Queridos irmãos e irmãs em Cristo, “Que a graça e a paz de Deus, o nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo estejam com vocês! (Filipenses 1.2).”
Diz o hino de louvor a Deus: “(1) Cantem hinos a Deus, o Senhor, todos os moradores da terra! (2) Adorem o Senhor com alegria e venham cantando até a sua presença. (Sl 100.1-2)”. Assim nos convida o salmista neste domingo. O Salmo 100 é um salmo de gratidão, de adoração jubilosa, um convite a reconhecer que o Senhor é Deus, que foi Ele quem nos fez, e que somos ovelhas do seu pasto. O salmista nos faz um convite que nos leva a olhar a contentar-nos com o que já recebemos. Visto que tudo quanto temos é presente de Deus e não está alicerçado nos nossos esforços, mas na graça e misericórdia de Deus por essência. Se temos algo é porque Deus nos abençoou, desde saúde aos bens materiais. O salmista recorda que um coração agradecido é um coração feliz, pois recebeu de Deus a adoção de filhos e em Cristo somos todos chamados a viver essa vida entrando na casa de Deus com coração agradecido. Ele nos recorda que a vida não gira em torno de nós mesmos, de nossas posses ou projetos, mas do Senhor, Criador e Sustentador de todas as coisas. O nosso Deus é um Deus que renova a sua graça a cada novo dia. Por isso somos chamados a avaliarmos a nossa vida como uma vida para vivermos na presença de Deus. Mas, neste caso podemos nos perguntar: Para quem será o que tens preparado? É uma reflexão necessária, visto que os demais textos além do Salmo 100, isto é: Eclesiastes 1.2,12-14; 2.18-26: Colossenses 3.1-11; Lucas 12.13-21; nos levam a uma reflexão mui profunda sobre a brevidade da vida e onde temos guardado as nossas riquezas e em quem temos depositado a nossa confiança.
Por exemplo, os textos do dia nos confrontam com uma realidade desconfortável, na verdade muito desconfortável, isto é: O vazio da vaidade humana. Por isso o autor, do livro de Eclesiastes, clama: “É ilusão, é ilusão, diz o Sábio. Tudo é ilusão. (Eclesiastes 1.2).” Paulo nos exorta a buscar as coisas do alto, e não as que são da terra, e Jesus nos adverte sobre o perigo da avareza e da falsa segurança nas riquezas. Mas é importante dizer que Deus não é contra as pessoas terem posses, mas é contra o fato das pessoas se esquecerem dele e da sua graça e confiarem nas posses e suas habilidades pessoais. Tanto é que, em Mateus 6.19-21, nos diz: “(19) — Não ajuntem riquezas aqui na terra, onde as traças e a ferrugem destroem, e onde os ladrões arrombam e roubam. (20) Pelo contrário, ajuntem riquezas no céu, onde as traças e a ferrugem não podem destruí-las, e os ladrões não podem arrombar e roubá-las. (21) Pois onde estiverem as suas riquezas, aí estará o coração de vocês.”
Hoje, somos convidados a olhar para o nosso coração, para aquilo em que temos colocado nossa esperança, e a nos perguntar com seriedade: “Para quem será o que tens preparado?”. No texto da Parábola Jesus nos mostra que um dia estaremos na presença de Deus. E será terrível para quem não tiver a Deus em primeiro lugar em sua vida. Este não tem nada, pois o próprio Deus diz conforme Jesus em Lucas 12.20: “Mas Deus lhe disse: “Seu tolo! Esta noite você vai morrer; aí quem ficará com tudo o que você guardou?”. Que dura palavra e quem poderá safar-se sem a defesa de Jesus. Ninguém!
Por isso quando nós ao lermos o texto de – Eclesiastes 1.2,12-14; 2.18-26, somos indubitavelmente levados à reflexão existencial mais honesta das Escrituras. O autor, tradicionalmente identificado como Salomão, observa a vida com uma lente crítica e percebe a futilidade dos esforços humanos. “Vaidade de vaidades”, ele exclama. A palavra hebraica usada aqui é hevel (הֶבֶל), que significa “vapor”, “névoa”, algo transitório, instável, sem substância.
Com isso Salmão, busca o sentido no trabalho, na sabedoria, no prazer, nas riquezas. E sua conclusão é que tudo isso, por si só, é correr atrás do vento. Ele diz, em Eclesiastes 2.18: “Tudo o que eu tinha e que havia conseguido com o meu trabalho não valia nada para mim. Sabia que teria de deixar tudo para o rei que ficasse no meu lugar.”
É uma constatação dolorosa: o fruto do nosso esforço muitas vezes escapa das nossas mãos, especialmente por buscar regozijo nas próprias conquistas. E mesmo que consigamos acumular bens, prazer ou fama, tudo isso é efêmero. Quando a morte vier – e ela virá – tudo ficará para trás. E então: Para quem será o que tens preparado? Essa reflexão não é um chamado ao desânimo, mas ao realismo. Ela nos convida a reconhecer que a vida vivida apenas “debaixo do sol”, sem Deus, é uma existência sem propósito eterno. Por isso, o autor também reconhece que “A melhor coisa que alguém pode fazer é comer e beber e se divertir com o dinheiro que ganhou. No entanto, compreendi que mesmo essas coisas vêm de Deus. (Eclesiastes 2.24)”. Ou seja, a alegria na vida está em reconhecer que tudo o que temos é dom divino, e não conquista humana. Fora o reconhecimento de que Deus está no controle da nossa vida é viver uma vida de ilusão.
Neste sentido se por um Eclesiastes nos mostra a futilidade da existência sem Deus, o apóstolo Paulo nos aponta o caminho da verdadeira vida: “Vocês foram ressuscitados com Cristo. Portanto, ponham o seu interesse nas coisas que são do céu, onde Cristo está sentado ao lado direito de Deus. (Colossenses 3.1).”
Com esta lembrança em Colossenses fica claro que o Apóstolo Paulo faz uma clara distinção entre a “vida velha” e a “vida nova”. Ele nos convida a abandonar o velho homem – Paulo diz. “Portanto, matem os desejos deste mundo que agem em vocês, isto é, a imoralidade sexual, a indecência, as paixões más, os maus desejos e a cobiça, porque a cobiça é um tipo de idolatria. (Colossenses 3.5)”, visto que todas essas coisas são da natureza humana e colocam as posses no lugar de Deus. Ela não é apenas um problema moral; é um problema espiritual profundo. É literalmente falta de fé, falta da fé verdadeira, fé que depende e espera ansiosamente pela bondade de Deus. Mas é um fato: Vivemos numa sociedade que nos incentiva diariamente a acumular, a consumir, a possuir sempre mais. Mas Paulo nos lembra que: “(3) a vida de vocês está escondida com Cristo, que está unido com Deus. (4) Cristo é a verdadeira vida de vocês, e, quando ele aparecer, vocês aparecerão com ele e tomarão parte na sua glória. (Colossenses 3.3-4)”. Ou seja, a verdadeira segurança, a verdadeira identidade, e o verdadeiro valor da vida estão em Cristo, e não nas coisas materiais. E então: Para quem será o que tens preparado?
Muitas vezes, até mesmo dentro das igrejas, podemos cair na tentação de medir o valor das pessoas por aquilo que elas têm, pela sua eloquência, esquecemos que aos olhos de Deus quem é rico é o que é humilde perante o Senhor – por isso: Não esqueça que seus bens, seu status, seu sucesso profissional, não podem te tornar digno na presença de Deus. Só Jesus pode nos dar dignidade. Mas Paulo diz que, no corpo de Cristo, “já não existem mais judeus e não judeus, circuncidados e não circuncidados, não civilizados, selvagens, escravos ou pessoas livres, mas Cristo é tudo e está em todos” (Colossenses 3.11). Somos convidados, portanto, a viver como ressuscitados, a buscar o alto, e a nos revestir das virtudes que procedem do Espírito: compaixão, bondade, humildade, mansidão e amor. Tanto é verdade que no Evangelho, Jesus conta uma parábola em resposta a uma pergunta aparentemente inocente: “— Mestre, mande o meu irmão repartir comigo a herança que o nosso pai nos deixou. (Lucas 12.13)”. Mas Jesus percebe que por trás da pergunta há algo mais profundo: avareza, apego ao dinheiro, e possivelmente uma vida centrada em si mesmo. Então como está a sua vida? Para quem será o que tens preparado? No caso do contexto do Evangelho a resposta de Jesus é dura e direta: “— Prestem atenção! Tenham cuidado com todo tipo de avareza porque a verdadeira vida de uma pessoa não depende das coisas que ela tem, mesmo que sejam muitas. (Lucas 12.15)”.
E então vem a parábola para ilustrar esta resposta e dar sentido a ela. Jesus fala que um homem rico tem uma colheita abundante. Em vez de louvar a Deus e pensar em como repartir sua bênção, ele pensa em si mesmo. Faz planos para ampliar seus celeiros, guardar sua colheita e dizer a si mesmo: “‘Homem feliz! Você tem tudo de bom que precisa para muitos anos. Agora descanse, coma, beba e alegre-se.’ (Lucas 12.19)”.
Mas Deus lhe diz: “Seu tolo! Esta noite você vai morrer; aí quem ficará com tudo o que você guardou?” (Lucas 12.20).
Essa pergunta é central no sermão de hoje. Ela desmonta toda a lógica do mundo. Enquanto o homem achava que tinha segurança no seu patrimônio, Deus lhe mostra que a vida é frágil, breve, e que o acúmulo sem propósito é loucura. É preciso compreender que o problema desse homem não é a colheita em si, nem os celeiros, mas o fato de que sua vida gira em torno de si mesmo. Ele não considera Deus, não considera o próximo, não considera a eternidade. Ele vive como se fosse senhor do seu destino – e esquece que tudo pertence a Deus.
Jesus conclui: “— Isso é o que acontece com aqueles que juntam riquezas para si mesmos, mas para Deus não são ricos.” (Lucas 12.21). Isso nos leva a refletir: como temos usado o que Deus nos confiou? Temos sido ricos para com Deus? Ou temos vivido para os nossos próprios celeiros?
É nesse contexto voltamos ao Salmo 100, que brilha como um farol, nos apontando o que é importante. Ele nos convida à adoração, à gratidão, à entrega total ao Senhor. Diz o salmista: “Lembrem que o Senhor é Deus. Ele nos fez, e nós somos dele; somos o seu povo, o seu rebanho.” (Salmo 100.3).
Tão logo: a verdadeira vida está em reconhecer a soberania de Deus, a bondade de Deus, e em viver com o coração agradecido. Não é errado trabalhar, produzir, possuir. Mas é errado viver como se isso fosse o centro da vida. O trabalho é bom, os bens são dons, mas só têm sentido quando reconhecemos que tudo vem do Senhor.
O salmo termina com esta afirmação maravilhosa: “Pois o Senhor é bom; o seu amor dura para sempre, e a sua fidelidade não tem fim. (Salmo 100.5)”. Isso nos dá esperança: Deus é bom, mesmo quando a vida é incerta. Ele é fiel, mesmo quando os celeiros estão vazios. Sua misericórdia dura para sempre, mesmo quando os bens deste mundo perecem. Meus irmãos, hoje somos convidados a uma profunda revisão de vida. Onde temos buscado sentido? Em que temos confiado? O que temos acumulado? Para quem será o que tens preparado?
A Palavra de Deus nos chama a renunciar: a vaidade, a avareza, a idolatria das riquezas. Ela nos chama a buscar as coisas do alto, onde Cristo vive. A viver como ressuscitados, com os olhos voltados para a eternidade.
Somos chamados a ser ricos para com Deus – e isso significa viver com gratidão, generosidade, humildade, e fé. Significa usar os dons que recebemos para o bem do próximo e para a glória de Deus. Significa reconhecer que somos apenas mordomos, e que tudo pertence ao Senhor.
Que o Espírito Santo nos ajude a viver com sabedoria, a investir naquilo que tem valor eterno, e a nos alegrar não nos celeiros cheios, mas na fidelidade do nosso Deus, que é bom, misericordioso e eterno.
E quando chegar o dia em que Ele nos chamar, possamos ouvi-lo dizer: “— “Muito bem, empregado bom e fiel”, venha festejar comigo! (Mateus 25.21)” Amém.
“PARA QUEM SERÁ O QUE TENS PREPARADO?”

Pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil em Macapá – Congregação
Cristo Para Todos; também atua como Missionário em Angola e Moçambique