando-se homem. E ali começou a mudar sua história.
Depois de nove meses nasceu sua filha. Ficou tão encantado que nunca se vira um pai tão emocionado. O amor de que seu pai lhe falava — o amor de um pai para um filho — e que sempre achara um tanto exagerado, percebeu, na mesma rapidez de um raio, que não havia descrição possível. O exagero mudou de tom: passou a achar que seu pai até fora moderado para falar de amor. Aquela criança tão nova e frágil dava-lhe força e segurança a ponto de, se necessário, enfrentar o mundo todo apenas para que sua filhinha não tivesse um desgosto.
Depois separou-se e casou-se novamente; e aí Deus lhe deu mais dois filhos. O primeiro recebeu o seu nome e o segundo repetiu-o, mas com outro nome na frente. Não havia nada melhor no mundo do que reunir seus filhos em sua cama para dormir os quatro juntos. Inevitavelmente, sua boa esposa tinha de sair da cama e ir para o outro quarto, pois ali nem uma pulga a mais poderia estar. Sentia-se o mais feliz dos homens. Brincava com seus filhos até de madrugada, para o desgosto da mãe, que achava que as crianças deveriam dormir cedo. Mas a vontade de ficar com os filhos era maior do que ele. Quando os rebentos, literalmente, desmaiavam de cansados, ele ainda ficava ali olhando para os três e, sozinho, chorava e rezava agradecendo a Deus tamanha felicidade de ser pai.
Passados uns três anos desde que lá residia, mudou-se para a casa de baixo um senhor alto, simpático, com uma bela esposa e filhos. Logo fizeram amizade e começaram a frequentar as casas mutuamente. O vizinho era mais velho uns cinco ou seis anos e tinha um pai com quase oitenta anos. Esse senhor era alto, educado, sempre solícito. Quando o encontrava, parecia sempre que o mais novo era o pai do vizinho, de tamanha solicitude.
O moço achava que não precisava de mais nada, apenas trabalhar e ganhar dinheiro para criar seus filhos. Planos para o futuro? O que é isso? “Temos que ser imediatistas, viver apenas o dia de hoje. O futuro é para quem não consegue viver o presente.” Aquilo passou a lhe dar uma certa frustração na vida, pois o que ele queria no dia de hoje e tivesse de esperar já não tinha graça. E a vida começou a perder o sentido, pois nem tudo se consegue de imediato. Apenas seus filhos continuavam lhe dando alegria. Seus sonhos, se não realizados no dia seguinte, viravam pesadelo ou caíam no esquecimento.
Até que um dia foi convidado para o aniversário de 80 anos desse senhor, a quem admirava muito por sua postura e sua educação. Aquele senhor tinha sido muito rico no passado e quebrara; talvez tivesse sido um dos homens mais abastados de Belo Horizonte. Como podia um homem daquela idade ter de trabalhar para seu sustento e o de sua senhora, vivendo de uma merreca de aposentadoria somada a seu pequeno salário, e ser tão feliz e sorridente? Um homem que desceu os degraus da fortuna até próximo ao da pobreza, sem perder o bom humor e sempre tendo em seus lábios uma palavra amiga e de esperança.
Quando chegou ao aniversário, foi logo cumprimentá-lo e, por educação, perguntou:
— Qual o segredo de sua vitalidade e de seu bom humor?
Ao que aquele velho senhor respondeu:
— É simples: faço planos para daqui a dez anos.
A resposta o assustou, deixando-o um pouco sem graça, indagando a si mesmo:
— Eu, com 35 anos, não consigo fazer planos; quero tudo para ontem. Este velho deve estar variando… fazer planos para daqui a 10 anos, essa é boa: o velhote vai estar com 90 anos.
O senhor, percebendo que sua resposta deixara o jovem com um sorriso amarelo, completou:
— Meu rapaz, quantos anos você tem?
— 35 — respondeu.
E continuou:
— Há 10 anos você tinha 25 anos. Nessa idade todos temos muitos planos e sonhos. Quantos você fez na ocasião e quantos conseguiu realizar?
No que respondeu o jovem, pensando consigo mesmo que tinha uma vida pela frente e que o senhor já estava quase na hora da morte:
— Alguns eu realizei e outros não; mas, quando se é novo, planeja-se demais. Hoje quero tudo para agora.
O senhor, abrindo um sorriso nos lábios e com a paciência de um pai que ensina o filho a andar, concluiu, com a sapiência de quem já viveu muito:
— Nada na vida é imediato. Para você nascer, sua mãe teve que esperar nove meses. Eu faço planos para daqui a 10 anos, para quando estarei completando meus noventa anos de idade. Se eu morrer, vai ser apenas mais um plano que não deu certo. Mas, se eu não os fizer, eu morro antes.
O valor dos planos: o encontro de um jovem pai com a sabedoria de um vizinho octogenário
