O português me perguntou se é mesmo verdade que ele não poderia andar com relógio no pulso, celular na mão e carteira no bolso, quando for ao Brasil em junho, rever o tio que emigrou há 15 anos. Vai desembarcar no Galeão e está com medo de balas perdidas e arrastões na Linha Vermelha. Respondi que o tio dele deve estar arrependido de deixar Portugal, onde se pode, em qualquer cidade, bebericar e conversar na mesa da calçada onde se deixa o celular e, na hora de ir embora, passar por um caixa eletrônico na rua escura, retirar umas notas de euro e ir a pé para casa, sem qualquer receio. O português me perguntou por que no Brasil não resolvem um problema tão grande de insegurança. Respondi que não querem. Ele deve estar pensado: “E são os brasileiros que fazem piada de português?”
Não contei para ele, para não dar tema para piada, que os brasileiros estão resolvendo o problema de segurança inventando nomes. O Ministério da Justiça virou Ministério da Justiça e da Segurança Pública. Um ministro do Supremo acabou de proibir que a Guarda Civil Metropolitana de São Paulo passasse a se chamar Guarda Municipal. E pretendem mudar a Constituição para fazer mudanças burocráticas nas relações entre as polícias. Parafraseando Garrincha, esquecem de avisar os bandidos. Ou parafraseando Deng: não importa o nome da polícia, desde que pegue o bandido.
Se quisessem resolver, seria apenas fazer o óbvio: prestigiar a polícia – e não o bandido. No governo anterior, o simples clima de apoio à polícia deu ânimo à ação policial e encolheu o crime. Dizer que o bandido é uma vítima da sociedade, ou que o ladrão rouba celular apenas para tomar uma cervejinha, é estimular o crime e deixar a polícia ao abandono. O resultado é mais assalto, mais homicídio, mais vigarice, mais corrupção. E agora piorou: inventaram o crime político, que ocupa a polícia e os presídios, em lugar de estarem ocupados com assaltantes. A droga corre solta e solta as amarras do crime, além de financiar a compra de armas que subjugam a população e matam policiais.
A Justiça age para restringir a ação policial e constranger aquele que se arrisca para defender vidas e bens alheios, em nome da lei. A polícia prende e a audiência de custódia solta, se não for crime político. Burocracia nenhuma vai dar segurança e prender bandido, que deve achar tolice o que especialistas em segurança que nunca trabalharam na rua põem no papel. De novo uma paráfrase, agora de Monteiro Lobato: “Ou o Brasil acaba com o bandido, ou a insegurança acaba com o Brasil. Já estamos presos nas grades, cadeados, alarmes, nossos medos. Deveríamos ter começado há 50 anos, mas deixamos o crime tomar conta até da soberania nacional. Pergunto aos brasileiros que emigraram para Portugal e aqui estão prestando serviços, porque deixaram sua pátria. Todos me respondem que cansaram de ser assaltados e perder o pouco que tinham. Vieram buscar segurança e a encontraram. No Brasil, eram condenados ao medo, e ainda ouvir do assaltante um “Perdeu, Mané!”
PERDEU, MANÉ!

Jornalista com décadas de atuação na TV e rádio, como apresentador, repórter, comentarista e diretor de jornalismo.