Antibióticos são medicamentos que combatem bactérias. Foram um dos maiores avanços da medicina e salvaram milhões de vidas desde a descoberta da penicilina, em 1928. Eles tratam infecções como pneumonia, infecção urinária, infecção de garganta e muitas outras.
Mas os antibióticos têm um ponto fraco: se usados de forma errada ou em excesso, perdem o efeito. E é aí que mora o perigo. A resistência bacteriana pode tornar inúteis medicamentos que usamos há décadas.
Imagine um futuro em que uma simples infecção de garganta ou uma cirurgia comum possa colocar sua vida em risco. Esse futuro pode estar mais próximo do que pensamos e tudo por causa da resistência aos antibióticos.
A indústria farmacêutica desacelerou esse tipo de pesquisa, e hoje produzimos menos antibióticos novos do que há 40 anos. Sendo assim, novas descobertas de antibióticos estão cada vez mais raras.
A resistência acontece quando as bactérias “aprendem” a se defender dos antibióticos. Ou seja, os remédios deixam de funcionar. As bactérias sofrem pequenas mutações que as tornam mais fortes e resistentes ao ataque dos medicamentos.
Isso pode ocorrer quando tomamos antibióticos sem necessidade (por exemplo, para gripes e resfriados, que são causados por vírus) ou ao interrompermos o tratamento antes da hora ou ainda quando usamos antibióticos por conta própria, sem receita.
Em países com acesso fácil a medicamentos sem receita, o problema tende a ser ainda maior. No Brasil, apesar das restrições atuais, muitos pacientes ainda conseguem comprar antibióticos sem prescrição.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 1,27 milhão de pessoas morreram em 2019 diretamente por infecções causadas por bactérias resistentes. Outros 4,95 milhões de mortes estiveram associadas a essas infecções no mesmo ano. Se nada for feito, até 10 milhões de pessoas por ano poderão morrer por infecções resistentes até 2050, mais do que o total de mortes por câncer hoje.
No Brasil, um levantamento da Anvisa revelou que 40% das bactérias isoladas em UTIs hospitalares são resistentes a antibióticos potentes.
Problemas frequentes
A resistência bacteriana pode afetar cirurgias dependes de antibióticos eficazes para evitar infecções. Pode afetar tratamentos de câncer (pacientes com a imunidade baixa dependem de antibióticos para sobreviver a infecções oportunistas).
Infecções comuns como infecção urinária, pneumonia ou infecção de pele podem não responder ao tratamento e se tornarem graves ou até letais. Deve-se lembrar também que crianças, idosos e pessoas com doenças crônicas são as mais vulneráveis. Elas podem desenvolver complicações sérias por infecções simples quando os antibióticos não funcionam.
A bactéria KPC
A bactéria KPC (Klebsiella pneumoniae carbapenemase) é um exemplo perigoso de resistência. Encontrada em hospitais brasileiros, ela é resistente a quase todos os antibióticos disponíveis. Pacientes infectados por KPC têm menos opções de tratamento, o que aumenta o tempo de internação, os custos do sistema de saúde e o risco de morte. Casos como esse são um alerta de que estamos entrando numa era onde até doenças simples podem se tornar complexas.
Outros exemplos incluem a bactéria MRSA (resistente à meticilina) e a Neisseria gonorrhoeae, causadora da gonorreia, que já se mostra resistente em diversas partes do mundo.
Quatro passos para prevenir resistência a antibióticos:
- Só use antibióticos com receita médica.
- Nunca interrompa o tratamento antes do tempo recomendado.
- Não guarde antibióticos “sobrando” para usar depois.
- Descarte medicamentos vencidos corretamente.
A resistência aos antibióticos avança rápido. Proteger esses medicamentos é uma missão coletiva. O que hoje é tratável pode se tornar mortal amanhã. Ter cuidado com os antibióticos hoje é cuidar da saúde de toda uma geração. Em caso de dúvidas, procure sempre um serviço de saúde para esclarecimentos e acompanhamento.